Uma nova pesquisa revela que pessoas que contraem Covid-19, mas nunca desenvolvem sintomas, podem ter uma vantagem genética secreta.

De acordo com um estudo liderado por pesquisadores da UC San Francisco e publicado na revista Nature esta semana, esses indivíduos têm mais que o dobro de probabilidade do que os sintomáticos de carregar uma variação genética específica que os ajuda a eliminar o vírus.

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  • O segredo está nos antígenos leucocitários humanos (HLA), ou marcadores proteicos que sinalizam o sistema imunológico.
  • Uma mutação em um dos genes que codificam o HLA parece ajudar as células T assassinas de vírus a identificar o SARS-CoV-2 e lançar um ataque rápido.
  • As células T de algumas pessoas que carregam essa variante conseguem identificar o novo coronavírus.
  • Isso acontece mesmo que nunca o tenham encontrado antes, graças à sua semelhança com os vírus do resfriado comum que eles já conhecem.

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A descoberta aponta para novos alvos para medicamentos e vacinas. A pesquisadora principal do estudo, Jill Hollenbach, Ph.D., MPH, professora de neurologia, epidemiologia e bioestatística e membro do Instituto Weill de Neurociências na UCSF, explica que “se você tem um exército capaz de reconhecer o inimigo cedo, isso é uma enorme vantagem. É como ter soldados preparados para a batalha e que já sabem o que procurar, e que esses são os vilões”.

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Como o estudo foi feito

A pesquisa se beneficiou de um registro nacional de doadores de medula óssea, o National Marrow Donor Program/Be The Match, que continha os dados necessários para o estudo. No entanto, ainda era preciso saber como os doadores se saíam contra a Covid-19.

Para isso, os pesquisadores utilizaram um aplicativo móvel desenvolvido pela UCSF chamado “Covid-19 Citizen Science Study”. Eles recrutaram quase 30.000 pessoas que também estavam no registro de medula óssea e as acompanharam ao longo do primeiro ano da pandemia, quando as vacinas ainda não estavam disponíveis e muitas pessoas faziam testes de rotina para Covid-19 por motivos profissionais ou sempre que potencialmente expostas.

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O grupo primário de estudo foi limitado a pessoas que se autodeclararam brancas, pois o número final de respondentes do estudo de outras etnias e grupos raciais não era suficiente para análise.

vacina covid
Pesquisa levou em conta pacientes não vacinados que se infectaram no período em que as vacinas ainda não estavam em ampla distribuição no mundo. Imagem: M-Foto/Shutterstock

Os pesquisadores identificaram 1.428 doadores não vacinados que testaram positivo entre fevereiro de 2020 e o final de abril de 2021, quando as vacinas ainda não estavam amplamente disponíveis e os resultados dos testes levavam muitos dias para serem obtidos. Desses, 136 indivíduos permaneceram assintomáticos por pelo menos duas semanas antes e depois do teste positivo.

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Os resultados

  • A mutação HLA-B15:01 é bastante comum, presente em cerca de 10% da população do estudo.
  • Ela não impede o vírus de infectar as células, mas sim de desenvolver sintomas.
  • Isso inclui nariz escorrendo ou até mesmo uma leve dor de garganta imperceptível.
  • Pesquisadores da UCSF descobriram que 20% das pessoas no estudo que permaneceram assintomáticas após a infecção carregavam pelo menos uma cópia da variante HLA-B15:01, em comparação com 9% daqueles que apresentaram sintomas.
  • Aqueles que tinham duas cópias da variante tinham muito mais probabilidade — mais de oito vezes — de evitar ficar doentes.
  • Apenas uma das variantes HLA — a HLA-B15:01 — apresentou uma forte associação com a infecção assintomática por Covid-19, e isso foi confirmado em dois grupos independentes.
  • Fatores de risco para Covid-19 grave, como idade avançada, sobrepeso e doenças crônicas como diabetes, não pareceram desempenhar um papel importante em quem permaneceu assintomático.

Para entender como a HLA-B15 conseguiu suprimir o vírus, a equipe de Hollenbach colaborou com pesquisadores da Universidade La Trobe, na Austrália. Eles se concentraram na memória das células T, que é como o sistema imunológico se lembra de infecções anteriores.

Os pesquisadores analisaram as células T de pessoas que carregavam a HLA-B15, mas nunca haviam sido expostas ao vírus SARS-CoV-2, e descobriram que essas células ainda respondiam a uma parte do coronavírus chamada peptídeo NQK-Q8.

Concluiu-se que a exposição a alguns coronavírus sazonais, que têm um peptídeo muito similar chamado NQK-A8, permitiu que as células T desses indivíduos reconhecessem rapidamente o SARS-CoV-2 e montassem uma resposta imune mais rápida e eficaz.

Ao estudar a resposta imune, isso pode nos permitir identificar novas formas de promover a proteção imunológica contra o SARS-CoV-2 que poderiam ser usadas no desenvolvimento futuro de vacinas ou medicamentos.

Stephanie Gras, professora e chefe do laboratório da Universidade La Trobe

Com informações de Medical Xpress.

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