Em relatório, ONU diz que não vamos evitar os piores efeitos do aquecimento global

Nova análise do IPCC, ligado à organização global, diz que quase metade da humanidade já vive dentro da zona de perigo climática
Por Rafael Arbulu, editado por Rafael Rigues 28/02/2022 15h31, atualizada em 01/03/2022 15h05
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Imagem: Vadim Sadovski/Shutterstock
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Como se uma guerra envolvendo vários países já não fosse o suficiente, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), ligado à Organização das Nações Unidas (ONU), publicou um novo relatório — nada animador — sobre o aquecimento global.

Basicamente, quase 50% da humanidade já vive na chamada “zona de perigo climática”, nome atribuído às regiões e países que estão em risco de vivenciar o pior dos nocivos efeitos climáticos. Mais além, o parecer da ONU é o de que não vamos conseguir evitar a chegada desses efeitos.

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Isso, aliás, não é a imprensa atribuindo um tom alarmista a um relatório técnico. A preocupação vem da própria ONU: “eu já li muitos relatórios científicos, mas nada desse jeito”, disse o secretário-geral da organização para assuntos climáticos, António Guterres, em um vídeo de divulgação. “O relatório divulgado hoje [28] é um atlas do sofrimento humano, e uma condenação notória da falha da liderança climática, além de revelar como as pessoas e o planeta estão levando uma surra do aquecimento global”.

O cenário apresentado no relatório menciona todos os fatores negativos que já mencionamos aqui por outras ocasiões: a morte em massa de várias espécies de plantas (incluindo algumas ainda não descobertas) e animais, sistemas de alimentação e irrigação entrando em colapso, e a inversão de pontos carboníferos da Terra que, hoje, absorvem dióxido de carbono (CO2), mas tão logo deverão passar a emitir o gás.

O CO2 é um dos principais gases que compõem o efeito estufa — um dos principais fatores de aquecimento da temperatura média da Terra. A grosso modo, nosso planeta já está perto de ficar 1,5º C (Celsius) mais quente do que nos níveis pré-Revolução Industrial.

Isso é uma péssima notícia para as geleiras e regiões polares: o derretimento incessante do gelo levará ao aumento do nível do mar, que por sua vez pode inundar regiões litorâneas, além de causar a seca nas áreas mais centrais. Mais seca pode levar a mais incêndios florestais espontâneos, o que expele mais CO2 na atmosfera, prendendo mais gás na Terra, aquecendo-a mais… um ciclo constante de perdas em virtude do clima.

O relatório diz, em termos bem exatos, que nós já passamos do ponto de reverter o golpe, e que agora é muito mais uma questão de nos prepararmos para lidar com o impacto inevitável dele.

“Se as regiões não se prepararem, então pessoas vão morrer desnecessariamente”, disse Kristie Ebi, epidemiologista da Universidade de Washington e co-autora do levantamento, em uma coletiva de imprensa gravada nos EUA.

https://youtu.be/JpK7eeYRhjQ

Em meio à crise geopolítica causada pelo conflito entre Rússia e Ucrânia, assuntos como esse podem acabar passando despercebidos — especialmente considerando que não é a primeira vez que o IPCC e a ONU dão esse tipo de alerta sobre o aquecimento global.

No entanto, há que se reconhecer: é a primeira vez que o órgão estabelece um cenário tão afirmativamente desfavorável, onde praticamente admite a derrota dos esforços de contenção climática.

O relatório completo pode ser visto na íntegra no site do próprio IPCC.

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Jornalista formado pela Universidade Paulista, Rafael é especializado em tecnologia, cultura pop, além de cobrir a editoria de Ciências e Espaço no Olhar Digital. Em experiências passadas, começou como repórter e editor de games em diversas publicações do meio, e também já cobriu agenda de cidades, cotidiano e esportes.

Redator(a)

Rafael Rigues é redator(a) no Olhar Digital