Nova espécie de crocodilo foi extinta pela mão humana há 200 anos

Descoberta de cientistas americanos indica que espécie até então desconhecida passava de 6 metros e não sobreviveu à Idade do Bronze
Por Rafael Arbulu, editado por André Lucena 10/03/2022 12h29, atualizada em 10/03/2022 12h43
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Uma nova espécie de crocodilo foi descoberta por cientistas norte-americanos, que apontam que ela foi caçada até a extinção pela raça humana há cerca de 200 anos. De acordo com os estudiosos, a caça excessiva ao réptil se dava por constantes conflitos com assentamentos na Idade do Bronze na China.

O estudo que detalha as descobertas feitas pelo time de pesquisadores da Universidade Clemson, da Carolina do Sul, EUA, indica que a espécie era parente próxima dos gavialídeos (gavialidae), um dos três grandes grupos de répteis crocodilianos – os outros dois sendo os aligatores (onde entra o jacaré comum) e o convenientemente nomeado “crocodilo”.

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Imagem do Hanyusuchus sinensis, nova espécie de crocodilo que foi extinta pela ação humana há séculos
O crocodilo descoberto na China foi extinto por ação humana há 200 anos, e possivelmente era endêmico da nação asiática durante a expansão da Idade do Bronze (Imagem: Ijima et al./Clemson University/Reprodução)

A descoberta da nova espécie, nomeada Hanyusuchus sinensis, foi feita através do estudo de um crânio fossilizado, encontrado na China. O fóssil tinha pelo menos uma dúzia de marcas de golpes com armas cortantes – provavelmente machados ou outra lâmina pesada – “provavelmente no intuito de matar esse indivíduo”, disse ao Newsweek Masaya Ijima, autor do estudo e pesquisador do Departamento de Ciências Biológicas da Clemson.

Segundo o estudioso, a espécie viveu bem inserida na Idade do Bronze chinesa, que começou em 1700 a.C (antes de Cristo). A época representa um momento de grande expansão da nação asiática pela busca de minérios de metal para a criação de armas e outros objetos – machados de bronze, em especial, eram símbolo de status. Nessa expansão, o encontro de minas e fontes de minério comumente vinham acompanhados de conflitos com a fauna local – o que inclui o H. sinensis.

O fóssil em questão tinha marcas de golpes na linha do pescoço, mas não se soube dizer se ele foi efetivo em decapitar o animal. De acordo com registros históricos, animais que causavam problemas a assentamentos na época eram capturados e executados publicamente – há casos onde crocodilos “roubavam” crianças e as devoravam, por exemplo.

Foto de um gavial, um crocodilo de focinho longo, mais acostumado a comer peixes
O gavial contemporâneo é provavelmente o “primo” mais próximo da espécie descoberta na China. Esse réptil é bastante adaptado ao ambiente aquático e, por isso, tem uma dieta majoritariamente feira de peixes (Imagem: Spanker.cz/Shutterstock)

Além da busca por bronze, outras ações humanas acabaram reduzindo o habitat dos animais, como a expansão agrícola e a criação de novos distritos residenciais – todos estes, fatores que contribuíram para a sua extinção.

O H. sinensis entra na categoria dos crocodilianos gavialídeos, cuja principal característica é o focinho bastante alongado e fino. O gavial contemporâneo é provavelmente o mais parecido exemplo que temos hoje em relação ao fóssil antigo. A espécie é possivelmente a mais aquática dos três grandes grupos e não consegue andar em postura semi ereta – crocodilos e jacarés comuns tiram o peito do chão quando caminham; o gavial se arrasta. Em compensação, eles são os mais capacitados para navegação rápida a nado.

De acordo com Ijima, o H. sinensis pode ser um elo perdido na pesquisa pela evolução dos répteis crocodilianos, e nos ajuda a estabelecer um ponto cego na longa linhagem de répteis pré-históricos.

O estudo completo da nova espécie foi publicado no jornal científico Proceedings of the Royal Society.

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Jornalista formado pela Universidade Paulista, Rafael é especializado em tecnologia, cultura pop, além de cobrir a editoria de Ciências e Espaço no Olhar Digital. Em experiências passadas, começou como repórter e editor de games em diversas publicações do meio, e também já cobriu agenda de cidades, cotidiano e esportes.

André Lucena
Ex-editor(a)

Pai de três filhos, André Lucena é o Editor-Chefe do Olhar Digital. Formado em Jornalismo e Pós-Graduado em Jornalismo Esportivo e Negócios do Esporte, ele adora jogar futebol nas horas vagas.