Um estudo que envolveu pelo menos duas universidades e um instituto de pesquisa astronômica independente concluiu que a atmosfera do exoplaneta WASP-189b é, em alguns (poucos) aspectos, similar à da Terra, inclusive sendo dividida em camadas distintas.

O exoplaneta mencionado fica a 322 anos-luz de distância da Terra, fora do nosso sistema solar. Ele já é relativamente famoso por ser um dos ambientes mais extremos que já descobrimos: durante o dia, sua temperatura é de aproximadamente 3.200 ºC (Celsius) e seu “ano” dura cerca de três dias terrenos, devido ao fato dele estar 20 vezes mais próximo de sua estrela do que nós do Sol. Em termos técnicos, ele é classificado como “Júpiter Quente”, por ter um tamanho descomunal, como o maior planeta do sistema solar, e ser feito de gás.

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Ilustração do WASP-189b mostra que o exoplaneta a mais de 300 anos-luz da Terra está muito perto de sua estrela, gerando temperaturas escaldantes, acima de 3.000 ºC
Ilustração do WASP-189b mostra que o exoplaneta a mais de 300 anos-luz da Terra está muito perto de sua estrela, gerando temperaturas escaldantes, acima de 3.000 ºC. Imagem: ESA/Reprodução

Usando informações novas, coletadas pelo HARPS (High Accuracy Radial Velocity Planet Searcher), cientistas das universidades de Bern e de Genebra (Suíça), bem como membros do Centro Nacional de Competência em Pesquisa (NCCR) e da Universidade de Lund (Suécia), conseguiram estabelecer alguns detalhes interessantes sobre o exoplaneta tão distante da Terra.

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“Nós medimos a luz vinda da estrela deste planeta conforme ela passava por sua atmosfera. Os gases dessa atmosfera absorvem parte da luz estelar, de forma parecida com o que faz a camada de ozônio com a luz do Sol, o que deixa uma ‘impressão digital’ característica”, disse Bibiana Prinoth, autora primária do estudo e estudante de doutorado em Lund. “Com a ajuda do HARPS, fomos capazes de identificar substâncias correspondentes”, ela continua, citando elementos como ferro, cromo, vanádio, magnésio e manganês.

Uma substância específica, no entanto, chamou mais atenção: óxido de titânio. O gás, baseado em um metal de transição leve, é relativamente raro de se ver na Terra, mas parece ser abundante na atmosfera do WASP-189b. E assim como o ozônio, ele também traz propriedades similares.

“O óxido de titânio absorve radiação de ondas curtas, como os raios ultravioleta. O fato de o termos detectado sugere a existência de uma camada atmosférica em WASP-189b que interaja com a luz estelar de forma parecida com o que faz o ozônio em relação à Terra”, disse o co-autor Kevin Heng, professor de Astrofísica em Bern e membro do NCCR.

A menção comparativa à Terra não vem à toa: ao contrário do que possa parecer, a nossa atmosfera não é um objeto uniforme e tem várias camadas – cada uma com sua propriedade. A troposfera, por exemplo, é a camada mais baixa, que contempla o nível do mar até o mais alto pico – é nela que está concentrada a maior parte de vapor d’água e, por isso, a maioria dos fenômenos climáticos ocorrem nela. Acima dela, temos a estratosfera, onde está a famosa camada de ozônio.

“Em nossa análise, percebemos que essas ‘impressões digitais’ dos diferentes gases estavam levemente alteradas, comparado ao que esperávamos delas. Acreditamos que ventos muito fortes e outros processos naturais tenham causado isso”, explicou Prinoth. “E por causa dessas alterações em diferentes gases, achamos que isso seria um indício da existência de diferentes camadas — similarmente às impressões de vapor d’água e ozônio da Terra ficariam alteradas à distância”.

Na prática, isso pode mudar a forma como estudamos a atmosfera de outros planetas. Antigamente, astrônomos enxergavam as atmosferas como objetos uniformes, e as investigavam partindo deste princípio. Entretanto, pesquisas futuras revelaram que atmosferas possuem várias camadas, abrindo caminho para modelos de pesquisa em duas, talvez até três dimensões.

“Estamos convencidos de que, para podermos compreender totalmente um exoplaneta — incluindo aqueles mais parecidos com a Terra, precisamos contemplar a natureza tridimensional de suas atmosferas. Isso requer inovações em técnicas de análise de dados, modelagem computadorizada e teorias fundamentais atmosféricas”, disse Kevin Heng.

O estudo completo pode ser visto na revista científica Nature.

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