Há mais de 20 anos, uma certa galáxia tem intrigado os astrônomos desde que um mero sinal de sua existência foi detectado em seu “esconderijo” na imensidão do cosmos. Localizada a 22 milhões de anos-luz da Terra, Peekaboo (ou HIPASS J1131-31) é extremamente difícil de ser vista devido a seu tamanho minúsculo e por ser obscurecida por uma estrela brilhante na Via Láctea que fica quase diretamente na frente dela.

Encoberta por uma brilhante estrela da via Láctea, a galáxia anã HIPASS J1131-31 recebeu o nome informal de Peekaboo (“esconde-esconde”, em inglês). Imagem: NASA, ESA, and Igor Karachentsev (SAO RAS); Image Processing: Alyssa Pagan (STScI)

Uma pesquisa colaborativa que envolveu telescópios espaciais e terrestres permitiu que os cientistas descobrissem que, além de muito pequena, Peekaboo (nome da brincadeira “esconde-esconde”, em inglês) também é bem jovem, o que nos proporciona um vislumbre da infância galáctica.

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“Encontrar Peekaboo é como descobrir uma janela direta para o passado, permitindo-nos estudar seu ambiente extremo e estrelas em um nível de detalhe que é inacessível no universo distante e primitivo”, diz o astrônomo Gagandeep Anand, do Instituto de Ciência dos Telescópios Espaciais da NASA (STScI), um dos autores do estudo publicado recentemente no Monthly Notices of the Royal Astronomical Society.

Segundo Anand, é muito comum que objetos em primeiro plano se posicionem na frente de corpos mais distantes. Por isso, quando o HI Parkes All Sky Survey (HIPASS) flagrou a galáxia espreitando por trás da estrela brilhante TYC 7215-199-1, no início dos anos 2000, não foi uma grande surpresa.

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Observações ultravioletas revelaram que Peekaboo se qualifica como uma galáxia anã azul compacta: uma pequena galáxia que explode com a formação de estrelas jovens, a mais brilhante das quais parece ser azul.

Como a galáxia Peekaboo foi encontrada 

Segundo os cientistas, a luz da estrela TYC 7215-199-1 e seus artefatos de difração obscurecem Peekaboo de uma visão clara. Eles descobriram, no entanto, que a estrela vem se movendo para longe da galáxia. 

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Se tivéssemos olhado 100 anos atrás, talvez não a teríamos visto. Entretanto, ao longo das últimas duas décadas, essa lacuna continuou a aumentar. Além disso, nossa tecnologia de observação espacial tem se tornado cada vez mais poderosa. Juntas, essas condições foram ideais para a descoberta de Peekaboo.

Assim, uma equipe internacional liderada pelo astrônomo Igor Karachentsev, da Academia Russa de Ciências, dedicou um olhar mais atento à galáxia “camuflada”. Eles usaram o Telescópio Espacial Hubble para observações ópticas, o Grande Telescópio da África Austral para espectros ópticos e o Telescópio Australiano de Matriz Compacta (ATCA) para observações de rádio.

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https://www.youtube.com/watch?v=1yGh6pbYpB0

Uma das galáxias mais pobres em metais já descobertas

Essas observações não apenas revelaram cerca de 60 estrelas individuais em Peekaboo, como ajudaram os pesquisadores a determinar do que elas são feitas. “No início, não percebemos o quão especial esta pequena galáxia é”, diz o astrônomo Bärbel Koribalski, da Organização de Pesquisa Científica e Industrial da Commonwealth (CSIRO), na Austrália, e o pesquisador que primeiro detectou a presença do HIPASS J1131-31. “Agora, com dados combinados do Hubble, do Grande Telescópio da África Austral e outros, sabemos que Peekaboo é uma das galáxias mais pobres em metais já detectadas”.

Geralmente, a baixa metalicidade indica que um objeto se formou no universo primitivo – corpos mais recentes têm um conteúdo de elemento pesado mais alto. Isso ocorre porque não havia muito metal circulando no início dos tempos, segundo os cientistas. 

Na época que se seguiu ao Big Bang, há 13,8 bilhões de anos, o universo era predominantemente composto de hidrogênio e hélio. Foi a partir desses componentes que as primeiras estrelas se formaram, fundindo hidrogênio e hélio em elementos mais pesados, até o ferro.

Metais mais pesados que o ferro eram forjados nas violentas explosões de supernovas quando as estrelas morriam, espalhando-se para o universo, onde poderiam ser incorporados na formação de novas estrelas.

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Além da população de estrelas jovens, os pesquisadores fizeram apenas detecções tênues das assinaturas de estrelas antigas, sugerindo que a formação de estrelas em Peekaboo só começou há alguns bilhões de anos. Isso significa que a galáxia poderia ser um exemplo de como era a primeira geração de galáxias e suas populações estelares.

Assim, Peekaboo é essencialmente uma cápsula do tempo (e praticamente “aqui do lado”, considerando as proporções cósmicas). Os pesquisadores esperam revisitar a galáxia com o Telescópio Espacial James Webb para fazer um catálogo mais detalhado de sua química.

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