Cientistas garantem que, até o fim deste século, erupções vulcânicas em larga escala serão mais comuns do que imaginamos. E, de acordo com um estudo desenvolvido pelo professor de vulcanologia Michael Cassidy, do Centro de Estudos do Risco Existencial da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, e da pesquisadora associada Lara Mani, a humanidade não está preparada para isso.

VULCÃO ISLÂNDIA
Vulcão Fagradalsfjall, na Islândia, que entrou em erupção no mês passado, com magnitude de 5,4 na escala IEV. Imagem: reprodução/YouTube mbl.is

Embora eles não chamem tanta atenção popular quanto os asteroides, por exemplo, os vulcões devem ser motivo de grande preocupação para os habitantes da Terra, por dois motivos principais.

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Primeiro, porque não são uma ameaça externa – eles já estão por aqui, prontos para explodir a qualquer momento. E, em segundo lugar, porque eles estão espalhados por todo o globo, muitas vezes, camuflados por belas paisagens que escondem um potencial letal.

Pelo Índice de Explosividade Vulcânica (IEV), a classificação máxima de magnitude de uma erupção é 8. Em 1815, o Monte Tambora, na Indonésia, experimentou uma erupção de magnitude 7, matando cerca de 100 mil pessoas. Por aí, já dá para ter uma noção do estrago que uma erupção de grau 8 pode causar.

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Semelhantemente ao que ocorre com a escala Richter na sismologia, cada unidade do IEV corresponde a um processo que aumenta em escala exponencial de 10, sendo considerados o volume de material piroclástico ejetado, altura da coluna de erupção, duração em horas e elementos de apreciação qualitativa.

Em um artigo publicado na revista Nature, os pesquisadores relatam que os intervalos entre erupções cataclísmicas são centenas ou talvez milhares de anos mais curtos do que se pensava até então.

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Eles dizem que há um “amplo equívoco” de que os riscos de grandes erupções são baixos, e classificam como “imprudente” a atual falta de investimentos governamentais no monitoramento e resposta a potenciais desastres vulcânicos.

Embora o monitoramento de vulcões e nossa capacidade de mobilizar ajuda internacional para o alívio de desastres tenham avançado desde o episódio do Monte Tambora, não é  suficiente para evitar uma “supererupção” ou permitir que a população escape ilesa. 

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Erupção do vulcão Hunga Tonga-Hunga Ha’apai, em janeiro de 2022, lançou cinzas que atingiram a estratosfera da Terra. A intensidade da explosão variou entre 5 e 6 na escala IEV. Imagem: Tonga Geological Services

“O mundo está despreparado para tal evento”, dizem os pesquisadores. “A erupção de Tonga deve ser um alerta. Dados recentes de núcleos de gelo sugerem que a probabilidade de uma erupção com magnitude de 7 (10 ou 100 vezes mais intensa do que Tonga) ou maior, neste século, é de 16%. Erupções deste tamanho causaram, no passado, mudanças climáticas abruptas e o colapso das civilizações, e foram associadas ao aumento das pandemias”.

Eles lamentam que, ainda assim, pouco investimento foi feito para abrandar o que uma erupção dessa magnitude poderia causar. “Os impactos seriam em cascata entre transporte, comida, água, comércio, energia, finanças e comunicação em nosso mundo globalmente conectado”.

“Ao longo do próximo século, erupções vulcânicas em larga escala são centenas de vezes mais propensas a ocorrer do que os impactos de asteroides e cometas”, dizem os autores. “O impacto climático desses eventos é comparável, mas a resposta é muito diferente”. 

Eles explicam que, enquanto a “defesa planetária” recebe centenas de milhões de dólares em financiamento a cada ano, e tem várias agências globais dedicadas a ela, o mesmo não se observa em relação aos vulcões. 

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No fim deste mês, a missão DART (sigla em inglês para Teste de Redirecionamento de Asteroide Duplo), da NASA, tentará desviar a trajetória de um asteroide, experimentando capacidades para futura deflexão de rochas espaciais em rota de colisão com a Terra. 

Esse projeto de preparação antecipada tem um custo de mais de US$300 milhões (o equivalente a mais de R$1,5 bilhões). “Em contrapartida, não há nenhuma ação coordenada, nem investimento em larga escala, para mitigar os efeitos globais de erupções de grande magnitude”, protestam os autores do estudo. “Isso precisa mudar”.

Mais dedicação ao monitoramento vulcânico, incluindo observação aérea e por satélite, além da fiscalização terrestre, é essencial, de acordo com os cientistas. Segundo eles, os vulcanologistas anseiam por uma espaçonave especializada em observação de vulcões.

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