Os hemocentros que oferecem sangue e seus derivados ao SUS (Sistema Único de Saúde) tem recebido um teste conhecido como Kit Nat Plus, desenvolvido pela Bio-Manguinhos/Fiocruz. De setembro de 2022 para cá, ele flagrou material genético do plasmódio (protozoário causador da malária) em seis bolsas doadas por indivíduos que estavam completamente assintomáticos.

O que você precisa saber:

  • O teste Kit Nat Plus, desenvolvido pela Bio-Manguinhos/Fiocruz, consegue detectar a malária em sangue doado por pessoas assintomáticas;
  • É o primeiro teste que consegue fazer isso em larga escala e de modo acessível;
  • De um lado, o teste aumenta a segurança de muita gente que precisa receber componentes sanguíneos numa transfusão;
  • De outro, possibilita que os hemocentros ligados ao SUS fora do Norte aceitem pessoas que, até então, eram impedidas de doar sangue.

Este é o primeiro teste capaz de detectar, em larga escala e de modo acessível, a malária no sangue doado por pessoas sem sintomas. Não à toa, sua pesquisa ganhou o Prêmio Oswaldo Cruz, durante o International Symposium on Immunobiologicals promovido pela própria instituição.

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O teste da malária

O Kit Nat Plus, no qual vem teste que detecta malária
(Imagem: Divulgação/Bio-Manguinhos/Fiocruz)

O Kit Nat Plus acusa fragmentos do DNA do próprio plasmódio, que são o rastro de sua presença no sangue.

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Para começar, ele aumenta a segurança de muita gente que precisa receber componentes sanguíneos numa transfusão. Por exemplo: pacientes com câncer, transplantados, quem tem distúrbios de coagulação e boa parte dos que passam por uma cirurgia.

O Kit Nat Plus possibilita que os hemocentros ligados ao SUS fora do Norte aceitem pessoas que, até então, eram impedidas de doar sangue pelo período de um ano depois de terem viajado para algum lugar da zona endêmica.

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Com os bancos de sangue sempre com estoques em baixa, o teste oferece uma ajuda valiosa. Afinal, graças a ele, os bancos deixam de abrir mão dos – já muito escassos – doadores. Agora dá para saber quem carrega o plasmódio da malária. E aquele período de espera para fazer a doação após visitar uma área endêmica passou ser de apenas um único mês.

A trajetória do teste

Parasita da malária entrando em glóbulo vermelho do sangue
Parasita da malária entrando em glóbulo vermelho do sangue (Imagem: NIAID/Wikimedia Commons)

O primeiro teste surgiu quando o Ministério da Saúde desafiou a Fiocruz, em 2004, a desenvolver um teste capaz de flagrar no sangue doado o material genético do HIV e do vírus da hepatite C, que eram a maior preocupação da época.

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Naquele tempo, só era feito o teste sorológico. Daí que sempre existia o risco da tal janela imunológica, quando não haveria anticorpos para o exame enxergar. E era um desafio porque deveria ser acessível para a rede pública.

Quando foi lançado em 2013, o Kit Nat foi o primeiro no mundo a distinguir o que um doador tinha. No mesmo ano, o Kit Nat incorporou a detecção de mais dois vírus, o HPV e o da hepatite B.

Então, em 2015, os pesquisadores começaram a pensar numa segunda geração dele, a “Plus”, turbinada com uma plataforma robótica atualizada e formas mais modernas de extrair o DNA de eventuais intrusos.

Junto, surgiu a discussão sobre qual poderia ser a quinta doença a ser detectada. Por fim, os cientistas pensaram na malária por sua importância no Brasil. Para você ter uma ideia, de acordo com o Ministério da Saúde, foram registrados 21.273 casos só nos dois primeiros meses de 2023, o que representa um aumento de mais de 12% em relação ao mesmo período de 2022.

A malária

Parasitas da malária entre glóbulos vermelhos do sangue
Parasitas da malária entre glóbulos vermelhos do sangue (Imagem: iStock)

No Brasil, se engana quem acha que a malária é um problema apenas para quem vive na região amazônica. De fato, 99% dos casos se encontram por lá, pelo Norte do país. Mas muitos brasileiros viajam pelo país.

Se a pessoa visita a região – seja para turistar pela floresta ou a trabalho – sempre há o risco de serem picadas num entardecer pelo mosquito Anopheles. Isso porque o inseto, transmissor do plasmódio, gosta do frescor dos finais de dia e da noite.

Portanto, em qualquer canto do território nacional você pode cruzar com alguém que tenha malária — e que às vezes ainda nem desconfia. Isso era um baita problema para os bancos de sangue.

A febre causada pela doença beira os 40 graus e fica indo e voltando a cada dois, três, ou quatro dias. E isso pode durar até três anos, se a pessoa não morrer antes por conta da infecção.

Mosquito que transmite malária picando uma pessoa
Mosquito que transmite malária (Imagem: ArtsyBee/Pixabay)

Após ser injetado no organismo pelo mosquito, o plasmódio não leva mais do que meia hora para alcançar o fígado, onde se multiplica a ponto de suas cópias estourarem as células hepáticas. Liberto na corrente sanguínea, passa a atacar as hemácias, os glóbulos vermelhos.

Ao arrebentá-las também, libera toxinas que fazem a temperatura do corpo ir às alturas. Então, invade mais hemácias. E o pior: é como se o sistema imunológico ficasse confuso, sendo capaz então de atacar órgãos do próprio corpo.

Porém, os sintomas clássicos – além do febrão, os calafrios, a transpiração e a enxaqueca cíclica — podem levar uma ou duas semanas para aparecer. Em alguns casos, até dois meses.

Com informações de Bio-Manguinhos e Fiocruz

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