Um estudo publicado recentemente na revista Management Science descreve como a qualidade do ar que você respira pode afetar as tomadas de decisões estratégicas. Segundo a pesquisa, o jeito das pessoas de jogar xadrez pode ser influenciado pela poluição.

Para o estudo, os pesquisadores acompanharam 121 jogadores em três torneios de xadrez de oito semanas, registrando mais de 30 mil movimentos sob condições diversas de qualidade do ar. Créditos: sfotoz – Shutterstock

Experimentos conduzidos durante o estudo mostraram que, quando a concentração de material particulado (PM) fino no ar aumentava em uma certa quantidade, os jogadores de xadrez cometiam um número maior de movimentos errados nas partidas.

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Além disso, um software que usa Inteligência Artificial (IA) para analisar jogos detectou que os erros cometidos eram mais graves na presença de ar mais poluído.

Mais especificamente, quando o nível de partículas finas aumentou 10 μg/m3 (microgramas por metro cúbico), as chances de os jogadores de xadrez cometerem um erro cresceram 2,1 pontos percentuais, enquanto a gravidade de seus erros aumentou 10,8%.

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“Descobrimos que, quando os indivíduos são expostos a níveis mais altos de poluição do ar, eles cometem mais erros e erros maiores”, diz o coautor Juan Palacios, economista do Laboratório de Urbanização Sustentável do Instituto de Tecnologia de Massachusetts, nos EUA.

Pode-se entender o PM como um “coquetel” de partículas sólidas e gotículas líquidas transportado pelo ar, contendo diversas substâncias como poeira, fuligem, fumaça, matéria orgânica e vários produtos químicos. Muitas vezes é um subproduto da combustão, permanecendo no ar depois que algo queima.

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Alguns PMs vêm de fontes naturais, como vulcões e incêndios, mas grande parte da poluição do ar tem como fonte as mãos do homem, seja pelas usinas de energia, uso de veículos ou pela agricultura.

De acordo com o site Science Alert, os PMs são categorizados conforme o tamanho das partículas, com peças menores representando maiores riscos. O menor grupo, chamado material particulado fino ou PM 2,5, inclui partículas com um diâmetro de 2,5 mícrons ou menos – um tamanho que permite uma passagem mais profunda para as vias respiratórias e adentro.

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Estudo busca entender os efeitos cognitivos da qualidade do ar

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a poluição do ar leva a milhões de mortes prematuras em todo o mundo a cada ano. Sabe-se que ela pode contribuir para o câncer, doenças cardíacas e outros problemas de saúde, mas um campo crescente de pesquisa também busca uma visão urgente de seus efeitos cognitivos.

Má qualidade do ar pode ocasionar muitos problemas de saúde, mas pouco se sabe sobre os efeitos cognitivos da poluição. Créditos: Helen Sushitskaya – Shutterstock

Para o novo estudo, os pesquisadores acompanharam 121 jogadores em três torneios de xadrez de oito semanas na Alemanha, de 2017 a 2019, registrando mais de 30 mil movimentos. A IA ajudou a julgar cada movimento, identificar ótimas decisões e sinalizar erros.

Também foram usados sensores dentro dos locais do torneio para registrar os níveis de PM 2,5, além de dióxido de carbono e temperatura. As condições externas podem afetar esses fatores mesmo em ambientes fechados, observam os autores.

Os níveis de PM 2,5 dentro dos ambientes durante os torneios variaram de 14 a 70 microgramas por metro cúbico de ar, o que se compara, segundo o estudo, ao de muitas áreas urbanas.

Todos os sinais apontam para o PM 2,5 como o responsável por um desempenho mais baixo, relatam os pesquisadores, com outras variáveis como temperatura, CO2 e níveis de ruído não mostrando semelhantes ligações com as decisões do jogador.

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Os pesquisadores também consideraram a qualidade dos oponentes dos jogadores, usando classificações padronizadas de xadrez para avaliar se as quedas no desempenho poderiam apenas indicar uma disputa mais difícil.

Combinação de fatores

O estudo incluiu uma análise de variáveis instrumentais, um método estatístico para estimar relações causais para ajudar a descartar outras explicações. “É pura exposição aleatória à poluição do ar que está impulsionando o desempenho dessas pessoas”, diz Palacios. “Contra adversários comparáveis na mesma rodada do torneio, estar exposto a diferentes níveis de qualidade do ar faz a diferença para a qualidade do movimento e a qualidade da decisão”.

Segundo o estudo, a combinação de poluição do ar e pressão do tempo tornou as coisas ainda piores. Quando os jogadores eram forçados a correr contra o relógio em uma parte crítica da partida, a carga extra de partículas aumentou ainda mais a probabilidade de um erro em 3,2 pontos percentuais e a magnitude dos erros em 20,2%.

“Quando esses jogadores não têm a capacidade de compensar o menor desempenho cognitivo com maior deliberação, é aí que estamos observando os maiores impactos”, revelou Palacios.

Embora esse estudo seja limitado a jogadores de xadrez, os riscos dos PMs para a saúde são mais abrangentes. A abordagem usa o xadrez para ajudar a ilustrar o que a poluição do ar pode fazer não apenas aos pulmões e corações, mas também aos cérebros.

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