Em média, o aparecimento de manchas solares ocorrem em ciclos de 11 anos, mas o nosso Sol enfrentou um “hiato” de baixa atividade de 70 anos sem elas, em um período incomum de sua história. Agora, uma estrela próxima (de 58 estudadas) de nós está passando pelo mesmo hiato, dando a especialistas a oportunidade de estudá-la e, quem sabe, determinar os motivos que levaram ao silêncio de sete décadas do nosso próprio astro.

As manchas estelares – e as solares, aliás – são marcas escuras que aparecem na superfície de estrelas devido à súbita queda de temperatura na área afetada, resultantes do processo que cria o seu campo eletromagnético (chamado “dínamo”). No caso do Sol, astrônomos vêm estudando a frequência da ocorrência desses eventos desde os anos 1600, quando foram observados pela primeira vez pelo matemático e filósofo Galileu Galilei.

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Exemplo de manchas solares na superfície do Sol: evento tende a ser cíclico, mas período de baixa atividade ocorrido há séculos ainda intriga cientistas
Exemplo de manchas solares na superfície do Sol: evento tende a ser cíclico, mas período de baixa atividade ocorrido há séculos ainda intriga cientistas (Imagem: DeepSkyTX/Shutterstock)

Por estarmos estudando o assunto há tanto tempo, temos uma certeza bem consistente desse período de 11 anos, com exceção do chamado “Mínimo de Maunder”, no início dos anos 1700, onde 70 anos sem manchas solares vêm deixando especialistas sem rumo – a gente não tem a menor ideia do que levou a isso, basicamente. E isso não somos nós falando, mas os próprios astrônomos:

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“Nós não sabemos de fato o que causou o Mínimo de Maunder, e temos observado outras estrelas parecidas com o Sol para ver se elas oferecem alguma ideia”, disse Anna Baum, estudante de graduação da Universidade Penn State e autora primária de um novo estudo no tópico. “Conseguimos identificar uma estrela que, acreditamos, entrou em um estado similar ao do Mínimo de Maunder. Será bem empolgante continuar a olhar para essa estrela durante e, com sorte, quando ela sair desse período, pois isso pode ser extremamente informativo sobre a atividade do Sol há 300 anos”.

Analisando dados de seis décadas de manchas estelares em 59 estrelas, Baum e sua equipe compilaram uma base de dados de corpos que apareceram simultaneamente em várias de suas fontes, além de desempenhar esforços para padronizar medidas de diferentes telescópios para compará-los diretamente e evitar erros de cálculo.

A conclusão: 29 das 59 estrelas analisadas têm ciclos observáveis de manchas, todas durando mais de uma década. Outras não entraram nesse rol simplesmente por estarem girando devagar demais para terem um dínamo ou estarem essencialmente “mortas”, se aproximando do fim de suas vidas.

“Essa série continuada, de mais de 50 anos, nos permite ver coisas que jamais teríamos percebido dentro dos intervalos de 10 anos que estávamos observando antes”, disse Jason Wright, professor de Astronomia e Astrofísica da faculdade e co-autor do estudo. “De forma bem interessante, Anna encontrou uma estrela promissora que vinha exibindo ciclos há décadas, mas aparentemente parou”.

A estrela em questão se chama “HD 166620” e o time estima um ciclo de manchas estelares médio de 17 anos, mas que agora parece ter entrado em baixa atividade, sem exibir nenhuma mancha desde 2003. Inicialmente, Anna e equipe pensaram se tratar de um erro de cálculo, como um erro de digitação de uma das fontes usadas na investigação. Depois de verificar e confirmar tudo, porém, houve a constatação de que a linha do tempo desses eventos era consistente, tornando este astro um objeto ideal para a pesquisa.

A ideia agora é continuar observando a HD 166620 a fim de determinar a origem desses hiatos e, com sorte, saber se as conclusões poderão ser aplicadas às manchas solares da nossa própria estrela.

O paper completo pode ser acessado no Astronomical Journal.

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