Antes de ser sacrificada em ritual, criança foi drogada com cacto psicodélico no Peru

Antes de decepar a cabeça da criança, os responsáveis pelo ritual deram um cacto psicodélico para ela consumir
Flavia Correia01/11/2022 16h40
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Imagem: Klopping - Shutterstock
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Milhares de anos atrás, uma criança foi sacrificada no Peru em uma espécie de ritual, tendo a cabeça decepada do pescoço e transformada em um tipo de troféu. Uma análise recente de um fio de cabelo arrancado do crânio da múmia revela que a vítima consumiu um cacto psicoativo antes da execução, como parte da cerimônia.

Cabeça de troféu NS052, pertencente a uma criança morta em ritual. Créditos: D. Socha/Journal of Archaeological Science

De acordo com o site Science Alert, a cabeça preservada da criança foi um dos 22 restos humanos associados à antiga civilização nazca examinados pela equipe de pesquisa – todos pertencentes a indivíduos que viveram durante a era pré-hispânica (3500 a.C. a 476 d.C.) e foram enterrados perto da costa sul do Peru.

Os cientistas não têm certeza sobre o sexo da vítima e sua idade quando morreu, mas sabem que a criança ingeriu cactos de San Pedro (Echinopsis pachanoi), uma planta espinhosa tomada por suas “fortes propriedades alucinógenas” e usada por civilizações indígenas nativas em medicamentos tradicionais e durante rituais.

“A cabeça de troféu é o primeiro caso do consumo de San Pedro por um indivíduo que viveu na costa sul do Peru”, disse a autora principal do estudo, Dagmara Socha, doutoranda no Centro de Estudos Andinos da Universidade de Varsóvia, na Polônia. “Também é a primeira evidência de que algumas das vítimas que foram transformadas em cabeças de troféu receberam estimulantes antes de morrerem”.

Cabeça de troféu NS054, de uma pessoa adulta que também teria consumido um composto psicoativo antes de ser morta em um ritual. Créditos: D. Socha/Journal of Archaeological Science

Para o estudo, Socha e sua equipe coletaram amostras de cabelos de 18 múmias, entre adultos e crianças. Exames toxicológicos revelaram que muitos dos falecidos haviam consumido algum tipo de planta psicoativa ou estimulante antes de suas mortes. Os itens ingeridos incluíam folhas de coca, fonte da substância psicoativa cocaína, além do cacto de San Pedro, que contém a droga mescalina.

Foram detectados também traços de Banisteriopsis caapi, o principal composto do chá ayahuasca, uma bebida alucinógena que contém harmina e harmalina (dois piscoativos usados em antidepressivos modernos).

“Nossa pesquisa mostra que essas plantas foram extremamente importantes para diferentes culturas para efeitos médicos ou visionários. Especialmente porque não há registro escrito desse período, então o que sabemos sobre Nazca e outras culturas próximas é de investigações arqueológicas”, disse Socha.

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Além dos restos humanos, Socha e sua equipe também encontraram uma variedade de túmulos nos locais de sepultamento, incluindo têxteis, vasos de cerâmica, ferramentas de tecelagem e um chuspa – um tipo de saco usado para transportar folhas de coca.

Os resultados da pesquisa, que pode ajudar a contar a história das rotas comerciais e do consumo dessas drogas na América do Sul, serão publicados na edição de dezembro de 2022 do Journal of Archeological Science.

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Flavia Correia
Redator(a)

Jornalista formada pela Unitau (Taubaté-SP), com Especialização em Gramática. Já foi assessora parlamentar, agente de licitações e freelancer da revista Veja e do antigo site OiLondres, na Inglaterra.