Cinturão de radiação é detectado fora do sistema solar

Os cinturões de radiação existem devido aos campos magnéticos e seu estudo pode ajudar a descobrir exoplanetas habitáveis
Por Mateus Dias, editado por Lucas Soares 22/05/2023 09h55, atualizada em 04/01/2025 16h57
Ilustração de um cinturão de radiação em torno da estrela LSR J1835 + 3259
Ilustração de um cinturão de radiação em torno da estrela LSR J1835 + 3259 (Credito: (Chuck Carter, Melodie Kao, Fundação Heising-Simons)
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Os cinturões de radiação são regiões em forma de rosquinha onde partículas são capturadas e aceleradas por campos magnéticos. Todos os planetas do Sistema Solar com magnetosfera possuem um, que eles existam em qualquer objeto que possua um campo magnético global.

Fora do sistema solar é muito difícil observar um cinturão de radiação, uma vez que seu brilho é fraco para ser facilmente detectado, mas não significa que seja impossível, e agora os astrônomos conseguiram vê-lo.

Esse cinturão de radiação está localizado em torno de uma anã vermelha, chamada LSR J1835 + 3259 e localizada a cerca de 20 anos-luz de distância. Ela possui uma massa muito baixa, é um pouco maior que Júpiter e com cerca de 77 vezes a sua massa.

Na verdade, estamos visualizando a magnetosfera de nosso alvo observando o plasma emissor de rádio – seu cinturão de radiação – na magnetosfera. Isso nunca foi feito antes para algo do tamanho de um planeta gigante gasoso fora do nosso Sistema Solar

Melody Kao, astrônoma e autora da pesquisa, em resposta ao Science AlertI

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Auroras, magnetosferas e cinturões de radiação

Na Terra, as partículas de vento solar formam um cinturão na magnetosfera chamado de cinturões de Van Allen. Urano, Netuno, Saturno e Mercúrio, também possuem essas estruturas.

Em Júpiter, eles também ocorrem e são formados principalmente pelo material expelido pelos vulcões de sua lua Io. Até mesmo Ganimedes, a maior lua do sistema solar possui um campo magnético e uma espécie de cinturão de radiação.

Mesmo que antes eles não tivessem sido claramente observados, já existiam sinais de que eles estavam ali. Isso porque estrelas de baixa massa e anãs marrons apresentam um fenômeno parecido com as auroras aqui na Terra, que ocorre quando partículas carregadas do Sol interagem com a magnetosfera.

Se esses objetos demonstram atividade auroral, o que aconteceu com a LSR J1835 + 3259, muito provavelmente eles possuem um campo magnético, o que os tornam perfeitos para busca de um cinturão de radiação.

Dessa forma, 39 radiotelescópios do mundo todo foram unidos em uma rede para equivaler a um telescópio do tamanho da Terra e observar a anã vermelha. E os pesquisadores encontraram o que eles procuravam, ao redor da anã vermelha existiam dois lóbulos emissores de rádio.

Essas emissões de rádio são muito parecidas com as que rodeia Júpiter, no entanto, no caso da estrela, por ela estar muito mais longe, provavelmente os lóbulos são cerca de 10 milhões de vezes mais brilhantes do que o do nosso Sistema Solar, mesmo que daqui ele pareça fraco.

O que mais despertou curiosidade nos pesquisadores é que a mesma radiação detectada na LSR J1835 + 3259, já havia sido observada em outras estrelas e acabou sendo atribuída a erupções na coroa estelar. Isso indica que provavelmente já havíamos vistos cinturões de radiação extra-solar muito antes e não sabíamos do que se tratava.

Planetas habitáveis

As evidências de que existem cinturões de radiação e campos magnéticos fora do sistema solar podem ajudar na procura de novos planetas habitáveis. A magnetosfera da Terra é considerada essencial para vida, isso porque ela protege a atmosfera e os organismos vulneráveis da exposição à radiação solar.

Ainda estamos longe de ter tecnologia capaz de ver cinturões de radiação em planetas fora do sistema solar, mas quando elas estiverem disponíveis também poderão ser úteis para encontrar exoplanetas com proteção semelhante à da Terra.

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Redator(a)

Mateus Dias é estudante de jornalismo pela Universidade de São Paulo. Atualmente é redator de Ciência e Espaço do Olhar Digital

Lucas Soares
Editor(a)

Lucas Soares é jornalista formado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e atualmente é editor de ciência e espaço do Olhar Digital.