Era começo de junho, e o verão estava chegando na Noruega. Buscando um hobby para se divertir, Erlend Bore, morador da ilha Rennesøy, em Stavanger, decidiu comprar um detector de metais. Mas, o que deveria ser apenas uma distração de férias, acabou resultando na descoberta de joias de ouro de 1500 anos, que se tornaram o “achado do século” no país.

Bore estava usando seu novo “brinquedo” ao longo da costa da ilha, quando o instrumento começou a apitar. Então, ele se deparou com algo que parecia uma porção de moedas.

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“No começo, eu pensei que tinha encontrado dinheiro de chocolate com um invólucro dourado ou dinheiro de jogo”, disse o homem em um comunicado do Museu de Arqueologia da Universidade de Stavanger (UiS), cidade a sudoeste da Noruega.

No entanto, ao examinar com mais cuidado, Bore percebeu que estava diante de um tesouro milenar, que resolveu levar para análise da instituição, cujo diretor, Ole Madsen, estimou a idade dos itens e revelou que remontam provavelmente ao século 6.

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Não são moedas

Embora pareçam moedas, os pingentes de ouro redondos e planos encontrados por Bore são, na verdade, bracteatas – uma espécie de medalha estampada dos dois lados que era usada como ornamento na Europa Setentrional na Idade do Ferro germânica, principalmente durante a época das migrações bárbaras. 

Segundo Håkon Reiersen, professor associado da UiS, é possível que, antigamente, as nove bracteatas encontradas pelo “caçador de tesouros” amador formassem um colar. “Essa peça de joias era feita por ferreiros de ouro habilidosos e usada pelos mais poderosos em sociedade. É muito raro encontrar tantas bracteatas juntas. Não tivemos qualquer descoberta que se compare a isso desde o século 19”.

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Os nove medalhões chamados bracteatas encontrados por Bore antigamente teriam formado um colar. Crédito: Theo Eli Gil Bell/Museu de Arqueologia/UiS

Com base no local onde o tesouro de Rennesøy foi encontrado, e comparações com outros achados semelhantes, Reiersen acredita que os itens estavam escondidos para guardar, ou talvez para ofertar aos deuses durante tempos desesperados de crise econômica.

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Tipo raro de medalhas de ouro

As estampas das bracteatas podem ter variados motivos, como javalis ou a figura dos deuses nórdicos. Um exemplo é um grande apanhado descoberto na Dinamarca em 2020, que recebeu o nome de tesouro Vindelev. O achado consiste, entre outras coisas, em bracteatas que retratam um homem, muito provavelmente o deus Odin. 

Cerca de mil bracteatas foram descobertas na Escandinávia, mas as encontradas em Rennesøy são de um tipo raro, de acordo com Sigmund Oehrl, especialista nesses objetos e seu simbolismo, também pesquisador da UiS. “A estampa é diferente de outros pingentes de ouro encontrados até agora”.

Estampa cunhada nos pingentes encontrados por Erlend Bore nunca foi vista em outros objetos do tipo. Crédito: Museu de Arqueologia/UiS

A imagem habitual nessas placas redondas de ouro mostra o deus Odin curando o cavalo doente de seu filho Balder. Segundo Oehrl, esse mito era visto como um símbolo de renovação e ressurreição durante a era da migração. Acreditava-se que dava ao seu portador proteção e boa saúde.

No entanto, as bracteatas de Rennesøy mostram somente um cavalo. “Nestes pingentes de ouro, a língua do cavalo pendurada, a postura caída e as pernas torcidas mostram que está machucado. Assim como com o símbolo cristão da cruz que estava se tornando difundida no Império Romano na época, este cavalo representava doença e angústia, mas ao mesmo tempo também esperança de cura e vida nova”, diz Oehrl.

À esquerda, um dos três anéis encontrados em Rennesøy. À direita, uma das dez contas de ouro. Créditos: Museu de Arqueologia/UiS

Procedimento adotado foi correto

Além das bracteatas, Bore encontrou dez contas de ouro e três anéis do mesmo material. No total, o achado tem peso de 100 gramas de ouro. “Foi completamente irreal”, diz o homem de 51 anos.

Quando encontrou o tesouro, Bore fez exatamente o que deveria ser feito: marcou o local, parou as buscas e entrou em contato com as autoridades. “Estamos muito felizes por ele ter feito a coisa certa”, diz Reiersen. “Isso nos permitiu ir ao local e coletar mais informações sobre em que tipo de lugar esse tesouro havia sido depositado”.

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