Brilho dos satélites “cegando” telescópios

Além de ofuscar outros objetos localizados no Espaço, o satélite também pode interferir nas ondas de rádio e prejudicar os radiotelescópios
Por Isabela Valukas Gusmão, editado por Lucas Soares 01/12/2022 07h30, atualizada em 02/12/2022 14h42
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O satélite BlueWalker 3, lançado recentemente, é agora um dos objetos mais brilhantes do céu noturno e isso pode ser um problema para os observadores do Espaço. Enquanto alguns astrônomos dispõem de telescópios potentes, que conseguem captar boas imagens, a maioria das observações do Universo são registradas a partir da superfície da Terra.

Agora, segundo o Centro da União Astronômica Internacional para a Proteção do Céu Escuro e Silencioso contra a Interferência de Constelações de Satélites (IAU CPS), com esse novo satélite, destinado a ser o início de uma rede de comunicações em órbita, objetos menos brilhantes podem ser ofuscados pelo brilho do satélite.

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O diretor do IAU CPS, Piero Benvenuti, declarou que “o BlueWalker 3 é uma grande mudança na questão dos satélites de constelações e deve nos dar todos os motivos para fazer uma pausa”. Astrônomos como Meredith Rawls, da Universidade de Washington, declarou que essa é uma situação que os astrônomos não querem.

Em entrevista à Science, a pesquisadora disse que o satélite “aparecerá como uma faixa super brilhante em imagens e potencialmente saturará os detectores de câmera nos observatórios”. Cabe destacar que o BlueWalker 3 é capaz de refletir muito mais luz do que os satélites Starlink, da SpaceX, por exemplo.

A intenção da AST SpaceMobile, empresa responsável pelo satélite, é colocar mais de 100 deles em órbita até o final de 2024. Provavelmente, os novos equipamentos serão ainda maiores que o BlueWalker 3. O que torna a preocupação dos astrônomos ainda mais pungente.

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Imagem: Um satélite localizado na órbita da Terra. Créditos: aappp/Shutterstock

O satélite e a interferência na frequência das ondas de rádio

Além da interferência na visualização, há outro fator digno de atenção. O BlueWalker 3 foi construído para atuar como uma torre de telefonia celular no Espaço, portanto, ele usa frequências de rádio terrestres. Isso pode interferir na atuação dos radiotelescópios.

A Comissão Federal de Comunicações dos EUA (FCC), responsável por regular as redes de comunicações dentro dos EUA e internacionalmente, anunciou planos para abrir um escritório dedicado ao Espaço e tentar conciliar os interesses envolvidos nesse campo e conciliar o envio de satélites com as observações do Universo.

Um porta-voz da AST SpaceMobile declarou à News Scientist que “estamos ansiosos para usar as mais recentes tecnologias e estratégias para mitigar possíveis impactos para a astronomia”. Para isso, ele alega que a empresa está “trabalhando ativamente com especialistas do setor nas mais recentes inovações, incluindo materiais antirreflexos [para satélites] de última geração.”

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Isabela Gusmão é estagiária e escreve para a editoria de Ciência e Espaço. Além disso, ela é nutricionista e cursa Jornalismo, desde 2020, na Universidade Metodista de São Paulo (UMESP).

Lucas Soares
Editor(a)

Lucas Soares é jornalista formado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e atualmente é editor de ciência e espaço do Olhar Digital.