Crise na NASA põe em risco programa lunar e agência culpa a Boeing

Apesar de todo o interesse no Programa Artemis, retorno do homem à Lua está muito atrasado e com orçamento estourado
Por Rafael Arbulu, editado por Acsa Gomes 02/03/2022 10h39, atualizada em 04/03/2022 14h13
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Em uma atualização de status entregue na última terça-feira (1), o inspetor geral da NASA, Paul Martin, não economizou críticas à agência e a seus parceiros comerciais em relação ao desenvolvimento do programa lunar Artemis, que ambiciona levar o homem de volta à Lua — um feito que não realizamos desde a década de 1970.

De acordo com a atualização, o programa inteiro está não só amplamente atrasado, mas também seu orçamento bilionário já foi bastante ultrapassado. Segundo Martin, boa parte dessa culpa recai sobre a Boeing.

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Ilustração do foguete SLS, que será usado pela NASA para lançar as missões do programa lunar Artemis
O SLS será o sistema de lançamento das cápsula da NASA em direção à Lua, mas seu desenvolvimento está não apenas atrasado, como também já estorou muito do seu orçamento bilionário (Imagem; NASA/Divulgação)

Explicando: a Boeing e a Lockheed Martin foram contratadas pela NASA para desenvolver duas partes importantes do programa lunar Artemis — o foguete SLS (Space Launch System) e a cápsula Orion. Embora esse plano permaneça sem alteração, Martin entende que as empresas não estão se dedicando como deveriam.

“Um dos problemas que vimos no desenvolvimento do SLS e da Orion — claro, é um desenvolvimento desafiador, sem sombra de dúvidas — foi um desempenho ruim por parte da Boeing”, disse o inspetor geral.

Entretanto, Martin entende que esses problemas começaram internamente, afirmando que o “planejamento e execução ruins” fizeram com que tudo — desde a primeira licitação do programa — funcionassem em vantagem das empresas contratadas, ao invés de a favor da NASA.

“[Por isso] o desenvolvimento do SLS já custa bilhões a mais do que o orçamento e está anos atrasado em seu cronograma”, disse o executivo.

Segundo uma atualização da própria NASA, publicada em seu blog em 2020, foguete SLS já tem custo de US$ 9,1 bilhões (R$ 46,96 bilhões). Mas isso é apenas para a parte técnica. Segundo Martin, quando tudo estiver pronto, cada voo em direção à Lua custará US$ 4,1 bilhões (R$ 21,16 bilhões). Leve isso em consideração quando lembrar que, antes da primeira missão tripulada (que, a NASA admite, pode ficar para 2026), teremos pelo menos duas missões sem astronautas, para mostrar a confiabilidade e funcionamento do SLS.

A NASA, no entanto, conta com algumas salvaguardas para seu programa lunar: a mais evidente é a contratação da SpaceX. A empresa de Elon Musk vem há anos desenvolvendo a espaçonave Starship, e a agência espacial norte-americana a contratou como uma espécie de “backup”.

A vantagem dessa abordagem é a de que a Starship deve passar pelo seu primeiro teste completo entre abril e maio de 2022 e, segundo Musk, cada lançamento dela custará uma fração dos preços estipulados pela NASA para o SLS.

Tudo vai depender do quão bem a NASA vai conseguir “vender seu peixe” no Congresso dos Estados Unidos. A classe política do país já está com olhos críticos para o projeto e, eventualmente, a agência precisará pedir pela aprovação de mais dinheiro público para o programa. Não exatamente a mais fácil das tarefas.

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Jornalista formado pela Universidade Paulista, Rafael é especializado em tecnologia, cultura pop, além de cobrir a editoria de Ciências e Espaço no Olhar Digital. Em experiências passadas, começou como repórter e editor de games em diversas publicações do meio, e também já cobriu agenda de cidades, cotidiano e esportes.

Acsa Gomes
Redator(a)

Acsa Gomes é formada em Comunicação Social com ênfase em Jornalismo pela FAPCOM. Chegou ao Olhar Digital em 2020, como estagiária. Atualmente, faz parte do setor de Mídias Sociais.