Submarino Titan: implosão foi ouvida por sistema de espionagem ultrassecreto dos EUA

Implosão do submarino Titan foi detectada por sistema de espionagem subaquática ultrassecreto dos EUA implantado na época da Guerra Fria
Flavia Correia25/06/2023 13h24
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Crédito: Josh Benson/ Reprodução Twitter @WFLAJosh
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Conforme noticiado pelo Olhar Digital, sensores acústicos da Marinha dos EUA detectaram a suposta implosão do submarino Titan, desaparecido no último domingo (18), cujos destroços foram encontrados na quinta-feira (22).

De acordo com o site The Wall Street Journal (WSJ), esses sensores podem fazer parte de um sistema norte-americano de espionagem subaquática ultrassecreto originalmente desenvolvido para rastrear submarinos da então União Soviética (URSS) – sucedida pela Rússia – na época da Guerra Fria (1947-1991).

Segundo a publicação, a adoção desse sistema teria sido motivada por constantes temores sobre submarinos soviéticos que poderiam lançar armas nucleares. Além disso, as tensões de hoje com a China reforçam a importância do recurso, já que a Marinha do Exército de Libertação Popular navega uma frota de dezenas de submarinos, incluindo seis que podem transportar mísseis balísticos.

Recordando o caso do submarino Titan:

  • O submarino Titan desapareceu no domingo (18), pouco depois de iniciar uma de suas expedições turísticas até os destroços do Titanic (que se tornou o mais famoso naufrágio da história ao afundar no Atlântico Norte depois de colidir com um iceberg durante sua viagem de estreia, em 1912);
  • Operado pela OceanGate Expeditions e construído com ajuda da NASA, o veículo pesava 10.432 kg e tinha capacidade para atingir até quatro mil metros com 96 horas de suporte de vida disponível para uma tripulação de cinco pessoas;
  • Estavam a bordo do submarino: Stockton Rush (fundador e CEO da OceanGate), Shahzada Dawood (empresário paquistanês e curador do Instituto SETI), Suleman Dawood (filho de Shahzada, de 19 anos), Paul-Henry Nargeolet (explorador e ex-mergulhador da Marinha francesa) e Hamish Harding (presidente da empresa de corretagem de jatos Action Aviation, além de explorador recordista em vários segmentos);
  • A tripulação perdeu contato com seu navio de base na superfície, o Polar Prince, uma hora e 45 minutos depois de iniciar a descida;
  • Na terça-feira (20), a Guarda Costeira informou que os tripulantes eles tinham poucas horas de oxigênio disponível;
  • No dia seguinte, sons de ‘batidas’ foram detectados pela operação de resgate;
  • O mar agitado e a neblina dificultaram as buscas, de acordo com o suboficial Robert Simpson, porta-voz da Guarda Costeira;
  • Agências, militares e empresas dos EUA e do Canadá que atuam em águas profundas ajudaram na operação de resgate, usando aviões, um submarino e sonoboias;
  • Na quinta-feira (22), após pouco mais de três dias completos desde o desaparecimento, as autoridades concluíram não ser mais possível encontrar as vítimas com vida;
  • Após as famílias serem informadas, o anúncio das mortes veio a público;
  • Os destroços encontrados na área de busca indicam perda de pressão da cabine do submarino, o que gerou uma “implosão catastrófica”, segundo o contra-almirante da Guarda Costeira dos EUA, John Mauger.
Na quinta-feira (22), após pouco mais de três dias completos desde o desaparecimento do submarino Titan, as autoridades concluíram não ser mais possível encontrar as vítimas com vida. Imagem: DIvulgação/OceanGate

Por que o sistema de espionagem subaquático dos EUA é considerado ultrassecreto?

“Qualquer coisa que envolva a tríade nuclear é supersecreta”, disse Brynn Tannehill, analista técnica sênior da RAND (uma organização de pesquisa que desenvolve soluções para políticas públicas), referindo-se ao conceito estratégico de armas nucleares implantadas por terra, mar e ar. “E qualquer coisa que envolva capacidades de sensores dos EUA é supersecreta”.

O que se sabe é que no início da Guerra Fria, os norte-americanos começaram a trabalhar no que se tornaria o Sistema de Vigilância Sonora (SOSUS). Desenvolvido para detectar submarinos nucleares soviéticos, o SOSUS contava com uma rede de dispositivos de escuta chamados hidrofones fixados no fundo do mar. O próprio nome do programa só foi revelado anos depois do colapso da URSS. 

No entanto, a localização e as capacidades dos hidrofones permanecem em sigilo absoluto até hoje.

Animação mostra tecnologia de espionagem subaquática secreta dos EUA

Leia mais:

Sistema já foi usado em buscas subaquáticas antes do submarino Titan

O SOSUS já foi usado para encontrar embarcações naufragadas antes, como o USS Thresher, um submarino de propulsão nuclear que afundou em 1963 durante testes de mergulho ao largo de Cape Cod, Massachusetts, matando todas as 129 pessoas a bordo.

“O sistema permanece em uso hoje, e provavelmente detectou os ruídos causados pela implosão do Titan”, disse Tannehill ao WSJ. “Mas outros métodos de detecção também podem ter ajudado na busca”. 

Ela destaca que a participação do SOSUS nesses casos nunca é explicada detalhadamente. “Assim que você começa a falar sobre sistemas de guerra antissubmarino e barcos no Atlântico Norte, você imediatamente atinge a liberação ultrassecreta”, disse a analista, ressaltando que se a Marinha não parece “particularmente solícita” é porque ela não tem autoridade presidencial para revelar seus segredos.

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Flavia Correia
Redator(a)

Jornalista formada pela Unitau (Taubaté-SP), com Especialização em Gramática. Já foi assessora parlamentar, agente de licitações e freelancer da revista Veja e do antigo site OiLondres, na Inglaterra.