Para o Brasil, um dos acontecimentos mais marcantes no ramo espacial neste ano que está terminando foi, sem dúvida, a viagem ao espaço do engenheiro de produção civil Victor Hespanha, de Belo Horizonte (MG).

O engenheiro de produção civil Victor Hespanha foi sorteado para uma viagem ao espaço com a Blue Origin. Imagem: Blue Origin

Como tripulante de um voo da Blue Origin, empresa aeroespacial do bilionário Jeff Bezos, ele conquistou três títulos importantes

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  • segundo brasileiro na história a ir ao espaço (depois do ex-astronauta e ex-ministro da Ciência, Tecnologia e Inovações, Marcos Pontes);
  • primeiro turista espacial do país;
  • primeiro “criptonauta” do mundo.

Relembre a jornada de Victor Hespanha até o espaço

No dia 4 de junho, a Blue Origin completou com sucesso seu quinto voo tripulado. A missão, chamada NS-21 (por ser o 21º voo de um veículo New Shepard na contagem geral da empresa), levou seis passageiros para um passeio inesquecível a pouco mais de 100 km de altitude – entre eles, o brasileiro Victor Hespanha.

Victor conquistou seu assento por meio de um sorteio realizado pela Crypto Space Agency (CSA), após adquirir três NFTs (token não-fungíveis) pela plataforma, por aproximadamente R$12 mil, no total.

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Entre os seis membros da missão NS-21, o quinto voo tripulado da Blue Origin, estava o brasileiro Victor Hespanha. Imagem: Blue Origin – Divulgação

Segundo ele, ao tomar conhecimento de que a agência havia comprado um assento em uma missão espacial turística, viu nisso uma chance de investimento, vislumbrando a valorização de seus ativos – mas, nem imaginava que seria ele o contemplado, tornando-se, assim, o primeiro “criptonauta” do mundo.

“Senti como se estivesse saindo do meu corpo”

Assim como em todas as missões turísticas, o NS-21 foi um voo suborbital. Isso significa que a cápsula e seus tripulantes seguiram uma trajetória parabólica, subindo até uma altitude máxima de 106,9 km e descendo logo em seguida. Não há “voltas” ao redor da Terra, ao contrário dos voos orbitais como os executados pela SpaceX, que têm no mínimo 90 minutos (tempo de uma órbita) de duração.

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O engenheiro descreveu a viagem como “o dia mais feliz” da sua vida. “Não tenho palavras. Lá em cima, senti como se eu estivesse saindo do meu corpo”, disse Hespanha, em coletiva após a viagem. “Pude ver o Brasil do espaço. O medo não importava. Foi um passo extremamente importante, que desperta muita esperança, especialmente para nós brasileiros que passamos por momentos difíceis saindo da pandemia.”

Turistas espaciais não são astronautas

Na linguagem popular, todos que vão para o espaço são chamados de astronautas (ou suas especificações nacionais, como cosmonautas, da Rússia, e taikonautas, da China). Mas, na verdade, existem critérios a serem avaliados para que um viajante espacial receba essa designação.

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Além da Administração Federal de Aviação dos Estados Unidos (FAA), outras duas agências governamentais dos EUA estão autorizadas a conferir o título de astronauta: o Departamento de Defesa e a NASA, que atribuem esse status apenas a seus próprios funcionários.

Segundo as diretrizes da FAA, tripulantes de voos que ultrapassem 80 km acima da superfície da Terra podem ser classificados como astronautas. Por essa métrica, os passageiros das missões da Blue Origin estão inclusos, já que os voos da empresa superam até mesmo a Linha de Kármán, localizada a 100 km de altitude e considerada a fronteira onde começa o espaço sideral.

No entanto, esse não é o único fator determinante. Um candidato ao título de astronauta deve passar por um extenso treinamento certificado pela FAA e “demonstrar durante o voo ações que são importantes para a segurança pública ou contribuem para a segurança espacial humana”. Além disso, a pessoa deve ser designada para a tripulação a realizar certas tarefas durante o voo, não sendo apenas um passageiro comum.

