A internet está muito presente no dia a dia dos brasileiros, seja para assistir um filme nos serviços de streaming ou até para resolver problemas da vida adulta, como emitir um passaporte no sistema do governo federal. Essa migração para o mundo online é natural, mas aumentou muito com a pandemia da Covid-19.  

Porém, apesar de muito usual para diversas pessoas, a realidade brasileira impossibilita que todos tenham acesso a rede mundial de computadores. Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua – Tecnologia da Informação e Comunicação 2021, do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), cerca de 7,28 milhões de famílias não possuem conexão à rede em casa em 2021.   

O número representa cerca de 28,2 milhões de brasileiros com mais de 10 anos, sendo 3,6 milhões de estudantes. Aproximadamente 20% dessas pessoas relatam que não tem acesso a internet por motivos financeiros, sendo que 14% dizem que o acesso à rede é caro e outros 6,2% que o equipamento eletrônico necessário para conexão é caro.  

Leia também!

publicidade

Uma pesquisa feita pela Surfshark, empresa de cibersegurança holandesa, apontou que o Brasil possui uma internet seis vezes mais cara que a dos Estados Unidos. O país sul-americano ocupa a 81ª colocação, entre 117 países, no ranking que mensura o custo da internet banda larga.   

Um brasileiro que recebe um salário mínimo deve trabalhar, em média, 6h40 para contratar o plano de internet mais barato do país. Enquanto um norte-americano, nas mesmas condições, trabalha apenas 57 minutos para conquistar o mesmo serviço.   

O primeiro lugar do ranking é ocupado pela Armênia, onde as pessoas precisam trabalhar apenas 18 minutos para conseguir contratar um plano de internet.   

No entanto, em entrevista ao Olhar Digital, o vice-presidente da Associação Brasileira de Internet (Abranet), Eduardo Fumes Parajo, ressaltou que os preços da internet no Brasil são extremamente competitivos quando comparados a outros serviços praticados no mundo.  

Parajo explicou que mesmo com a alta carga tributária brasileira, é possível contratar internet banda larga com menos de R$ 100, que na conversão com o dólar, fica em algo próximo a US$ 20. Contudo, nos Estados Unidos, segundo ele, o preço para o mesmo tipo de conexão varia entre US$ 30 e US$ 45.  

“Em termos de internet fixa, hoje a gente [Brasil] é extremamente competitivo. É um mercado extremamente disputado por grandes, médias e pequenas empresas”, afirmou o vice-presidente da Abranet.  

Bandeira do Brasil em uma  tecla
Imagem: niroworld/Shutterstock

É importante ressaltar que as avaliações de Parajo usam como base unicamente o valor dos serviços de internet, não levando em consideração o ganho do trabalhador refletido no custo da conexão.  

Sidnei Batistella, vice-presidente da Associação Brasileira de Provedores de Internet e Telecomunicações (Abrint), afirmou em entrevista ao Olhar Digital, que acredita que um dos fatores que encareceu a internet brasileira foi a demora de investimentos por parte das grandes operadoras.  

“O Brasil ficou muito tempo preso em estatais de telecomunicações. E no começo da internet no país, essas empresas ainda eram as responsáveis e demoraram para fazer investimentos em ampliações”, disse Batistella.  

O vice-presidente da Abrint explica que esses investimentos começaram quando essas estatais passaram a ser privatizadas. Segundo ele, a iniciativa teve que correr atrás deste prejuízo, investindo mais do que o esperado, o que resultou em um valor de internet mais caro. A tendência, contudo, é que esse custeio diminua com o passar dos anos e chegadas de novas tecnologias e novas empresas. 

“Enquanto o retorno do investimento não vem, o preço da internet não diminui, pois ainda está na conta do investimento. Com a abertura do mercado isso melhorou muito, mas o fator que ainda torna a internet brasileira mais cara foi a falta de investimento dos governos que precisou ser suprida pela iniciativa privada”, afirmou.

O Brasil terá internet grátis?

O governo federal do Brasil possui o programa Internet Para Todos, que visa democratizar o acesso à internet, levando conexão banda larga a preços reduzidos, buscando a inclusão social.  

O programa não isenta o pagamento de internet, pois ressalta que as empresas participantes possuem um custo para manter a infraestrutura da conexão. Levando isso em consideração, é possível imaginar que o Brasil terá internet grátis algum dia?  

“Acho que nenhum lugar do mundo tem internet gratuita para a população de maneira geral. O custo da internet é bastante alto e fica difícil colocar isso de maneira gratuita para população em geral. Alguém vai ter que pagar a conta, seja o governo, o estado, ou o munícipio, a conta segue existindo no final do dia”, disse Eduardo Parajo.  

O vice-presidente da Abranet relatou que algumas empresas podem até fornecer internet grátis para algumas localidades, mas isso sempre está associado a alguma coisa, como o marketing, por exemplo.  

A própria Meta já chegou a ter um projeto para levar internet grátis para alguns países. Denominada como Discovery, a iniciativa previa que os usuários do programa acessassem qualquer site, que seja executado por meio de um servidor proxy, com formato reduzido. Porém, a iniciativa gerou grande polêmica, já que a empresa parecia favorecer cliques no Facebook e Instagram, que são de sua propriedade. 

“Como você não tem água de graça e luz de graça, você também não vai ter internet de graça”, concluiu Parajo.  

Imagem: Shutterstock

Sidnei Batistella afirmou acreditar que a internet um dia se tornará gratuita não só no Brasil, mas também no mundo. “A conexão de internet vai se tornar um commodity, se tornando apenas um caminho para as demais informações que trafegam nela”, afirmou.

O vice-presidente da Abrint explicou que futuramente vê grandes empresas fornecendo internet aos seus clientes para que eles consumam seus serviços. Por exemplo, a Disney ou a Netflix, passam a oferecer a conexão para que as pessoas assistam seus produtos, ou então grandes empresas de comércio começam a custear a internet de clientes que usam seus aplicativos.

Já assistiu aos novos vídeos no YouTube do Olhar Digital? Inscreva-se no canal!