Cerca de 9 mil quilômetros separam o Brasil do conflito entre Ucrânia e Rússia. Mas, o embate bélico entre os países europeus também traz movimentação na economia do país. Na verdade, na economia global, além, claro, do prejuízo humano causado pela guerra.

No começo desta quinta-feira (24), no horário de Moscou, o presidente russo Vladmir Putin autorizou a invasão ao país vizinho. Assim, o dia começou com diversas alterações nas bolsas de valores de diversos lugares e também com a queda na cotação de criptomoedas.

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O Brasil também é afetado justamente porque a cadeia mundial hoje em dia é interligada. Como já aconteceu recentemente por causa da pandemia da Covid-19, explicou Fernando Bueno, da área internacional da Blue 3, em entrevista ao Olhar Digital.

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O especialista explicou que um evento que acontece em uma parte atinge toda a cadeia de suprimentos organizada, dificultando ainda o controle da inflação pelos bancos centrais dos países. Segundo ele, a Rússia é bastante parecida com o Brasil por exportar, basicamente, commodities, os produtos básicos não industrializados.

“O movimento de queda do dólar no começo do ano está ligado ao fluxo de capital estrangeiro que veio para o Brasil, com o investidor olhando o mundo com a tensão quando ainda não era uma guerra declarada. Ele via os riscos do cenário internacional, a economia do Brasil com uma taxa básica de juros altas e um risco país controlado, em termos de cenário de possível guerra, o investidor estrangeiro viu uma boa oportunidade. Isso se chama alocação tática”, disse Bueno.

Mas, nesta quinta, já se viu um aumento do dólar. “Com o conflito estourando de fato, vemos um movimento de proteção, por isso hoje essa curva se inverteu. Mesmo que a guerra envolva os Estados Unidos, continua sendo a moeda mais segura do mundo”, emendou.

commodities
A guerra deve afetar os preços de commodities. Imagem: tcly/Shutterstock

Outro detalhe para a economia brasileira é como os movimentos de tensões podem dar força ao câmbio após o momento de arrefecimento, com a entrada desse capital estrangeiro. “Um maior desarranjo da cadeia de suprimentos afeta o Brasil. Primeiro impacto no combustível com o aumento no barril de petróleo”, explicou Victor Licariao, sócio e líder de Produtos e Alocação – Renda Varíavel da Blue3, também em entrevista ao Olhar Digital.

E não adianta pensar que isso não afeta quem não tem carro. Afinal, commodities como sola, milho trigo e até a cevada devem ser afetadas. Sim, a cerveja pode ter um maior custo de produção e subir de preço por causa da guerra entre Rússia e Ucrânia, já que a região do Mar Nero é de onde saem as matérias primas.

“A empresa vai comprar trigo mais caro em dólar, sendo que também a paridade cambial vai estar alta. É diferente de comprar uma tonelada de trigo, por exemplo, a US$ 1 mil e comprar com o dólar a R$ 4,50 ou a R$ 5. vai sofrer pelas duas pontas. Commodities tendem a subir no mundo”, destacou.

Os agricultores também vão sofrer. E, consequentemente, o valor da feira vai aumentar. “A Rússia é um grande produtor de fertilizantes, assim os preços para o nosso agricultor vai aumentar e consequentemente repassando preços para o consumidor ponta final”, completou Licariao.

O quanto, porém, vai ser ainda é difícil precisar. Isso porque a guerra entre Rússia e Ucrânia apenas começou hoje. Tudo vai ser definido pelo tamanho do conflito, se será curto ou mais extenso. “Tem uma potência envolvida, e a Ucrânia é muito menor que a Rússia. É diferente, por exemplo, de conflitos no Oriente Médio. O mercado vai demorar a entender se é mais rápido ou demorado”, concluiu Fernando Bueno.

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