Um artigo publicado nesta segunda-feira (17) na revista Nature descreve uma pesquisa que possibilitou a criação de uma fragrância que tem “o cheiro da Lua”. Segundo o “escultor de perfumes” francês e consultor científico aposentado Michael Moisseeff, sua mais recente produção foi inspirada na descrição de odores da superfície lunar feita por Buzz Aldrin, o segundo homem a pisar naquele chão.

“A maioria dos animais usa cheiros para localizar alimentos, encontrar parceiros, manter laços sociais e evitar inimigos. Os seres humanos estão relativamente mal equipados para fazer qualquer uma dessas coisas, porque temos muito menos receptores olfativos do que cães ou elefantes, por exemplo. Muitas pessoas não conseguem apreciar o quão importante são os cheiros para o aprimoramento de suas vidas”, diz Moisseff no artigo.

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Ele tem um laboratório na casa em que mora, numa aldeia no sul da França. Foi lá que o perfumista desenvolveu a fragrância que tem o cheiro da Lua, especialmente para uma exposição no Space City, um museu de Toulouse.

Buzz Aldrin, durante a atividade extraveicular da missão Apollo 11 na Lua. Segundo o astronauta e outros colegas que também estiveram por lá, o solo lunar cheira a pólvora queimada. Crédito: NASA

E o que lembra o cheiro da Lua? Segundo a descrição de Aldrin, nosso satélite natural fede a pólvora gasta. Pelo menos, foi essa a sensação que ele teve ao tirar o capacete dentro do módulo lunar, em 1969.

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Se isso é um cheiro propício para o desenvolvimento de um “perfume”, vai do gosto de cada um, mas o fato é que o “alquimista” francês conseguiu reproduzir o aroma. Agora, se está exatamente como o astronauta sentiu, só ele mesmo poderá comprovar.

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Em um livro publicado por ele em 2009, intitulado “Magnífica Desolação: A Longa Viagem da Lua para casa”, Aldrin lembrou que quando ele e o colega Neil Armstrong voltaram para dentro do módulo de pouso e perceberam que estavam cobertos de poeira lunar, eles se depararam com “um cheiro metálico pungente, algo como pólvora, ou o cheiro no ar depois que um rojão disparou”.

Em uma entrevista ao site Space.com, em 2015, Aldrin também expôs sua percepção do cheiro da Lua, descrevendo-o como “parecido com carvão queimado ou semelhante às cinzas que estão em uma lareira, especialmente se você borrifar um pouco de água sobre elas”.

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Os astronautas da Apollo 11 não foram os únicos a sentir esse cheiro na Lua. “Tudo o que posso dizer é que a impressão instantânea de todos do cheiro foi a de pólvora gasta”, declarou Harrison Schmitt, membro da missão Apollo 17, a última a pousar astronautas na Lua, em 1972. “O cheiro de pólvora gasta provavelmente foi muito mais implantado em nossas memórias do que outros odores comparáveis”.

Como foi reproduzido o cheiro da Lua

“Eu recrio cheiros usando um alambique – ou aparelho de destilação – para extrair substâncias, um evaporador rotativo para remover solventes, balanças de medição muito precisas para os produtos químicos e um arquivo com 3.000 a 4.000 odores de referência”, explica Moisseeff. É desse banco de dados que ele obteve a essência de pólvora queimada.

Moisseeff conta que armazena esses produtos químicos em forma líquida em uma sala isolada, com temperatura ambiente de cerca de 14°C. “Alguns são óleos essenciais e outros extratos naturais; outros, eu fiz do zero, extraindo-os de plantas e outras fontes naturais”.

Além de ter criado muitas fragrâncias para exposições, como as das florestas tropicais das Ilhas Andaman, no Oceano Índico, ele também desenvolveu aromas usados para treinar especialistas da indústria vinícola, incluindo variedades de uvas, solos, minerais e notas vegetais e florais.

O consultor também administra o museu Explorarôme, que fica em sua própria casa. “Os visitantes podem sentir o cheiro de espécies de plantas aromáticas no jardim de fragrâncias e plantas exóticas na estufa, aprender como os aromas são capturados no laboratório e tentar adivinhar o que eles estão cheirando em nossa exposição interativa”. 

Segundo Moisseeff, não há respostas erradas – “nossa relação com o olfato é única e pessoal”.

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