No mês passado, uma imensa bola de fogo iluminou os céus da França, como resultado da passagem pela atmosfera da Terra de fragmentos do asteroide 2023 CX1 (inicalmente chamado de SAR 2667), que havia sido descoberto poucas horas antes – a essa luz produzida pelo evento, é que se dá o nome de meteoro. Não demorou muito para os “caçadores de meteoritos” começarem sua busca por resquícios da rocha espacial.

Primeiro meteorito do asteroide 2023 CX1, que caiu sobre a França. Imagem: Vigie-Ciel

E por que esses pedregulhos são tão cobiçados? Simplesmente, pela emoção de se ter uma lembrança do espaço? Pela sensação de ver de perto algo que veio de fora da Terra?

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Pode ser… Também vale ressaltar, no entanto, que esses pedaços de rochas espaciais, muitas vezes, são vendidos por milhares de dólares, o que leva muita gente a uma verdadeira corrida contra o tempo quando as características luzes das quedas cortam os céus — pessoas que são conhecidas como caçadores de meteoritos.

Resumo:

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  • Meteoritos são pedaços de asteroides que caem na Terra após passarem pela atmosfera do planeta, gerando meteoros;
  • Eles podem cair em qualquer lugar do mundo;
  • Existem pessoas conhecidas como “caçadores de meteoritos”, que procuram por esses detritos seja por hobby ou para fins lucrativos;
  • Eles, geralmente, fazem suas buscas em terrenos limpos e preferencialmente com solo claro que permita destacar as rochas espaciais que normalmente apresentam uma coloração escura;
  • Depois, eles analisam as propriedades de rochas incomuns para ver se descobriram um meteorito;
  • Determinadas características identificam os meteoritos, mas, se forem combinadas com certas outras, significa que a rocha encontrada é do nosso planeta mesmo.
Meteorito de Winchcombe, que caiu em uma aldeia inglesa em 2021, é o mais intacto já encontrado. Imagem: King et al/Science Advances

Fazendo uso de radares especiais e equipamentos de medição climática, os caçadores de meteoritos são capazes de partir em direção a outras cidades e até outros estados à procura de pedaços de rochas espaciais.

Conforme explica o site Mega Curioso, uma vez delimitado o perímetro da queda, entram em ação ferramentas como detectores de metais e dispositivos GPS, começando aí uma verdadeira — e muitas vezes lucrativa — caçada.

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Mas, será que qualquer pessoa, sem equipamentos especiais, é capaz de encontrar meteoritos por aí? Vamos descobrir.

Onde eles estão?

Meteoritos podem aparecer em praticamente qualquer lugar da Terra. Muitos deles já estão aqui há milênios. No entanto, sempre chegam outros — e alguns resultantes de meteoros estrondosos o suficiente para virar notícia (e alvoroçar os perseguidores).  

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Um meteorito só pode chegar à superfície da Terra passando pela espessa atmosfera do planeta. O atrito, a pressão e as interações químicas com os gases atmosféricos fazem com que a rocha comece a queimar à medida que despenca, produzindo um meteoro —  popularmente chamado de estrela cadente.

Famoso Meteoro de Chelyabinsk, que iluminou os céus da Rússia em 2013. Imagem: Tuvix/Youtube

Essa entrada ardente deixa uma crosta de fusão na superfície do meteorito. Por essa razão, os meteoritos tendem a ser mais escuros do que as rochas regulares na Terra, sendo melhor vistos em terrenos de cor clara com pouca vegetação, como o sudoeste dos EUA ou a Antártica, por exemplo.

O continente gelado, de fato, é um local tão bom para caçadores de meteoritos que equipes de cientistas o visitam todos os anos à procura dessas rochas, dirigindo ao longo da superfície até enxergarem uma rocha escura solitária na extensão quase ininterruptamente branca.

É necessário ir para tão longe?

Nem sempre é preciso viajar para lugares distantes no mundo para encontrar um meteorito. Eles podem, inclusive, vir até você (como é o caso de algumas rochas espaciais que desabaram sobre telhados ou nos quintais de casas). 

Isso é até um alerta: fique atento aos relatos locais de bolas de fogo brilhantes iluminando o céu da sua região. Os detritos de tais fenômenos desabam pelo chão e, às vezes, podem atingir construções ou veículos. 

Certo, mas, se nenhum meteorito chegar até você, seja de que maneira for, então onde começar a procurar?

A primeira coisa que você deve se atentar é que precisará de permissão expressa para caminhar em qualquer terra privada e tirar qualquer coisa que encontrar.

Quando estiver caminhando, procure por rochas que sejam diferentes de seus arredores. Os meteoritos são geralmente escuros, pretos ou enferrujados e castanhos avermelhados. Alguns têm depressões semelhantes a impressões digitais que cobrem a superfície chamadas remaglitos (umas “covinhas”).

