Como se sabe, o universo é repleto de mistérios, e os cientistas se surpreendem a cada nova descoberta sobre o cosmos. Desta vez, uma equipe de pesquisadores que mapeavam ondas de rádio no espaço identificou “algo” incomum, que libera uma gigante explosão de energia a intervalos regulates e é diferente de qualquer coisa já vista antes.

Imagem meramente ilustrativa demonstrando uma fonte de energia nunca antes detectada no universo. Imagem: Artsiom P – Shutterstock

Segundo os astrônomos envolvidos na descoberta, que foi publicada na revista Nature, a causa pode ser uma estrela de nêutrons ou uma anã branca — núcleos colapsados de estrelas — com um campo magnético ultra-poderoso. 

Enquanto gira no espaço, o objeto estranho envia um feixe de radiação que cruza a linha de visão da Terra, de acordo com o estudo, por um minuto em cada 20, sendo uma das fontes de rádio mais brilhantes no céu.

Objeto está em nosso “quintal galáctico”

Natasha Hurley-Walker, do Centro Internacional de Pesquisa em Radioastronomia da Universidade de Curtin, liderou a equipe que fez a descoberta. “Este objeto estava aparecendo e desaparecendo durante algumas horas nas nossas observações”, disse ela. “Isso foi completamente inesperado. Foi meio assustador para um astrônomo porque não há nada conhecido no céu que faça isso. E é realmente muito perto de nós — cerca de 4.000 anos-luz de distância. Está em nosso quintal galáctico”.

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Segundo Natasha, o objeto foi descoberto por Tyrone O’Doherty, aluno da Universidade de Curtin, que usava o telescópio Murchison Widefield Array (MWA) no interior da Austrália Ocidental e uma nova técnica desenvolvida por ele mesmo. “É emocionante que a fonte que identifiquei no ano passado tenha se tornado um objeto tão peculiar”, disse O’Doherty, que agora faz doutorado na Curtin. “O amplo campo de visão e sensibilidade extrema da MWA são perfeitos para examinar todo o céu e detectar o inesperado”.

Quadro descreve evolução das observações. A forte cintilação ionosférica causa ondulações no brilho da fonte ao longo do tempo. Imagem: Hurley-Walker, N., Zhang, X., Bahramian.

Objetos que ligam e desligam no universo não são novidades para os astrônomos, que os chamam de transitórios. A astrofísica Gemma Anderson, coautora do estudo e professora em Curtin, disse que, “ao estudar transitórios, você está assistindo à morte de uma estrela massiva ou à atividade dos remanescentes que ela deixa para trás”.

Transitórios lentos como as supernovas podem aparecer ao longo de alguns dias e desaparecer após alguns meses. Já os transitórios rápidos, como um tipo de estrela de nêutrons chamada pulsar, piscam com uma frequência de milissegundos ou segundos. 

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Astrônomos estão monitorando o objeto

Segundo Gemma, o objeto misterioso era “incrivelmente brilhante” e menor que o Sol, emitindo ondas de rádio altamente polarizadas — o que sugeria que o objeto tinha um campo magnético extremamente forte.

Para Natasha, as observações correspondem a um objeto previsto pelos astrofísicos chamado magnetar de período ultra-longo. “É um tipo de estrela de nêutrons lentamente girando que foi prevista para existir teoricamente”, disse ela. “Mas ninguém esperava detectar diretamente uma como esta porque não esperávamos que elas fossem tão brilhantes. De alguma forma, está convertendo energia magnética em ondas de rádio de modo muito mais eficaz do que qualquer coisa que já vimos antes”.

Ela está monitorando o objeto com a MWA para ver se ele “liga” novamente. “Se isso acontecer, há telescópios em todo o Hemisfério Sul e até mesmo em órbita que podem apontar diretamente para ele”, revelou, acrescentando que planeja procurar mais desses objetos incomuns nos vastos arquivos da MWA. “Mais detecções dirão aos astrônomos se este foi um evento único raro ou uma vasta nova população que nunca tínhamos notado antes”, disse a pesquisadora.

De acordo com o diretor da equipe MWA, professor Steven Tingay, o telescópio é um instrumento precursor do Square Kilometre Array (SKA) — uma iniciativa global para construir os maiores radiotelescópios do mundo na Austrália Ocidental e África do Sul. “A chave para encontrar esse objeto, e estudar suas propriedades detalhadas, é o fato de termos sido capazes de coletar e armazenar todos os dados que o MWA produziu durante quase a última década no Centro de Supercomputação de Pesquisa Pawsey. Ser capaz de olhar para trás através de um conjunto de dados tão massivo quando você encontra um objeto é bastante único na astronomia”, disse ele. “Há, sem dúvida, muitas outras pedras preciosas a serem descobertas pelo MWA e pelo SKA nos próximos anos”.

O MWA fica no Observatório de Radioastronomia Murchison, na Austrália Ocidental, que é gerenciado pela CSIRO, a Agência Nacional de Ciência da Austrália, e foi criado com o apoio do governo do país. 

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