Originalmente marcado para a segunda-feira (19) e transferido para a manhã desta terça-feira (20), o primeiro lançamento de um foguete privado a partir da Base de Alcântara, no Maranhão, foi suspenso. Desta vez, sem anúncio de nova data.
A revelação foi feita no Twitter, pelo perfil oficial da Innospace, a empresa responsável pelo HANBIT-TLV, um pequeno lançador de satélites de 16 metros de altura que fará um voo de teste orbital a partir do nosso espaçoporto.
“Adiada a decolagem planejada para hoje depois que a Innospace descobriu que precisava de exames adicionais em sua válvula do HANBIT-TLV. A equipe do Centro Espacial de Alcântara vai se apossar dessa questão em breve e definir a nova data prevista de lançamento”, diz o post. “Esperando decolar em breve. Fique atento às atualizações”.
O anúncio frustrou as expectativas de pessoas que se posicionaram nos arredores para acompanhar o evento, que não terá transmissão ao vivo devido a restrições de acesso à rede da base militar.
“Obrigado pela informação”, diz o tweet do gerente de TI identificado como Lobato, que se descreve como um apaixonado por ciência e tecnologia. “Por favor, mantenha-nos atualizados sobre o próximo mais cedo. Ficamos esperando por muito tempo sem nenhuma informação”.
O usuário T. Arraes publicou algumas imagens captadas durante a espera pelo lançamento.
E não são apenas moradores do Maranhão que estão na espera. Entusiasta da astronomia e da exploração espacial, a estudante de engenharia aeroespacial Aline Aquino, de Suzano (SP), por exemplo, também está ansiosa.
Aliás, até mesmo brasileiros que estão fora do país ficaram decepcionados não apenas com a suspensão do lançamento como também com a demora por notícias. O administrador Hemetério Neto, que mora em Toronto, no Canadá, sugeriu, inclusive, que o evento deveria ser ignorado.
Por que a Base de Alcântara foi escolhida?
Esta será a primeira vez desde sua inauguração, em 1º de março de 1983, que a Base de Alcântara vai sediar a decolagem de um foguete de uma empresa privada, colocando à prova o potencial do cosmódromo brasileiro para lançamentos espaciais.
Vantagens do Centro de Lançamento de Alcântara:
- Base de lançamento mais próxima da Linha do Equador (apenas 2 graus e 18 minutos), fazendo com que os voos partindo de lá cheguem mais rápido ao espaço devido à velocidade de rotação da Terra, o que gera economia de até 30% combustível;
- A disposição da península de Alcântara permite lançamentos em todos os tipos de órbita, desde as equatoriais (em faixas horizontais) às polares (em faixas verticais), e a segurança das áreas de impacto do mar que foguetes de vários estágios necessitam;
- Não há tráfego marítimo e aéreo, oferecendo segurança e proteção, principalmente por estar fora de áreas residenciais;
- O clima estável, o regime de chuvas bem definido e os ventos em limites aceitáveis tornam possível o lançamento de foguetes em praticamente todos os meses do ano;
- Devido a essas características, é o único concorrente à altura do Centro Espacial de Kourou, na Guiana Francesa.
Qual é o objetivo da missão? Esse será o primeiro voo de teste suborbital para validar o motor de primeiro estágio do HANBIT-Nano, um pequeno lançador de satélites da empresa capaz de transportar uma carga útil de até 50kg para uma órbita polar (que cruza os polos do planeta), a aproximadamente 500 km de altitude.
De acordo com o site SpaceNews, a Innospace assinou um acordo com o Departamento Brasileiro de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA) para lançar o Sistema de Navegação Inercial (SISNAV), projeto que tem o apoio da AEB e da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), sob a supervisão da Força Aérea Brasileira.
A carga é um dispositivo de navegação que usa um computador e sensores de movimento e de rotação para calcular continuamente a posição, a orientação e a velocidade de um objeto em movimento, sem a necessidade de referências externas.
Segundo o porta-voz do Innospace, Kim Jung-hee, a carga não será implantada no espaço nesse lançamento de teste. “O lançamento do teste permitirá que a DCTA verifique se o sistema de navegação inercial opera adequadamente em condições específicas, como vibração, choque e alta temperatura que ocorrem em todo o processo desde a decolagem e durante o voo”, disse ele. “Se o lançamento de teste do HANBIT-TLV for bem-sucedido, começaremos a nos preparar para um lançamento de teste de Hanbit-Nano”.
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Futuros lançamentos espaciais no Brasil
No ano passado, o governo federal e a Força Aérea Brasileira (FAB) divulgaram que quatro empresas estrangeiras foram selecionadas para operar em Alcântara. Dessas, apenas uma já firmou acordo, além da Innospace: a canadense C6 Launch Systems, que deve começar a operar em meados de 2023.
A Virgin Orbit, do bilionário Richard Branson, está ainda em fase de negociações, bem como a Orion Applied Science & Technology (Orion AST), dos EUA, que pretende fazer uso do nosso espaçoporto a partir de outubro do ano que vem.
Saiba mais sobre a Base de Alcântara neste especial preparado pelo Olhar Digital.
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