Meteorito Chelyabinsk, pesando mais de 500 kg, que caiu no Lago Chebarkul, na região de Chelyabinsk, Rússia, em 15 de fevereiro de 2013. Imagem: akimov konstantin – Shutterstock

E como saber se é mesmo um meteorito?

Depois de encontrar uma rocha que você suspeita ser um meteorito, uma das maneiras mais fáceis de testar seu candidato é utilizando um ímã. Se a rocha adere ao ímã, você pode realmente ter encontrado um meteorito! 

Alguns deles têm uma porcentagem relativamente alta de metais, especialmente ferro.Se for possível, você também pode usar um detector de metais para comprovar.

Você também pode consultar um site, como o do Museu de Meteoritos da Universidade do Novo México e o guia do astrônomo amador André Moutinho, que o ajudará a analisar sua rocha e realizar testes que vão auxiliar a validar sua descoberta.

É um meteorito, se…

… atender aos requisitos abaixo:

Magnetismo: um meteorito geralmente gruda em um ímã de geladeira comum;

Peso e densidade: meteoritos tendem a ser densos e, portanto, mais pesados do que as rochas da Terra do mesmo tamanho;

Crosta de fusão: ao cair na Terra, o exterior dos meteoritos queima e cria uma cobertura escura da casca do ovo. Por dentro dessa casca, o interior é muitas vezes de cor mais clara;

Depressões como marcas de dedos (remaglitos): procure “covinhas” rasas em sua rocha e compare-as com imagens de meteoritos conhecidos na internet;

Côndrulos: a maioria dos meteoritos exibem pequenas esferas de material pedregoso densamente embaladas e não porosas em seu interior;

Não risca: na parte de trás de um azulejo de cerâmica, escreva com a rocha como se fosse um lápis de cera. Se deixar uma marca, provavelmente é da Terra. Se não deixar uma marca, pode ser do espaço.

Provavelmente, não é um meteorito se…

Essas dicas são do site Earthsky.org, que ressalta, no entanto, que os meteoritos não têm necessariamente todas as características acima. Alguns podem apenas ter uma crosta de fusão e ser magnéticos. Outros têm as depressões como marcas de dedos e mostram côndrulos quando cortados. 

Esférulas entro de uma rocha espacial, características que recebem o nome de côndrulos. Imagem: Rhian H. Jones

No entanto, se eles têm alguma das características abaixo, provavelmente não são meteoritos:

Buracos (ou vesículas): as rochas terrestres podem ser porosas e ter bolhas ou vesículas de sua criação no magma durante erupções vulcânicas;

Quartzo ou cristais: o quartzo é um dos minerais mais abundantes na Terra e, geralmente, não é alienígena;

Aparência redonda ou áspera: meteoritos tendem a ter uma forma muito irregular, mas suas superfícies tendem a ser lisas e não arranhadas devido ao calor enfrentado em sua passagem pela atmosfera.

Leia mais:

O esquema abaixo, elaborado pela professora Maria Elizabeth Zucolotto, do Museu Nacional (da Universidade Federal do Rio de Janeiro), é um excelente guia:

Créditos: Maria Elizabeth Zucolotto

Então, é fácil encontrar meteoritos!

Opa, não é bem assim. Embora os meteoritos possam existir em qualquer lugar do mundo, eles são uns dos minerais mais raros que você pode encontrar. Até mesmo ouro, diamantes e esmeraldas são mais abundantes do que rochas espaciais.

Então, se você encontrar uma por aí, é realmente uma pessoa de sorte!

O que fazer caso acredite que tenha encontrado uma rocha espacial?

Pronto, você encontrou um possível meteorito. E agora, o que fazer? Quem explica é o astrônomo amador Marcelo Zurita, presidente da Associação Paraibana de Astronomia (APA), membro da Sociedade Astronômica Brasileira (SAB), diretor técnico da Rede Brasileira de Observação de Meteoros (BRAMON) e colunista do Olhar Digital.

“Primeiramente, não precisa ter medo de manusear rochas espaciais. Elas não são radioativas nem tóxicas. Meteoritos são inofensivos”, afirma Zurita, ressaltando que esses objetos jamais devem ser lavados, muito menos diluídos para consumo, como aconteceu na Indonésia. 

Ele orienta manter o possível meteorito longe da água e da umidade. “Você pode guardá-lo dentro de um pote ou de um saco plástico, mantendo-o em um lugar fresco e arejado”. 

Também é aconselhável tirar muitas fotos do achado, com boa iluminação, mas sem flash. Em seguida, essas fotos devem ser encaminhadas para um especialista analisar, juntamente com as coordenadas do local onde a rocha foi encontrada.

Aqui no Brasil, a BRAMON costuma receber essas fotos. A organização conta com vários especialistas para analisar as imagens e orientar como o descobridor deve proceder, caso se confirme a origem espacial do objeto.

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