Se você está vivo hoje, precisa agradecer ao Sol, por criar, na Terra, as condições para o surgimento e a manutenção da vida. Partindo desse princípio, seria ele, então, a melhor definição astronômica para “Deus”?

Muitas civilizações tratavam (ou tratam) o Sol como Deus, e isso tem uma correlação científica. Imagem: ra2 studio – Shutterstock

Nossa estrela-mãe é responsável pela existência dos rios e oceanos, da atmosfera, dos ventos, das auroras polares, das plantas, enfim… de praticamente tudo o que há no nosso planeta.

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Além disso, grande parte da energia que usamos para alimentar a nossa tecnologia é direta ou indiretamente proveniente do Sol. 

Ele também é responsável por fenômenos naturais, como furacões; doenças, como câncer de pele; e determinados incômodos, como apagões de sinais de internet e TV via satélite.

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Tudo isso prova que, diferentemente de como ele aparenta, o Sol não é apenas aquela bolinha amarela que nos fornece luz e calor. No espaço, nossa imensa estrela hospedeira está em constante atividade – o que representa o principal agente das mudanças nas condições do clima espacial.

Cientista que trabalha para a NOAA fala sobre física solar

Na última sexta-feira (13), o Programa Olhar Espacial recebeu a cientista Alessandra Abe Pacini para falar sobre física solar e clima espacial, com foco nas últimas atividades solares e suas implicações para a Terra.

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Licenciada e bacharel em Física pela Universidade Mackenzie (SP), mestre e doutora em Geofísica Espacial pelo INPE (SJC) e PhD em Ciências Físicas pela Universidade de Oulu, na Finlândia, Alessandra tem como principal foco de estudo a Heliofísica, a Física Solar e o Clima Espacial. 

Atualmente, ela é cientista do grupo de Clima Espacial do Instituto Cooperativo de Pesquisa em Ciências Ambientais (CIRES) da Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos EUA (NOAA), no estado do Colorado, EUA. 

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Também é a escritora da coleção de livros Girls InSpace, sobre ciências espaciais para crianças, e lidera projetos de educação e divulgação científica associados. 

É criadora do canal O que Diz a Física – Ale Pacini, no YouTube, e mentora do programa Space4Women, do escritório da ONU para assuntos espaciais. Além disso, é presidente da Comissão Especial para Igualdade de Gênero da Sociedade Brasileira de Geofísica Espacial e coordenadora da Comissão de Física de Plasmas da Sociedade Brasileira de Física.

Deus-Sol: Religião e Ciência

De acordo com o site Ciência Viva, diversas civilizações importantes elevaram o Sol ao nível de divindade máxima:

  • Egípcios adoravam Re, Sol do Zenit, acompanhado de Kbeper, jovem Sol nascente, Atum, o velho Sol de ouro do poente e Horus, o olho do Sol;
  • O antigo Japão, o império do Sol nascente, adorava Amatersu;
  • No Novo Continente, Huitzilopochtli e Tezcatlipoca eram os deuses do Sol do poderoso império asteca;
  • Inti, deus-Sol, dominava o império do Sol dos incas na costa do Pacífico da América Andina;
  • Nos povos da Amazônia, os Apinajés cultuavam Mbud-ti (Sol) e Mbuduruvi-Re (Lua).
Foto do templo do Sol inca (ou Qorikancha) na cidade de Cusco, no Peru, durante Inti Raymi (festival religioso em homenagem a Inti, o deus-sol). Imagem: SL-Fotografia – Shutterstock

“Muitos povos veneram e veneravam o Sol como um deus. Eles o viam como essa fonte de vida, fonte de tudo. E não estão errados”, comentou Alessandra quando questionada pelo apresentador Marcelo Zurita a esse respeito. “Astronomicamente, até mesmo como foi formado o planeta e o fato de estarmos na Zona Habitável (a Terra estar pertinho do Sol, a ponto de permitir água líquida). A gente se mantém a partir da luz do Sol, nosso corpo interage com ele absorvendo a radiação. Ele nos aquece, aquece a atmosfera, dá vida às plantas, que fazem a fotossíntese… E a gente pertence a esse ciclo que tem tudo a ver com a estrela”.

Existe, inclusive, uma área da astronomia, chamada arqueoastronomia, que trata justamente disso. É o estudo sobre as relações entre o homem da antiguidade com os eventos celestes importantes como equinócios, solstícios, helíacos, eclipses, passagens de cometas etc.

“Essa área da astronomia tenta interpretar a cosmovisão que aquele povo tinha, através de registros deixados, às vezes, em cavernas, por exemplo”, explica a cientista. “Registros de como eles viam aqueles fenômenos que observavam no céu”.

Segundo ela, a observação do céu é tão antiga quanto o ser humano. “No momento em que o ser humano se entendeu gente, em que começou esse convívio de civilização, passou a observar o céu e buscar essa conexão com ele. Algumas pessoas buscam essa conexão de forma mais esotérica ou religiosa. E tem gente que encontra essa conexão na ciência, através do estudo do espaço, como é o meu caso, por exemplo”.

