Quando furacões de grandes proporções tocam o solo, os resultados são amplamente notáveis: árvores arrancadas, casas destruídas e outras devastações. No entanto, o que ocorre sob as ondas nos ambientes marinhos nem sempre é tão evidente. 

Frequentemente atingida por furacões, a península da Flórida, nos EUA, abriga uma vasta diversidade de vida marinha, que inclui recifes de coral, pântanos temperados e prados de ervas marinhas no chamado panhandle (uma espécie de cabo localizado na costa noroeste do estado). 

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Toda a biodiversidade marinha é atingida por furacões, com cada ecossistema ou animal reagindo de uma determinada forma, variando também conforme o tipo de furacão. Crédito: Richard Whitcombe – Shutterstock

De acordo com Melissa May, professora assistente de biologia marinha da Universidade da Costa do Golfo da Flórida, a reação desses ecossistemas e de seus habitantes aos furacões varia significativamente. “E nem todos os furacões têm os mesmos efeitos”.

Segundo ela, uma maré de tempestade – aumento repentino do nível do mar causado por ventos intensos e a baixa pressão atmosférica – pode deixar algumas áreas marinhas praticamente intactas durante a passagem do furacão. No entanto, as consequências do evento podem ser devastadoras, incluindo mudanças na salinidade e a proliferação de bactérias e sedimentos invasores.

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Efeitos causados durante os eventos

Furacões são capazes de gerar ondas impressionantes de até 20 m de altura, que misturam água fria das profundezas com a água superficial mais quente. As correntes marítimas associadas a esses fenômenos podem revirar sedimentos até 90 m de profundidade.

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Muitas espécies marinhas, como mamíferos e peixes, têm a capacidade de buscar águas mais profundas e calmas para se abrigar durante um furacão. Tubarões-de-ponta-preta, por exemplo, foram observados deixando a área antes da chegada de uma tempestade tropical e retornando após cinco a 13 dias. Essa movimentação pode ser influenciada por mudanças na pressão barométrica e na temperatura da água.

No entanto, nem todos obtêm êxito ao tentar escapar da fúria dos furacões. Golfinhos e outros mamíferos marinhos podem ficar presos em lagoas e diques, onde sua sobrevivência fica comprometida. 

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Além disso, os furacões também podem ser letais para os peixes, entupindo suas brânquias com sedimentos ou causando a formação de bolhas mortais de gás nitrogênio em seus sangues.

Bancos de ervas marinhas e recifes de ostras também podem ser soterrados pela mudança de sedimentos e a ação das ondas. Tartarugas marinhas filhotes podem ser arrastadas para a costa, como ocorreu com o furacão Ian, sendo necessário abrigá-las até que possam ser devolvidas ao mar.

Mais de 200 filhotes de tartarugas marinhas foram levados para o Centro de Cura de Tartarugas Marinhas no Zoológico de Brevard, em consequência da passagem do furacão Ian. A maioria delas resgatada pela Sociedade de Preservação de Tartarugas Marinhas. Crédito: Tim Shortt – Florida Today

Os corais, por sua vez, são afetados de forma dúbia pelos furacões. Embora as ondas fortes possam ajudar a compensar os efeitos do branqueamento dos corais, elas também podem quebrá-los e matá-los.

O que acontece depois da passagem do furacão?

Os impactos no oceano permanecem mesmo após a passagem de um furacão. Carros e barcos podem vazar substâncias químicas tóxicas nas águas, causando danos ambientais duradouros. O esgoto é outra preocupação, trazendo bactérias como o enterococcus e a E. coli.

As chuvas e inundações desencadeadas pelos furacões também introduzem uma grande quantidade de água doce nos ambientes marinhos. Isso pode ser prejudicial para organismos que não toleram mudanças drásticas na salinidade. 

Um exemplo disso são os jacarés da Ilha Sanibel, severamente atingida pelo furacão Ian, que foram afetados pela água oceânica mais salgada trazida pela tempestade. “Embora os jacarés possam tolerar água salgada por um tempo, eles não podem viver nela indefinidamente”, disse Chris Lechowicz, diretor da Sanibel-Captiva Conservation Foundation, ao site Science Alert.

Por outro lado, os golfinhos marinhos só podem viver em água doce por um curto período de tempo sem sofrer efeitos graves. A superexposição à água doce após o furacão Katrina pode ter causado uma doença de pele mortal em golfinhos-nariz-de-garrafa.

Além disso, a água doce transporta sedimentos e nutrientes em maior concentração, promovendo a formação de grandes florações de algas. Esse efeito cascata, como visto após o furacão Ian, pode afetar a disponibilidade de luz solar para as ervas marinhas, um alimento essencial para os peixes-boi.

Os ecossistemas marinhos precisam de tempo para se recuperar dos impactos devastadores dos furacões. Com o aumento da intensidade das tempestades devido às mudanças climáticas, o futuro da vida marinha nos mares da Flórida é ainda mais incerto e desafiador.

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