Um dos membros da missão Artemis 2, voo que será lançado pela NASA em 2024 para uma temporada de 10 dias ao redor da Lua, tem uma incrível descoberta no currículo. Jeremy Hansen, que se tornará o primeiro canadense a entrar em órbita lunar, está entre os responsáveis por encontrar uma das mais raras crateras de impacto da Terra.

Isso aconteceu há 12 anos, quando ele ainda nem fazia parte do corpo de astronautas da Agência Espacial Canadense (CSA). 

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Tripulação da missão Artemis 2, formada pelo canadense Jeremy Hansen (primeiro, da esq. para a direita), Victor Glover, Reid Wiseman e Christina Koch. Crédito: James Blair/NASA

Hansen, que é mestre em física, fez parte de uma expedição junto a outros cientistas da Universidade do Ontário Ocidental para explorar o Lago Gow, uma área remota em Saskatchewan que só havia sido vista antes em imagens de satélite. 

Um artigo publicado este mês na revista Meteoritics & Planetary Science descreve a descoberta feita em 2011 pela equipe, que foi liderada pelo renomado geólogo Gordon Osinski, professor pesquisador da instituição.

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Quando estiver no espaço, é provável que Hansen consiga ver de cima o local onde esteve presencialmente durante a pesquisa, e que até se assemelha a algumas das crateras lunares que poderão ser observadas por ele de perto ao se aproximar da Lua a bordo da cápsula Orion.  

Imagem captada pelo satélite Landsat-8, da NASA, do local de impacto do Lago Gow. A linha branca tracejada é a borda aparente da cratera Saskatchewan. Crédito: Serviço Geológico dos EUA

NASA valoriza pesquisas científicas dos astronautas

Segundo Osinski, o artigo sobre a descoberta da cratera Saskatchewan (que leva o nome da província canadense onde é localizada, também chamada de Lago Gow) demorou para ser publicado devido a preocupações de pesquisas mais urgentes e à pandemia de Covid-19.

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A espera, no entanto, valeu a pena, pois a instrumentação de laboratório melhorou nos 12 anos seguintes, aprimorando a pesquisa de acompanhamento.

Embora o astronauta não esteja listado como autor do estudo, Hansen é citado calorosamente nos agradecimentos “por sua companhia em campo”. 

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Aquela não foi a única expedição geológica do futuro explorador lunar canadense na Terra. Mesmo depois de ter-se formado astronauta, ele continuou participando de pesquisas nesse sentido – algo extremamente valorizado pelas agências espaciais, como a NASA, que o escolheu como membro do Programa Artemis

“A razão pela qual vou nessas expedições de geologia é porque, como astronauta, estamos nos preparando para fazer exploração em outros corpos planetários e, é claro, a geologia será uma grande parte da ciência que fazemos lá”, disse Hansen em 2015 ao site MyKawartha.com.

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Detalhes sobre a cratera descoberta pelo astronauta da missão Artemis 2

Esse é o primeiro estudo detalhado sobre o Lago Gow, uma cratera que se formou há cerca de 200 milhões de anos. Os geólogos coletaram algumas “rochas estranhas” que não refletiam o terreno local e confirmaram em laboratório que elas foram moldadas por um impacto de derretimento de pedras.

Osinski, geólogo que investiga inúmeras crateras no Canadá há décadas, partiu na jornada ao lado de Hansen e dois estudantes “para o desconhecido”, segundo ele. “Embarcamos em um hidroavião e usamos uma canoa também, o que foi uma maneira divertida de fazer uma expedição de geologia. Desembarcamos na ilha [que fica no centro do lago], montamos acampamento e depois saímos para explorar”, relatou o pesquisador ao site Space.com.

“Montamos o mapa de geologia da ilha e encontramos muitos tipos de rochas realmente interessantes que eu não estava esperando, dada a idade deste local”, disse ele.

Um exemplo foram as rochas derretidas por impacto, como as juntas colunares, que formam rachaduras hexagonais à medida que a lava de basalto esfria. Elas são encontradas em locais como o famoso Giant’s Causeway, na Irlanda, e são “extremamente raras” ao redor do planeta.

Segundo Osinski, o Lago Gow poderia fornecer uma boa analogia para crateras perto do polo sul da Lua, onde a NASA pretende pousar a missão Artemis 3 em 2025 e construir uma base permanente ao longo dos anos seguintes.

Cratera Giordano Bruno, na Lua, vista pelo Lunar Reconnaissance Orbiter da NASA. Antes da cratera terrestre Saskatchewan ser erodida, ela pode ter se parecido com esta cratera lunar. Crédito: NASA/Goddard/Arizona State University

O mais interessante do achado foi detectar o tipo da cratera. Isso porque as imagens de satélite enganaram os geólogos por 50 anos. No início, achava-se que o Lago Gow tinha se formado como uma cratera complexa, um tipo também visto na Lua, resultante de impactos maiores, quando o pico central no meio colapsa.

“Mas acontece que a ilha é feita dessas rochas derretidas e brechas de impacto, não realmente material emergido da profundidade”, disse Osinski.

O que eles viram, portanto, foi uma cratera de transição, que só foi encontrada em um único outro ponto da Terra: o Goat Paddock, no noroeste da Austrália. “Pode ter havido mais dessas crateras na Terra que foram mascaradas ou apagadas pela erosão”, disse Osinski.

Já na Lua, no entanto, as crateras de transição são comuns e, segundo Osinski, podem fornecer informações valiosas sobre como as rochas espaciais afetam o ambiente local após a queda de um meteorito.

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