Uma pequena e misteriosa nuvem luminosa foi vista nos céus de vários locais do Brasil no início da noite de domingo (8). Rapidamente, começaram a surgir relatos e imagens do fenômeno nas redes sociais. Eles partiram de localidades do Norte, Nordeste e Centro-Oeste do país e, segundo os relatos, a nuvem surgiu por volta de 19h50 (horário de Brasília), na direção sudoeste, e seguiu lentamente para o leste, até desaparecer pouco depois das 20h00. 

Uma das imagens mais impressionantes foi feita pelo astrônomo amador e divulgador científico Alexsandro Mota, que participou do Programa Olhar Espacial em outubro passado, falando dos acidentes e incidentes mais marcantes da exploração espacial. 

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Alexsandro conta que, no começo da noite de domingo, saiu para olhar o céu (algo que ele faz com frequência), e se deparou com uma nuvenzinha mais clara do que o normal na direção oeste. “Corri para fotografar e capturei o objeto bem de perto”, destaca o astrônomo.

Pluma do foguete registrado a partir de Conceição do Coité, BA – Créditos: Alexsandro Mota
Pluma do foguete registrado por celular a partir de Conceição do Coité, BA – Créditos: Alexsandro Mota

Outros registros: 

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https://twitter.com/sysmanu/status/1612230273751740416

De que se trata?

Ao analisar as imagens, a Rede Brasileira de Observação de Meteoros (BRAMON) concluiu que o fenômeno era, na verdade, a pluma de ventilação do segundo estágio de um foguete Longa Marcha 7A, lançado um pouco antes na China.

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Segundo a BRAMON, a nuvem tem todas as características de uma pluma de ventilação. Além disso, a trajetória com que a pluma se deslocou no céu é compatível com a trajetória prevista para o foguete, o que torna possível associar o fenômeno observado ao lançamento do Longa Marcha 7A.  

Foguete Longa Marcha 7A na base de lançamento – Imagem: CNSA

O foguete foi lançado naquele mesmo dia, às 19h00 (horário de Brasília), a partir da Base de Wenchang, na província de Hainan, China. Ele levou para a órbita baixa da Terra 3 satélites, o Shijian-23, Shiyan-22A e Shiyan-22B.

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O Shijian-23 será usado principalmente para experimentos científicos e verificação técnica. Já o Shiyan-22A e o Shiyan-22B serão usados para testes de verificação em órbita de novas tecnologias, como monitoramento do ambiente espacial.

O lançamento foi bem sucedido e, depois de liberado enquanto sobrevoava o Oceano Pacífico, o segundo estágio do foguete realizou uma operação de ventilação de combustível. Esse combustível, iluminado pelo Sol, é o que foi visto no início da noite do último domingo em grande parte do país. 

É importante destacar que o fenômeno ocorre em altitudes muito elevadas, por isso pode ser visto de lugares tão distantes. Entretanto, só foi observado em locais onde já estava escuro e onde as nuvens não atrapalharam a visualização.

Ventilação de combustível

A ventilação de combustível é uma operação executada por foguetes depois de terem cumprido sua missão de levar a carga útil ou os estágios superiores para o espaço. A principal função dessa operação é esvaziar completamente os tanques do combustível não utilizado. Isso evita que a pressão interna possa provocar algum tipo de explosão, o que poderia afetar os satélites em órbita ou até mesmo futuros lançamentos.

Nesse processo, o combustível pressurizado é liberado no espaço de forma a igualar a pressão interna do foguete, e como esse processo é realizado após o desligamento dos motores, o combustível pode ser lançado em qualquer direção, mas geralmente acaba formando uma espécie de cone por conta da rotação do foguete. 

Como a velocidade com que o combustível é liberado é imensamente inferior à velocidade do foguete, durante algum tempo, a pluma e o foguete seguem muito próximos no espaço, na mesma trajetória que estava no momento em que ele foi desligado. Por isso, a nuvem luminosa vista neste domingo, seguiu lentamente na mesma trajetória prevista para o Longa Marcha 7A lançado na China.

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