Homem-Aranha: Sem Caminho Para Casa já é um dos maiores filmes do universo cinematográfico da Marvel (MCU) e muito desse sucesso se deve a diversos personagens de filmes antigos retornando para o longa-metragem da Disney. Mas de acordo com os roteiristas de ‘Homem-Aranha’, Erik Sommers e Chris McKenna, era para ser mais. Consideravelmente mais.

Como sempre, vamos tentar manter os SPOILERS, que serão massivos aqui (e inclui também a cena pós-créditos de Venom 2), ao mínimo, considerando que o filme estreou em 22 de dezembro e muita gente ainda não o viu. Entretanto, isso será inevitável em alguns pontos, então considere-se avisado e por favor, tente não ler o que vem a seguir se você ainda é um dos que não conseguiu pegar uma sessão no cinema, ok?

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Captura de imagem mostra o Homem-Aranha dos cinemas, de uniforme, segurando a própria cabeça com as duas mãos e simbolizando estar chocado com alguma coisa
No terceiro filme do Homem-Aranha, roteiristas trouxeram inúmeros personagens das franquias anteriores do herói aracnídeo, mas a ideia original era a de ter bem mais nomes no longa (Imagem: Sony/Divulgação)

Sommers e McKenna falaram, em entrevista à Variety, que suas intenções eram bem maiores do que apenas os personagens que você vê aparecendo no filme. Eles começaram soltando uma ideia bem maluca de sugestão de cena pós-créditos. Nela, os fãs receberam o teaser de Doutor Estranho e o Multiverso da Loucura, mas os roteiristas por muito pouco não seguiram por um caminho honestamente esquisito:

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“A gente não pode fazer uma série de TV com os dois Homem-Aranha viajando por aí em uma van, resolvendo mistérios?” – disse McKenna, citando Scooby-Doo como inspiração. Nenhum dos “dois Homem-Aranha”, vale citar, é Tom Holland, que interpreta o herói no MCU.

“Estávamos muito empolgados com todas essas diferentes surpresas”, disse Sommers. “E aí, do nada, parece que as pessoas simplesmente decidiram que Tobey Maguire e Andrew Garfield estavam de volta, então começamos a pensar que talvez essas surpresas não fossem surpreender tanto assim. Isso foi meio preocupante mas, ao mesmo tempo, o nível absoluto de especulações e interesse nos deixou muito empolgados. Esse foi um ótimo combustível para continuarmos em frente para darmos aos fãs algo que fosse agradá-los muito”.

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Segundo eles, contudo, no começo das conversas com Kevin Feige, presidente da Marvel Studios, e outros diretores executivos, o conceito de “multiverso” do filme ainda não era “nem a terceira opção”: “a gente havia analisado umas duas possibilidades de enredo que não tinham nada a ver com isso, mas que meio que introduziriam o tema bem no fim”, contou McKenna. “Mas aí todo mundo pensou junto: ‘por que insinuar o multiverso se a gente pode simplesmente fazer um filme com ele?’”

A partir daí, começou uma saga de altos e baixos que viu o início da roteirização do terceiro filme, em setembro de 2019, e só acabou agora, em 2021. Sommers explica que, nas versões primárias, não apenas Maguire e Garfield estariam presentes, mas também Kirsten Dunst (que viveu Mary Jane na trilogia dirigida por Sam Raimi) e Emma Stone, junto de Sally Field (que deram vida a Gwen Stacy e a Tia May, respectivamente, nos dois filmes da era “Espetacular” dirigida por Marc Webb).

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“Na hora, pensamos: ‘vamos apenas escrever um roteiro como se ele fosse a nossa pia, e jogar tudo dentro dele e agir como se a gente tivesse conseguido tudo o que queremos’”, disse McKenna. “E assim como o desejo de Peter Parker no filme, isso se tornou um pesadelo e nós precisamos de gente muito, muito talentosa para nos ajudar a não morrer no final”.

Os dois são meio reticentes de falar muita coisa sobre essa parte pois, a Marvel sendo Marvel, é sempre possível que a empresa resolva aproveitar essas ideias de alguma outra forma, mas os roteiristas admitem que se empolgaram demais no começo do projeto: “no primeiro rascunho, a gente ficou ‘com o olho maior que a barriga’”, disse Sommers, comentando que foi cogitada até mesmo a busca por Topher Grace, o ator que viveu Venom na trilogia original. “No final, essas ideias simplesmente não encaixaram”.

Topher Grace, vestido como o vilão Venom, em "Homem-Aranha 3" de Sam Raimi
O ator Topher Grace, que viveu o vilão Venom na primeira trilogia de filmes do Homem-Aranha, quase apareceu em “Sem Volta Para Casa”, mas roteiristas acabaram desistindo da ideia (Imagem: Sony/Divulgação)

Ao invés disso, o que acabou funcionando foi usar a cena pós-créditos de Venom: Tempo de Carnificina para amarrar o personagem de Tom Hardy ao MCU. Mas aí fica a dúvida: o “Venom” de Tom Hardy nunca viu o Homem-Aranha, então como ele seria trazido para o universo da Marvel sendo que a magia do filme é pertinente apenas a quem conhece o herói aracnídeo? Sommers e McKenna tem uma explicação para isso:

“A ideia é a de que o simbionte tem conhecimento dos outros universos [devido à mentalidade de colmeia de Venom com os seus congêneres]. Em seu cérebro, está enterrado o conhecimento dessas conexões”, contou McKeena. “Desde o começo, sabíamos que o conceito de multiverso seria nostálgico para os filmes anteriores do Homem-Aranha, mas nós estávamos decididos a não deixar que fosse essa a direção da história”

“A coisa mais importante para nós era a de não permitir que isso fosse só um punhado de fan services. Não ia rolar abrir a cortina para literalmente todo mundo”, ele continuou. “A gente tinha que pensar em um jeito para que esse filme contasse a história desse Peter Parker atual [Tom Holland], de forma orgânica de onde o deixamos no filme anterior. Essa sempre foi a nossa direção. Não vamos esquecer ‘esse’ Parker, não vamos nos perder nessas ideias”.

Mesmo com os Homem-Aranha do “Raimiverso” e do “Webbverso” – como os roteiristas se referiam a Maguire e Garfield, houve um risco imenso. O roteiro vinha sendo desenvolvido como se eles estivessem no jogo, mas a presença dos atores ainda não estava assegurada. Periodicamente, McKenna e Sommers recebiam atualizações do time de negociações de elenco da Disney, o que lhes deu uma boa dose de otimismo.

“Basicamente, tudo o que ouvíamos era ‘sim, a gente ligou para eles. Eles estão a fim. Eles acham que a ideia é ótima”, disse Sommers. “E a gente reagia com um ‘sério? Isso é ótimo’, mas nada era certo”.

A entrevista toda já está no ar no site da Variety, mas pelo bem de quem ainda não viu o filme (incluindo alguns membros do próprio Olhar Digital), vamos parar por aqui.

Homem-Aranha: Sem Caminho Para Casa está em exibição nos cinemas de todo o Brasil.

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