A Anvisa liberou, pela primeira vez, um medicamento para tratar casos graves da doença autoimune alopecia areata, que causa grave queda de cabelo, sobrancelha e cílios.

O remédio em questão é o Olumiant (baricitinibe), de uso diário e fabricado pela farmacêutica estadunidense Eli Lilly. Apesar da liberação, ele já era usado legalmente para tratamento de outras enfermidades.

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Além da alopecia areata, a bula do Olumiant indica o uso para artrite reumatoide, dermatite atópica e Covid-19 grave, devendo ser prescrito para pessoas acima de 18 anos.

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Porém, não serão todos os pacientes que deverão ter acesso ao medicamento. Isso porque seu custo nas farmácias chega aos R$ 4 mil.

Alopecia areata

  • A alopecia areata provoca queda dos fios de cabelo, especialmente em falhas circulares, sem pelos ou cabelos, podendo ocorrer em curtos períodos;
  • Contudo, a extensão da queda pode variar, com poucas regiões afetadas, ou, em outras pessoas, muitas;
  • Nos casos ainda mais graves, todos os pelos do corpo podem cair, incluindo sobrancelhas;
  • Não se sabe ao certo o que causa a doença, mas fatores emocionais, quadros infecciosos, doenças autoimunes (como a diabetes tipo 1) e genética ajudam no aparecimento da enfermidade;
  • Ela não é contagiosa.

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Pessoas com doença autoimune que causa queda de pelos corporais severa têm nova opção de tratamento (Imagem: Skeronov/Shutterstock)

Como ocorre a queda dos pelos em pessoas com essa enfermidade

A queda dos pelos corporais em uma pessoa com alopecia areata é provocada por ataque das células do sistema imunológico do enfermo, além de moléculas inflamatórias, que vão em cima dos folículos capilares. Isso faz com que os cabelos comecem a cair, podendo ser irreversível, a depender do quadro.

A Lilly fez uma pesquisa que mostrou que, entre 747 entrevistados (incluindo brasileiros), a doença é associada em especialmente às palavras constrangimento e ansiedade. 40% deles perderam quase todo o cabelo.

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Entre os famosos, a doença acomete a esposa do ator Will Smith, Jada Pinkett Smith, que ficou nos centro dos holofotes em 2022, durante a entrega do Oscar.

Ela apareceu ao evento careca por conta da alopecia e foi vítima de comentários ofensivos do comediante Chris Rock, que acabou levando um tapa de Will Smith e protagonizando uma das cenas mais históricas da premiação.

Exemplo de alopecia areata (Imagem: Alex Papp/Shutterstock)

Modo de funcionamento do baricitinibe

Em suma, o baricitinibe inibe a enzima Janus quinase (JAK), que está associada aos ataques aos folículos capilares, impedindo assim esse ataque das células imunológicas.

Durante os testes para aprovação, a Anvisa analisou dois testes da terceira fase, que envolveram 1,2 mil pacientes adultos com quadros graves da doença, ou seja, com 50% ou mais de perda de cabelo. Pesquisadores da Unicamp e voluntários brasileiros estiveram envolvidos nas pesquisas.

Foram 36 semanas de tratamento. Ao final, um em cada quatro pacientes que tomaram a baricitinibe de menor dosagem (2 mg) tiveram bons resultados; o mesmo valeu para um em cada três que tomaram a dose maior (4 mg).

O Olumiant cobriu 80% ou mais do couro cabeludo desses pacientes. Já os que participaram da pesquisa com placebo tiveram melhoras de 3% a 5%. O tempo de tratamento é incerto, pois depende de cada sistema biológico. Confira o que a bula do medicamento diz sobre isso:

Quando o controle sustentado da atividade da doença for alcançado, é recomendado continuar o tratamento por pelo menos vários meses a fim de evitar recidiva. O benefício-risco do tratamento deve ser reavaliado individualmente, em intervalos regulares.

Bula do Olumiant sobre o tempo de tratamento

Testes em menores

Todavia, os testes clínicos que analisam eficácia e segurança do remédio em menores de 18 anos seguem em andamento. Espera-se que os primeiros resultados sejam divulgados no segundo semestre de 2024.

A alopecia areata é uma doença que impacta fortemente a qualidade de vida dos pacientes, principalmente crianças e jovens.

Renata Magalhães, médica dermatologista pela Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) e professora da Unicamp, em nota