Pluma de foguete chinês é vista no céu em várias partes do país

Análises da BRAMON apontam que as imagens são compatíveis com indícios de um lançamento de foguete pela China
Por Marcelo Zurita, editado por Flavia Correia 09/01/2023 21h18, atualizada em 10/01/2023 21h14
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Uma pequena e misteriosa nuvem luminosa foi vista nos céus de vários locais do Brasil no início da noite de domingo (8). Rapidamente, começaram a surgir relatos e imagens do fenômeno nas redes sociais. Eles partiram de localidades do Norte, Nordeste e Centro-Oeste do país e, segundo os relatos, a nuvem surgiu por volta de 19h50 (horário de Brasília), na direção sudoeste, e seguiu lentamente para o leste, até desaparecer pouco depois das 20h00. 

Uma das imagens mais impressionantes foi feita pelo astrônomo amador e divulgador científico Alexsandro Mota, que participou do Programa Olhar Espacial em outubro passado, falando dos acidentes e incidentes mais marcantes da exploração espacial. 

Alexsandro conta que, no começo da noite de domingo, saiu para olhar o céu (algo que ele faz com frequência), e se deparou com uma nuvenzinha mais clara do que o normal na direção oeste. “Corri para fotografar e capturei o objeto bem de perto”, destaca o astrônomo.

Pluma do foguete registrado a partir de Conceição do Coité, BA – Créditos: Alexsandro Mota
Pluma do foguete registrado por celular a partir de Conceição do Coité, BA – Créditos: Alexsandro Mota

Outros registros: 

https://twitter.com/sysmanu/status/1612230273751740416

De que se trata?

Ao analisar as imagens, a Rede Brasileira de Observação de Meteoros (BRAMON) concluiu que o fenômeno era, na verdade, a pluma de ventilação do segundo estágio de um foguete Longa Marcha 7A, lançado um pouco antes na China.

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Segundo a BRAMON, a nuvem tem todas as características de uma pluma de ventilação. Além disso, a trajetória com que a pluma se deslocou no céu é compatível com a trajetória prevista para o foguete, o que torna possível associar o fenômeno observado ao lançamento do Longa Marcha 7A.  

Foguete Longa Marcha 7A na base de lançamento – Imagem: CNSA

O foguete foi lançado naquele mesmo dia, às 19h00 (horário de Brasília), a partir da Base de Wenchang, na província de Hainan, China. Ele levou para a órbita baixa da Terra 3 satélites, o Shijian-23, Shiyan-22A e Shiyan-22B.

O Shijian-23 será usado principalmente para experimentos científicos e verificação técnica. Já o Shiyan-22A e o Shiyan-22B serão usados para testes de verificação em órbita de novas tecnologias, como monitoramento do ambiente espacial.

O lançamento foi bem sucedido e, depois de liberado enquanto sobrevoava o Oceano Pacífico, o segundo estágio do foguete realizou uma operação de ventilação de combustível. Esse combustível, iluminado pelo Sol, é o que foi visto no início da noite do último domingo em grande parte do país. 

É importante destacar que o fenômeno ocorre em altitudes muito elevadas, por isso pode ser visto de lugares tão distantes. Entretanto, só foi observado em locais onde já estava escuro e onde as nuvens não atrapalharam a visualização.

Ventilação de combustível

A ventilação de combustível é uma operação executada por foguetes depois de terem cumprido sua missão de levar a carga útil ou os estágios superiores para o espaço. A principal função dessa operação é esvaziar completamente os tanques do combustível não utilizado. Isso evita que a pressão interna possa provocar algum tipo de explosão, o que poderia afetar os satélites em órbita ou até mesmo futuros lançamentos.

Nesse processo, o combustível pressurizado é liberado no espaço de forma a igualar a pressão interna do foguete, e como esse processo é realizado após o desligamento dos motores, o combustível pode ser lançado em qualquer direção, mas geralmente acaba formando uma espécie de cone por conta da rotação do foguete. 

Como a velocidade com que o combustível é liberado é imensamente inferior à velocidade do foguete, durante algum tempo, a pluma e o foguete seguem muito próximos no espaço, na mesma trajetória que estava no momento em que ele foi desligado. Por isso, a nuvem luminosa vista neste domingo, seguiu lentamente na mesma trajetória prevista para o Longa Marcha 7A lançado na China.

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Marcelo Zurita
Colunista

Pres. Associação Paraibana de Astronomia; membro da Sociedade Astronômica Brasileira; diretor técnico da Rede Brasileira de Observação de Meteoros – e coordenador regional do Asteroid Day Brasil

Flavia Correia
Redator(a)

Jornalista formada pela Unitau (Taubaté-SP), com Especialização em Gramática. Já foi assessora parlamentar, agente de licitações e freelancer da revista Veja e do antigo site OiLondres, na Inglaterra.