Foi em 2018 que descobrimos a primeira das galáxias sem nenhuma ou com pouquíssima matéria escura, algo que não era esperado. Depois veio a segunda. Isso acabou virando um problema para a comunidade científica, que não conseguia encontrar um motivo para as galáxias deste tipo existirem. Até agora.

“Matéria escura” é um material que não interage com nenhum outro tipo de matéria – nem com ela mesma. Sabemos que ela corresponde a mais ou menos 25% do universo conhecido, mas a sua observação é extremamente complicada, pois, fazendo jus ao seu nome, a matéria escura não interage com a luz. E sem luz, a observação direta torna-se impossível: nós só conseguimos percebê-la pelo efeito que ela tem nos corpos celestes à sua volta, como a atração gravitacional.

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Segundo um time internacional de pesquisadores liderados por Jorge Moreno, do Departamento de Física e Astronomia das universidades de Califórnia-Irvine e Pomona, essa descoberta veio quase que por acidente. Os cientistas estavam estabelecendo um modelo computadorizado de formação de galáxias enquanto procuravam por outra coisa, quando notaram que algumas galáxias em seu modelo “nasceram” sem matéria escura.

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Novo estudo descobriu o motivo que faz com que algumas galáxias fiquem sem matéria escura, abrindo caminho para a possibilidade de que mais objetos do tipo existam no universo
Novo estudo descobriu o motivo que faz com que algumas galáxias fiquem sem matéria escura, abrindo caminho para a possibilidade de que mais objetos do tipo existam no universo. Imagem: Valery Brozhinsky/Shutterstock

O modelo foi construído por meio de um software chamado “FIRE-2” (sigla em inglês para “Feedback de Ambientes Realistas”). Durante um processo aleatório de evolução galáctica, sete galáxias apareceram quase que completamente sem matéria escura. “Nós ressaltamos que, a priori, não esperávamos que isso ocorresse”, diz trecho do paper sobre o assunto.

Traduzindo: a simulação rodada foi desenvolvida para outra coisa, mas acabou caindo nisso.

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O software usado, felizmente, gravou as informações de formação galáctica em vários momentos, então os cientistas precisaram apenas refazer os passos das sete galáxias sem matéria escura para identificar a diferença. E, ao menos no começo, não havia nenhuma: todas elas começaram como qualquer outra típica galáxia que você encontra no universo.

O que ocorreu, no entanto, foi que essas galáxias tentaram, em algum momento, se fundir a uma galáxia maior que elas – a fusão acabou não dando certo, resultando na perda de matéria escura por parte dos objetos menores. Em termos práticos, se fôssemos produzir uma imagem desse processo, a visão seria como se a galáxia menor fosse engolida pela maior mas, de alguma forma, escapasse do outro lado – mas sem matéria escura e praticamente sem gás.

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O estudo parece ser sólido o suficiente em seus dados e já rendeu um paper revisado pelos pares na Nature Astronomy. Se ele puder ser replicado em várias outras escalas, então é possível especular que existam inúmeras outras galáxias sem matéria escura por aí, além das duas que já identificamos.

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