Um estudo publicado na última semana no periódico científico The Journal of Archaeological Science: Reports relata a descoberta da identidade de um esqueleto encontrado em 1999 enterrado na Inglaterra, junto com uma coleção inusitada de bens funerários.

Entre os objetos estava um espelho e uma espada, que são itens normalmente associados a sepulturas femininas e masculinas, respectivamente, o que havia deixado os pesquisadores confusos quanto ao gênero e identidade dos restos mortais. Como o próprio esqueleto está altamente degradado, torna-se impossível dizer se o falecido era um homem ou uma mulher. 

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Somente pequenos pedaços de ossos e dentes, totalizando cerca de 150 gramas, foram recuperados do falecido pelos arqueólogos. Crédito: Arquivo Histórico da Inglaterra.

No entanto, ao revisitar o antigo local de sepultamento nas Ilhas de Scilly, que ficam a sudoeste da península da Cornualha, os autores do novo estudo conseguiram determinar que o ocupante da sepultura era do sexo feminino, com base em uma análise de um pouco de esmalte dentário remanescente.

O que significam a espada e o espelho encontrados no túmulo

Tendo esclarecido esse mistério, os estudiosos agora estão lidando com o enigma representado pelos bens da sepultura. Não só o túmulo é o mais ricamente mobiliado da região, mas a combinação de itens marciais com um espelho não foi vista em nenhum outro jazigo da Europa Ocidental datado da mesma época – em torno de 2,1 mil anos atrás.

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Pela interpretação mais simples, tais objetos foram colocados na sepultura para simbolizar que ela participou na guerra, talvez empunhando essas mesmas armas ou outras muito parecidas com elas.

“Em uma pequena comunidade insular, seria claramente vantajoso se todos os indivíduos capazes pudessem contribuir para a defesa de seu assentamento pela força das armas caso ele fosse atacado”, diz o artigo. “Em tais circunstâncias, a capacidade de realizar feitos marciais pode ter sido valorizada em ambos os sexos”.

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Detalhe da espada (à esq.) e o espelho (à dir.) encontrados no túmulo de mais de dois mil anos nas Ilhas de Scilly. Crédito: Arquivo Histórico da Inglaterra.

No entanto, como os autores apontam, nenhuma outra mulher daquele arquipélago foi encontrada com itens de sepultura semelhantes, levantando a questão de por que esse indivíduo em particular foi escolhido para tratamento especial.

“Isso se torna mais facilmente compreensível se ela teve um papel proeminente na realização de incursões em outras comunidades ou um papel de liderança na organização de invasões, além de participar defensivamente”, especulam os pesquisadores. 

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Admitindo que sua teoria é um tanto conjectural, eles dizem que a “deposição de armas no túmulo também pode ter significado que ela pretendia continuar a desempenhar um papel marcial ou protetor após sua morte, agindo como uma guardiã sobrenatural de sua comunidade”.

Em relação ao espelho de bronze, os pesquisadores observam que o item poderia ter sido usado para sinalização heliográfica, que se refere ao uso de luz intermitente como forma de comunicação. “Isso pode ter sido de valor para uma comunidade insular para se comunicar com ilhas vizinhas e com embarcações no mar”.

Levando essa teoria adiante, eles explicam que a mulher antiga pode ter usado o espelho para planejar e coordenar ataques a outras comunidades ou a defesa de sua própria aldeia.

“Nossas descobertas oferecem uma oportunidade emocionante de reinterpretar este importante enterro, fornecendo evidências de um papel de liderança para uma mulher da Scilly na guerra na Idade do Ferro”, explicou a autora principal do estudo, Sarah Stark, arqueóloga do Historic England, um órgão público não-departamental executivo do Governo Britânico, em um comunicado.

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