Para Drake e The Weeknd, existência de “Heart on My Sleeve” pode ter incomodado. Isso porque a música, feita com IA (inteligência artificial), trouxe simulações bem passáveis das suas vozes e bombou nesta semana, até serviços de streaming tirarem ela do ar por ser “fake”. Foi uma novidade de curta duração eliminada facilmente por uma gravadora de peso.

Já para outros na indústria, música – que se tornou uma daquelas curiosidades que viralizam nas redes sociais, acumulando milhões de reproduções no TikTok, Spotify, YouTube e por aí vai – tocou numa questão mais séria. Foi um prenúncio das dores de cabeça que podem ocorrer quando uma tecnologia nova “pega” entre criadores e consumidores antes das regras necessárias para seu uso estarem em vigor.

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‘IAs criativas’ e porquê preocupam

Mãos robóticas dobrando origami
Quando IAs geram e difundem conteúdo com elementos protegidos por direitos autorais, empresas ficam preocupadas (Imagem: IndianAI)

“Heart on My Sleeve” foi o exemplo mais recente – e expressivo – de um fenômeno que explodiu nos últimos meses e ocorre numa área cinzenta: faixas caseiras produzidas com IA generativa (capaz de gerar conteúdo), em parte ou na íntegra, para evocar sons familiares passáveis ​​como autêntico – ou que chegam muito perto disso.

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Aliás, não demorou para comparações entre esse tipo de tecnologia e outras anteriores que perturbaram a indústria da música começarem a pipocar. Entre as citadas, estão sintetizador, sampler e Napster – um serviço de compartilhamento de arquivos.

Por um lado, “IA Rihanna” cantando música da Beyoncé ou “IA Kanye West” fazendo “Hey There Delilah” podem parecer brincadeiras inofensivas. Por outro, a chegada bem-sucedida (embora breve) de “Heart on My Sleeve” nas plataformas de streaming, com marketing on-line astuto de seu criador anônimo, aumentou som de alarmes que já soavam no negócio da música.

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No momento, modelos de IA “aprendendo” e depois diluindo material protegido por direitos autorais tem tirado o sono do alto escalão das corporações fonográficas.

Escalada do problema

Par de mãos robóticas sobre teclado
Artistas e gravadoras confiam que fandoms consigam distinguir original do conteúdo produzido por IA (Imagem: Reprodução/Harvard Gazette)

O Universal Music Group, uma das grandes gravadoras dos EUA e lar de Drake e The Weeknd, já havia sinalizado esse conteúdo para seus parceiros de streaming neste mês, citando questões de propriedade intelectual. Mas, num comunicado esta semana, empresa subiu o tom, questionando: “de que lado da história as partes interessadas no ecossistema da música querem estar: dos artistas, fãs e expressão criativa humana; ou dos deep fakes, fraude e negando aos artistas sua devida compensação?”.

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Artistas e suas gravadoras estão confiantes, pelo menos por enquanto, de que componente social e emocional do fandom vai separar trabalho do verdadeiro Drake de um falso. Mesmo que uma versão de IA consiga emular preocupações emocionais e tiques musicais do artista.

Porém, se essa questão afetar bolso das superestrelas ou os tornarem obsoletos, em favor de máquinas que podem imitá-los – tudo isso é apenas um lado da equação. Geradores de música isentos de royalties podem ser usados ​​agora para compor uma batida de rap, um jingle comercial ou uma trilha sonora de filme, cortando uma economia já frágil para músicos que trabalham.

Como IA generativa cresce e melhora rapidamente em texto, imagens, som e vídeo, especialistas dizem que a tecnologia pode remodelar indústrias criativas em todos os níveis, com fãs, artistas e sistemas que os governam precisando se ajustar às novas normas em tempo real.

Com informações de The New York Times

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