Em uma atividade extraveicular (EVA) na Estação Espacial Internacional (ISS), ocorrida em 23 de março, o astronauta da Agência Espacial Europeia (ESA) Matthias Maurer foi surpreendido por um vazamento de água dentro de seu capacete. Para investigar as causas do incidente, a NASA anunciou que todas as caminhadas espaciais que não forem urgentes estão temporariamente suspensas.

O astronauta Matthias Maurer, da Agência Espacial Europeia (ESA), visto da câmera do capacete do astronauta da NASA Raja Chari, em uma caminhada espacial feita em 23 de março de 2022. Nesse dia, um vazamento de água foi percebido em seu próprio capacete. Imagem: NASA TV

Durante uma coletiva de imprensa concedida nesta terça-feira (17), a agência espacial norte-americana informou que vai realizar uma inspeção minuciosa nos trajes espaciais da Unidade de Mobilidade Extraveicular (UEM), que são as roupas e acessórios usados durante as funções executadas do lado de fora da ISS.

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Ocorre que o capacete usado por Maurer só retorna à Terra em julho, sendo assim, caminhadas espaciais que não forem de máxima urgência (para reparos emergenciais no laboratório orbital, por exemplo) levarão vários meses para serem retomadas.

Maurer relatou cerca de 20 a 25 centímetros de água em uma camada muito fina do capacete, cobrindo a superfície interna do acessório. “O traje às vezes gera um pouco de água, mas isso foi um pouco além do que nossa experiência normal enfrenta”, disse Dana Weigel, vice-gerente do programa da ISS no Centro Espacial Johnson, da NASA. “Foi especificamente a quantidade de água que chamou nossa atenção”.

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Segundo ela, a agência vai analisar as amostras de água e os filtros do traje espacial como parte da investigação em curso. “Estamos procurando sinais óbvios de contaminação, sujeira ou qualquer outra coisa”.

Incidente grave de vazamento de água suspendeu as EVAs em 2013

Esta é a segunda vez que caminhadas espaciais são suspensas devido a um vazamento inesperado de água. Em julho de 2013, no entanto, a situação foi muito mais grave.

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Na ocasião, o rosto do astronauta da ESA Luca Parmitano ficou quase completamente imerso na água que se avolumou no interior de seu capacete. Cerca de uma hora depois de iniciar os trabalhos em uma caminhada espacial com Chris Cassidy, da NASA, ele relatou ao controle da missão o que estava acontecendo, e a atividade foi interrompida. Parmitano saiu em segurança do incidente e sem ferimentos.

Luca Parmitano, astronauta da ESA, durante uma caminhada espacial na ISS em 16 de julho de 2013, que foi interrompida quando ele relatou água dentro de seu capacete. Imagem: NASA

Em razão disso, a NASA suspendeu todas as caminhadas espaciais na época em meio a uma investigação, que culminou em um relatório concluído nove meses depois, que listou vários fatores que poderiam ser alterados para evitar problemas futuros. 

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O relatório identificou a causa técnica como “materiais inorgânicos causando bloqueio dos orifícios de tambores” em um separador de água da UEM. Isso, por sua vez, fez com que a água transbordasse por uma cânula de ventilação.

“Uma instalação de filtragem de água no Johnson [Centro Espacial] não havia sido gerenciada para sílica”, dizia um documento redigido pelo Escritório do Inspetor-Geral (OIG) da NASA, em abril de 2017. “Como resultado, a água carregada de sílica foi usada no processamento de filtros de hardware de voo, que mais tarde foram usados em quatro trajes espaciais em órbita”.

A agência abordou a situação da sílica e também criou backups para astronautas em caso de vazamentos. A partir de 2014, os astronautas usaram uma “almofada de absorção” na parte de trás do capacete para “sugar” o excesso de água. Além disso, um tubo de respiração foi inserido no capacete para o caso da água cobrir o rosto do astronauta.

Desde que essas medidas foram implantadas, o vazamento de água que chamou maior atenção foi o recente incidente com Maurer.

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NASA envia almofadas adicionais para eventuais caminhadas espaciais urgentes

“Temos um tipo muito fino de almofadas absortivas que podemos colocar no interior do capacete”, disse Weigel. “Um deles está na parte de trás do fone de ouvido da tripulação, e o outro é uma espécie de banda que sobe sobre a cabeça. É como uma bandana, mas estaria presa à camada interna da bolha do capacete. E isso ofereceria alguma atenuação”.

Algumas dessas almofadas adicionais mencionadas por Weigel foram levadas à ISS a bordo da missão Crew-4, da SpaceX, e outras 16 serão enviadas nesta quinta-feira (19) pela espaçonave Starliner, da Boeing.

Weigel enfatizou que essas almofadas extras representam um plano de contingência no caso de os astronautas precisarem reparar algo no espaço antes que a investigação seja concluída.

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