A guerra fria foi o combustível que manteve bem quente a corrida espacial entre Estados Unidos e União Soviética, na segunda metade do século XX. Em 1957, os soviéticos colocaram o primeiro satélite artificial em órbita da Terra e, 4 anos depois, enviaram o primeiro homem para o espaço. Em 1969, os americanos enviaram uma missão tripulada para a Lua, e se tornaram os primeiros a caminhar em solo lunar.

Só que para conquistar definitivamente o espaço, precisaríamos fazer um pouco mais além de arriscadas excursões pelas proximidades da Terra. O homem precisaria se estabelecer no espaço. Um importante passo nessa conquista foi dado há 50 anos, em 1973, quando os Estados Unidos lançaram a Skylab, sua primeira estação orbital, capaz de abrigar humanos em longas estadias no espaço.

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[ Uma visão do laboratório orbital Skylab na órbita da Terra fotografado pela tripulação da Missão Skylab 4 antes de retornar para a superfície – Créditos: NASA ]

A Skylab, como o nome sugere, foi um laboratório orbital, onde foram realizados centenas de experimentos em pouco menos de um ano de operação. Mas ela não foi a primeira estação espacial da história. Este mérito é dos soviéticos, que colocaram em órbita a Salyut 1, cerca de dois anos antes. 

Só que a estação soviética não teve muita sorte em sua curta estadia no espaço. Sua primeira tripulação não conseguiu desembarcar na Salyut 1 por uma falha de acoplamento. Já a segunda, depois de passar 23 dias a bordo da estação, teve um problema numa das válvulas da espaçonave Soyuz no momento em que voltava para a Terra. Esta falha acabou vitimando todos os três tripulantes. Três meses depois da tragédia, a Salyut 1, reentrou na atmosfera encerrando prematuramente a trajetória da primeira estação espacial da história.

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[ Ilustração da Estação Espacial Salyut 1 com uma espaçonave Soyuz se aproximando acima e à esquerda – Créditos: RIA-Novosti ]

Já a Skylab, podemos dizer que teve sucesso naquilo que se propôs. Os americanos aproveitaram sua experiência adquirida nas missões Apollo, e parte do que havia sido desenvolvido para levar o homem à Lua para criar sua primeira estação orbital. O corpo principal da Skylab foi montado na estrutura de um segundo estágio do foguete Saturno V, e incluía o mesmo Módulo de Comando e Serviço utilizado nas missões lunares. 

Durante as viagens à Lua, foram realizadas várias manobras de encontro e acoplamento em órbita, experiência fundamental para que as falhas da primeira missão tripulada da Salyut 1 não se repetissem com os americanos. 

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A Skylab tinha 17 metros de comprimento, 6 de diâmetro e mais de 100 toneladas de massa. Possuía um adaptador de acoplamento múltiplo com duas portas e um módulo de câmara com escotilhas para atividades extraveiculares. Em seu interior, havia uma oficina, um observatório solar Apollo e várias centenas de experimentos físicos e biológicos.  A energia elétrica era gerada a partir de painéis solares e células de combustível do Módulo de Comando e Serviço. Na parte traseira, um tanque de resíduos e outro de propelente, utilizado para manobrar a nave.

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[ Diagrama da Estação Espacial Skylab – Créditos: NASA ]

Toda essa estrutura foi colocada em órbita em uma versão modificada do poderoso foguete Saturno V, lançado no dia 14 de maio de 1973, a partir do Centro Espacial Kennedy, na Flórida. Essa missão que colocou a estação espacial americana em órbita foi chamada de Skylab 1, e aquele seria o último voo do Saturno V, o foguete que levou o homem à Lua.

[ Imagem do Sol registrada a partir da Skylab – Créditos: NASA ]

Três missões subsequentes, as Skylab 2, 3 e 4, levaram três diferentes tripulações para a estação orbital. Essas missões foram lançadas em foguetes Saturno IB, uma versão menos potente do Saturno V.

Foi a partir da Skylab que o primeiro grande reparo de uma espaçonave foi realizado no espaço. Durante o lançamento, o escudo de micrometeoróides se desprendeu, danificou um dos painéis solares principais e bloqueou o outro conjunto principal. Isso criou uma “crise energética” que colocou a Skylab em “bandeira vermelha” e expôs a nave a um maior aquecimento solar, o que ameaçava torná-la inutilizável. Por isso, a primeira equipe da Skylab precisou substituir a proteção térmica danificada e liberar os painéis solares bloqueados. E isso, garantiu o correto funcionamento da estação. 

Na parte científica, o telescópio Apollo realizou importantes observações do Sol a partir do espaço, os astronautas também tiraram milhares de fotos da Terra, das estrelas e do cometa Kohoutek. Um pacote de experimentos também observou a Terra tanto em luz visível, quanto no infravermelho e micro-ondas, além de outras centenas de experimentos nas áreas da fisiologia humana, biomedicina, física espacial, recursos minerais, geologia e meteorologia, incluindo 19 experimentos enviados por estudantes.

[ Imagem do Sol registrada a partir da Skylab – Créditos: NASA ]

Um dos experimentos realizados na Skylab, rendeu ao cientista Riccardo Giacconi, o Prêmio Nobel de Física em 2002, por seus estudos na astronomia de raios-X.

O recorde de permanência no espaço também foi estendido dos 23 dias estabelecidos pela tripulação da Soyuz 11 a bordo da Salyut 1, para 84 dias pela tripulação do Skylab 4. 

O fim da Skylab

Só que o sucesso da Skylab não a livrou de um final não muito feliz. Com o fim do combustível do Módulo de Comando e Serviço, a estação não era mais capaz de elevar a sua órbita que decaia dia após dia. O plano americano era utilizar o ônibus espacial para acoplar na Skylab e impulsionar o laboratório para uma órbita mais alta. 

Infelizmente, o projeto do ônibus espacial atrasou e ele não ficaria pronto a tempo de salvar a estação americana. Uma solução alternativa foi planejada, mas o orçamento de mais de US$ 60 milhões não foi liberado, o que condenou a Skylab à uma reentrada descontrolada na atmosfera.

O fim da Skylab chamou a atenção da mídia internacional. Afinal, não é todo dia que uma estação orbital de mais de 100 toneladas cai de forma descontrolada na Terra. O último recorde da Skylab foi a de reentrada mais perigosa da história da exploração espacial. Um relatório da NASA calculou que havia uma chance de 0,7% de que os destroços da Skylab atingissem uma pessoa, e cerca de 14% de possibilidades de que alguma parte da estação espacial caísse em uma grande cidade. 

Estima-se que cerca de 30 toneladas de detritos tenham resistido ao calor da passagem atmosférica e atingido o solo no sudoeste da Austrália. Muitos deles foram recuperados e hoje estão expostos em museus. Felizmente, não houve nenhum ferido nem maiores danos, mas o fim da primeira estação espacial americana foi quase tão espetacular quanto os feitos alcançados por ela, desde 50 anos atrás, quando a Skylab foi colocada em órbita da Terra e ajudou a humanidade a conquistar de vez o espaço. 

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