Morre Mali, “o elefante mais triste do mundo”

A causa da morte de Mali foi uma insuficiência cardíaca congestiva, aos 49 anos, tempo de vida muito curto comparado a de outros elefantes
Flavia Correia29/11/2023 13h54, atualizada em 29/11/2023 14h02
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Mali, o elefante mais triste do mundo, sendo homenageado pela PETA após sua morte aos 49 anos. Crédito: PETA/Reprodução X
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Nesta quarta-feira (29), a prefeita de Manila, capital das Filipinas, Honey Lacuna, anunciou a morte de Mali, uma elefanta que passou quase toda a vida em isolamento, ficando conhecida como o “elefante mais triste do mundo”.

Segundo o veterinário chefe do zoológico onde Mali vivia solitária há mais de 30 anos, Heinrich Patrick Peña-Domingo, a causa da morte do animal foi uma insuficiência cardíaca congestiva. O paquiderme, que tinha 49 anos, também apresentava inflamação nos rins, nódulos ao redor do fígado e “depósitos de pus” nas paredes do útero.

A existência de Mali, falecida na terça-feira (28) às 16h45 (pelo horário de Brasília), foi marcada por uma história de solidão e adversidades. Órfã desde tenra idade, ela foi transferida para o zoológico de Manila após um período acolhida no Orfanato de Elefantes de Pinnawala, no Sri Lanka. No novo lar, ela dividia espaço com o elefante Shiba, mas o companheiro idoso ex-circense faleceu em 1990, deixando Mali completamente sozinha de lá para cá.

Os últimos momentos da vida da triste elefanta foram repletos de sofrimento, evidenciados por comportamentos que indicavam desconforto físico. Testemunhas viram Mali esfregar seu corpo contra as paredes, um sinal claro de angústia, e nos últimos dias, ela foi encontrada deitada de lado, lutando para respirar. 

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Mali viveu uma vida consideravelmente mais curta do que a média dos elefantes asiáticos, mesmo aqueles em cativeiro. Sua história é permeada por um profundo vazio emocional, já que Mali nunca teve a oportunidade de experimentar a companhia de seus pares e viver em um ambiente mais condizente com sua natureza.

Críticos e ambientalistas, incluindo o ex-Beatle Paul McCartney, sempre expressaram preocupação com as condições de vida de Mali. “Fiquei chocado ao saber que o Mali nunca recebeu cuidados preventivos adequados para os pés”, escreveu McCartney em uma carta de 2013 ao então presidente das Filipinas, Benigno Aquino III. “Problemas nos pés e nas articulações são a principal causa de morte entre elefantes em mantidos cativeiro em superfícies duras. Esse tipo de cuidado é algo que todo zoológico respeitável do mundo oferece. As condições de vida do Mali são de partir o coração”.

Apesar de todo o clamor, o zoológico de Manila defendeu consistentemente a permanência de Mali, argumentando que a elefanta não estava preparada para a vida selvagem e que a instalação oferecia o melhor ambiente para ela.

Não é o que diz a organização não-governamental global PETA (sigla em inglês para Pessoas pelo Tratamento Ético dos Animais). “A vida sozinha era uma tortura para Mali”, disse o grupo em um comunicado. “Elefantes fêmeas, na natureza, passam a vida entre suas mães e irmãs, protegendo-se mutuamente e criando os filhotes umas das outras, e Mali perdeu qualquer chance de felicidade”.

A história de Mali é um lembrete angustiante das dificuldades que muitos animais enfrentam em cativeiro, privados de uma existência que respeite sua essência e suas necessidades naturais. Sua jornada solitária tocou muitos corações, suscitando debates sobre o bem-estar animal em ambientes controlados.

O zoo de Manila já anunciou que pretende colocar outro elefante no lugar de Mali – que esperamos ter uma vida mais digna e com melhores condições que a dela.

Flavia Correia
Redator(a)

Jornalista formada pela Unitau (Taubaté-SP), com Especialização em Gramática. Já foi assessora parlamentar, agente de licitações e freelancer da revista Veja e do antigo site OiLondres, na Inglaterra.