Em 2018, a missão não tripulada Chang’e-4, da China, fez história ao conseguir pousar com sucesso no chamado lado oculto da Lua. Desde então, equipado com tecnologia de ponta, o rover Yutu 2, que viajou a bordo da espaçonave, vem capturando imagens abrangentes das crateras de impacto e coletando amostras dos minerais presentes nas profundezas do satélite natural da Terra. 

Cinco anos depois, dados do rover possibilitaram desvendar os primeiros 300 metros da superfície lunar – é como se a Lua fosse um daqueles bolos de aniversário com várias camadas, com cada uma delas revelando mais detalhes sobre uma história evolutiva que se desenrolou por bilhões de anos.

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Desde 2018, a missão Chang’e 4, da China, explora o lado oculto da Lua (o que nunca está voltado para a Terra). Crédito: NASA/Apollo 16 fotografia AS16-3021/Domínio Público

Um artigo publicado este mês no Journal of Geophysical Research: Planets descreve os resultados dessa investigação profunda e inédita realizada pela China por meio de uma tecnologia chamada Lunar Penetrating Radar (LPR), presente no Yutu 2.

Segundo o principal autor do estudo, Jianqing Feng, pesquisador astrogeológico do Instituto de Ciência Planetária, em Tucson, no estado norte-americano do Arizona, esse dispositivo envia sinais de rádio para as profundezas da superfície da Lua. Então, ele recebe de volta ondas de rádio vindas de estruturas subterrâneas (como ecos), que permitem aos cientistas criar um mapa da subsuperfície lunar. 

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Poeira, areia, rochas e lava

Não é a primeira vez que o LPR do Yutu-2 traz revelações sobre a composição abaixo do solo lunar (ele já tinha sondado os primeiros 40 metros de superfície em 2020). No entanto, o instrumento nunca havia penetrado tanto como agora.

Representação artística do rover Yutu 2 investigando o solo lunar. Crédito: Alejo Miranda – Shutterstock

Segundo Feng, esses novos dados sugerem que os 40 metros iniciais da superfície lunar são compostos por várias camadas de poeira, areia e rochas quebradas. Escondida nesses materiais estava uma cratera, que foi formada quando um grande objeto bateu na Lua. A equipe de pesquisadores levanta a hipótese de que os escombros ao redor dessa formação sejam destroços do impacto. Mais abaixo, eles descobriram cinco camadas distintas de lava que se infiltraram bilhões de anos atrás.

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Lua teve formação turbulenta

Segundo os cientistas, a Lua se formou há 4,51 bilhões de anos, pouco depois do nascimento do Sistema Solar, quando um objeto do tamanho de Marte bateu na Terra e arrancou um pedaço do nosso planeta, que acabou por se tornar seu único satélite natural.

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Então, esse corpo continuou a ser bombardeado por objetos espaciais por cerca de 200 milhões de anos, com alguns impactos causando fissuras na superfície da Lua.

Lembra que ela é um pedaço da Terra? Assim como no planeta-mãe, o manto da Lua naquela época continha bolsões de magma, que se infiltravam pelas rachaduras recém-formadas em uma série de erupções vulcânicas, de acordo com o estudo de Feng.

Esse processo teria desacelerado com o tempo. A nova pesquisa descobriu que as camadas de rocha vulcânica eram mais finas quanto mais próximas estavam da superfície da Lua. Isso sugere que menos lava fluiu em erupções posteriores em comparação com as anteriores. “A Lua estava esfriando lentamente e ficando sem vapor em seu estágio vulcânico posterior”, disse Feng. “Sua energia se tornou fraca com o tempo”.

Acredita-se que a atividade vulcânica na Lua tenha diminuído há cerca de 1 bilhão de anos (embora os cientistas tenham descoberto algumas evidências de vulcanismo mais jovem, de 100 milhões de anos atrás). Por esta razão, a Lua é muitas vezes considerada “geologicamente morta”. 

No entanto, ainda pode haver magma nas profundezas da superfície lunar, acredita Feng, que espera que, no futuro, um panorama sobre diferentes formações geológicas ainda desconhecidas seja fornecida pela missão Chang’e-4.

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