Eclipses solares 

Alessandra e Zurita também falaram sobre os eclipses solares, destacando que, em 14 de outubro deste ano, teremos um eclipse anular, também chamado de “Anel de Fogo”, que poderá ser visto . (Confira aqui todos os eclipses previstos para 2023).

Eclipse solar acontece nesta segunda-feira
Um eclipse solar anular, também chamado de “Anel de Fogo”, vai acontecer em outubro deste ano. Imagem: Amanda Carden/Shutterstock

Esse será o maior eclipse solar do ano, e sua região de abrangência na faixa de totalidade recairá sobre os oceanos Pacífico e Atlântico. Em consequência, uma vasta área das Américas terá visibilidade tanto das fases de anularidade total quanto parcial – que é o caso aqui no Brasil.

Enquanto Natal (RN) e João Pessoa (PB) são as duas capitais brasileiras que contemplarão o eclipse em sua maior magnitude, ele será parcial nas regiões Centro-Oeste, Sudeste e Sul.

Segundo Alessandra, mesmo o mínimo de disco solar que aparece durante um eclipse “anel de Fogo”, é o suficiente para permitir a iluminação do ambiente e também para causar danos aos olhos em uma observação direta. “Portanto, não se pode olhar diretamente sem a devida proteção específica para observar eclipses”.

O próximo eclipse solar total acontecerá em 2024, e será visível em toda a América do Norte. “Quem já vivenciou um eclipse total fica até meio obcecado em caçar eclipses, porque é um fenômeno muito impressionante”, disse Alessandra. “Você sente baixar a temperatura quando está na totalidade de um eclipse que cobre completamente, você vê os pássaros voltando para as árvores, os grilos começando a cantar, porque a natureza entende que aquilo virou noite”.

Satélites NOAA observam a Terra e o Sol

Alessandra também falou sobre seu trabalho no CIRES/NOAA, nos EUA, e sobre os satélites do projeto GOES-R da agência, que têm tanto câmeras direcionadas para a Terra quanto para o Sol. “A nova geração de satélites GOES (uma missão NASA/NOAA) trouxe o imageador, o que é um grande diferencial em relação aos equipamentos anteriores”.

Segundo a cientista, os dados são de acesso livre, o que significa que qualquer pessoa pode fazer o download para consultá-las. 

Leia mais:

Erupções solares

Outro assunto abordado no programa foram as erupções solares. Zurita pediu à convidada que falasse sobre as classes desse fenômeno. 

Primeiramente, Alessandra esclareceu que isso é algo natural, que acontece normalmente, e que os cientistas estudam para entender a dinâmica do processo e tentar prever os eventos.

“O que acontece é que o Sol tem seu dínamo, e ao longo do tempo ele vai criando regiões de concentração de energia magnética que acabamos vendo na forma de manchas solares. Há muito tempo essas manchas são monitoradas e contadas”, revelou. “A contagem do número de manchas dá a noção do quão ativo está o Sol, e quanto mais ativo, maior o número de regiões explodindo na coroa”.

Essas explosões ejetam fluxos de radiação solar ultravioleta que nelas se concentraram. Também acontece de haver maior concentração de raios-X, que é uma luz muito energética. Então, com base nessas observações, os cientistas da NOAA classificaram as explosões em categorias, conforme sua potência, em um esquema de letras – A, B, C, M e X – com base na intensidade dos raios-X que elas liberam, tendo cada nível 10 vezes a intensidade do último. 

Alessandra destacou que o atual ciclo solar do Sol (25) está em ascendência, de modo que teremos cada vez mais notícias de erupções do tipo mais forte, já que a atividade solar está intensa e crescente.

Ela disse que o Sol está mais ativo do que era previsto. Para o último mês, segundo Alessandra, eram esperadas em torno de 60 manchas, e foram observadas mais de 100. As consequências disso vão muito além das belíssimas exibições de auroras nas regiões polares da Terra. 

A depender do grau de intensidade dos fluxos de energia ejetados, existem riscos para a segurança dos satélites em órbita, apagões de sinais de rádio, GPS e internet. 

Para saber mais sobre a física solar e o protagonismo do Astro Rei no clima espacial, assista a essa edição superinteressante do Olhar Espacial. 

Apresentado por Marcelo Zurita, presidente da Associação Paraibana de Astronomia — APA; membro da SAB — Sociedade Astronômica Brasileira; diretor técnico da BRAMON — Rede Brasileira de Observação de Meteoros — e coordenador regional (Nordeste) do Asteroid Day Brasil, o programa é transmitido ao vivo, todas às sextas-feiras, às 21h, pelos canais oficiais do veículo no YouTube, Facebook, Instagram, Twitter, LinkedIn e TikTok, além do canal por assinatura Markket (611-Vivo, 56 -Sky e 692-ClaroTV).

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