Foguete New Shepard, da Blue Origin, que levou o segundo brasileiro da história ao espaço este ano. Imagem: Blue Origin

A cápsula New Shepard, que leva os passageiros da Blue Origin nas missões tripuladas, é um sistema totalmente autônomo, de modo que nenhum deles precisa assumir a função de piloto nem qualquer outra atividade. Dessa forma, tanto Hespanha quanto os demais membros das missões tripuladas da empresa são turistas espaciais, e não astronautas.

Diferenças entre os voos espaciais de Marcos Pontes e Victor Hespanha

Ciência X Turismo. Essa é a diferença fundamental entre as missões espaciais de Marcos Pontes e Victor Hespanha. 

Natural de Bauru (SP), Pontes é graduado em tecnologia aeronáutica pela Academia da Força Aérea (AFA), no município paulista de Pirassununga, e mestre em engenharia de sistemas pela Escola de Pós-Graduação Naval dos EUA, na Califórnia. Ele se formou oficialmente como astronauta em 2000, após ter sido selecionado pela NASA para participar dos dois anos de treinamento de seu programa de formação de astronautas.

Imagem: Blue Origin (Victor Hespanha) e NASA (Marcos Pontes)

Hespanha, como dito anteriormente, conquistou seu assento por meio de um sorteio.

A primeira viagem espacial de Pontes estava programada para acontecer em 2001, em uma das missões do projeto de construção da Estação Espacial Internacional (ISS). Mas uma série de situações acabou colocando o astronauta brasileiro no fim da fila de lançamentos da NASA para o laboratório orbital.

Ele acabou indo pela agência espacial russa Roscosmos, que recebeu em torno de US$10 milhões do Brasil pela “carona” em uma nave Soyuz, que aconteceu em 2006. Na ocasião, o brasileiro levou 15 kg de carga da Agência Espacial Brasileira (AEB), contendo oito experimentos científicos desenvolvidos por universidades e centros de pesquisas do país.

Enquanto o passeio de Hespanha durou cerca de dez minutos, a missão de Pontes à ISS, entre ida, permanência e retorno, teve 10 dias de duração, considerando quase 24 horas de viagem em cada trecho.

Durante o voo da Blue Origin, o brasileiro e os demais tripulantes só precisaram se preocupar em curtir os três minutos de quase ausência de gravidade e apreciar uma vista inigualável pelas janelas.

No entanto, mesmo uma missão “simples” como essa requer muito preparo, tanto do veículo e equipamentos em geral, quanto das pessoas envolvidas (a tripulação e toda a equipe técnica). Antes do voo, Hespanha e seus companheiros de aventura precisaram passar por dois dias de treinamento – o que não se compara nem de longe ao processo de capacitação dos astronautas.

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Presente especial do 10º homem a pisar na Lua

Engana-se quem pensa que o primeiro turista espacial brasileiro da história despertou do seu maior sonho quando a cápsula RSS First Step aterrissou no deserto em Van Horn, no oeste do Texas.

Pouco antes do lançamento, Victor Hespanha e seus companheiros de voo Evan Dick, Katya Echazarreta, Hamish Harding, Jaison Robinson e Victor Vescovo conheceram o ex-astronauta Charles Moss Duke Jr. – simplesmente o 10º homem a pisar na Lua.

Como se isso não fosse suficientemente fascinante, eles receberam um presente especial das mãos de Duke quando voltaram.

O ex-astronauta Charlie Duke, 10º homem a pisar na Lua, presenteou o primeiro turista espacial brasileiro com um relógio Omega, um símbolo das missões Apollo. Imagem: Instagram Victor Hespanha

Trata-se de uma nova versão do Speedmaster, o “relógio de astronauta” da Omega, empresa sediada na Suíça, que esteve nas missões Apollo nas décadas de 1960 e 1970. 

“Se liga na minha cara quando ganhei um Omega do Charlie Duke”, escreveu Victor em uma postagem no Instagram. “Omega é o relógio que os astronautas da NASA usavam nas missões, é uma tradição. Sem mais, Deus é maravilhoso!”, comemorou.

De lá para cá, sua vida deu uma guinada. Além de ganhar muitos seguidores no Instagram, Victor está sempre em programas televisivos ou canais nas redes sociais como convidado especial para falar sobre sua aventura.

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