Se você não está nem aí para o aquecimento global, mas não dispensa a sua gelada, talvez agora seja o momento de começar a se preocupar. Um artigo publicado este mês na revista Nature Communications traz notícias difíceis de engolir: as mudanças climáticas estão interferindo no gosto e devem aumentar os preços das cervejas. 

O que você precisa saber sobre a cerveja:

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  • Entre as bebidas alcoólicas, a cerveja é líder disparada de consumo no mundo. No ranking geral, só perde para a água e o chá;
  • Geralmente, a cerveja consiste em quatro ingredientes principais: água, grãos, levedura e lúpulo;
  • A água forma a base da bebida e compõe a maior parte do seu conteúdo;
  • Os grãos fornecem à cerveja açúcares necessários para a fermentação;
  • A levedura é um microrganismo responsável pela fermentação desses açúcares, produzindo álcool e dióxido de carbono;
  • Por fim, o lúpulo é adicionado para dar o devido amargor à bebida;
  • Esse paladar se deve, em parte, a certas substâncias presentes nesse ingrediente chamadas de ácidos alfa, que também influenciam na qualidade da cerveja. 

O lúpulo atua como a ‘especiaria’ que dá à cerveja seu sabor e aroma intrigantes.

Martin Mozny, pesquisador do Instituto de Pesquisa de Mudanças Globais da Academia de Ciências da República Tcheca, autor principal do novo estudo.
Lúpulo, o ingrediente que dá sabor à cerveja: cultivo está comprometido por causa do aquecimento global. Crédito: John Navajo – Shutterstock

Ocorre que o lúpulo não prospera em altas temperaturas e seca persistente. E com mais colheitas fracassadas sendo anunciadas pelo calor extremo previsto, tomar uma cervejinha pode se tornar um deleite raro.

Futuro reserva cervejas de menor qualidade e gosto ruim

O estudo prevê que, até 2050, as regiões europeias produtoras de cerveja experimentarão um rendimento 4 a 18% menor de lúpulo aromático tradicional e uma quantidade 20 a 31% menor de ácidos alfa.

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Mozny diz que isso deve servir de alerta. “Se não forem tomadas medidas de adaptação, haverá escassez de produção de lúpulo aromático. Essa escassez limitará a produção de cervejas artesanais e de alta qualidade”.

Para chegar a essa conclusão, o pesquisador e sua equipe coletaram dados sobre os rendimentos de lúpulo de cerveja e o teor de ácido alfa entre 1971 e 2018 de 90% das regiões europeias produtoras desta planta na Alemanha, República Tcheca e Eslovênia.

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Eles descobriram que, em comparação com o período anterior a 1994, o lúpulo começou a amadurecer 20 dias antes, a produção diminuiu quase 0,2 tonelada por hectare anualmente e o teor de ácidos alfa no lúpulo diminuiu cerca de 0,6%. 

Mozny explica por que a maturação precoce do lúpulo é preocupante. “A fase geradora da planta de lúpulo começa quando os dias ficam mais longos. Ele amadurecer antes disso representa um problema significativo para o desenvolvimento de todos os seus compostos aromáticos”.

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Já a diminuição no teor de ácidos alfa no lúpulo leva, principalmente, a um sabor menos agradável da cerveja.

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Queda na produção de lúpulo está relacionada ao aumento das temperaturas e secas mais severas e duradouras

As maiores quedas na produção de lúpulo são esperadas no sul da Europa – como as regiões de Tettnang, na Alemanha, e Celje, na Eslovênia. Segundo os modelos desenvolvidos pela equipe, esses declínios são atribuídos à elevação das temperaturas e ao aumento de períodos frequentes e severos de seca.

Campo de lúpulo em Tettnang, na Alemanha. Crédito: Tjasa Janovljak – Shutterstock

“O aumento da incidência de secas afeta negativamente a produtividade, enquanto temperaturas mais altas levam a uma diminuição do teor aromático”, explica Mozny.

Segundo ele, isso não se restringe à Europa. “As mudanças climáticas afetam todos os produtores de lúpulo ao redor do mundo. Os produtores americanos, por exemplo, estão passando pelos mesmos problemas. Isso significa que a escassez de produção não pode ser resolvida importando de outros países”.

Felizmente, ainda é possível salvar o futuro da cerveja. “Uma das medidas propostas é a construção de sistemas de irrigação para estabilizar a produção em períodos secos”, sugere Mozny. “Outra opção é selecionar as áreas certas para o cultivo do lúpulo, por exemplo, em vales com níveis mais altos de água subterrânea ou locais abrigados. Também poderíamos procurar novas variedades de lúpulo que sejam mais resistentes. Finalmente, reguladores de crescimento e tecnologias de cultivo mais sustentáveis podem oferecer uma solução”.