O bilionário Elon Musk e Andrew Ross Sorkin, colunista do jornal The New York Times, conversaram sobre propriedade intelectual e inteligência artificial (IA). E o papo foi “dolorosamente mal informado”, segundo Adi Robertson, jornalista que escreve para o The Verge.

Para quem tem pressa:

  • A conversa entre Elon Musk e Andrew Ross Sorkin sobre propriedade intelectual e IA foi criticada por jornalistas especializados, incluindo Adi Robertson do The Verge e Mike Masnick do Techdirt;
  • Masnick criticou Musk por aceitar a premissa falsa da pergunta de Sorkin e não corrigir a ideia de que as empresas negam o uso de material protegido por direitos autorais no treinamento de IA;
  • A conversa incluiu uma discussão confusa sobre o uso justificável de materiais protegidos por direitos autorais, com Masnick apontando que a abordagem de Sorkin não reflete como a lei funciona;
  • Musk desviou para uma previsão sobre um futuro “Deus Digital” resolvendo questões de direitos autorais, o que Masnick descreveu como irrealista.

Robertson não foi a única a se incomodar com o que foi falado na entrevista, disponível no canal da CNBC no YouTube. O editor Mike Masnick, do site Techdirt, destrinchou os problemas nas falas tanto de Musk quanto de Sorkin.

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Mãos robóticas sobre teclado
(Imagem: Thinkstock)

Tudo começou com uma pergunta de Sorkin que, para o editor, estava “terrivelmente errada” e mostrava o despreparo do colunista para entrevistar alguém sobre esse assunto. Leia abaixo o trecho da conversa:

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Andrew Ross Sorkin (ARS): Então, uma das coisas sobre treinar em dados, tem sido essa ideia de que você não vai treinar em… ou essas coisas não estão sendo treinadas em informações protegidas por direitos autorais. Historicamente. Essa tem sido a concepção.

Musk: Sim, isso é uma grande mentira.

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ARS: Pode repetir?

Musk: Essas IAs são todas treinadas em dados protegidos por direitos autorais. Obviamente.

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ARS: Então você acha que é uma mentira quando a OpenAI diz que… nenhum desses caras diz que estão treinando em dados protegidos por direitos autorais.

Musk: Sim, isso é uma mentira.

ARS: É uma mentira. Direto assim?

Musk: Mentira.

Então… há uma mentira aí, mas é Andrew Ross Sorkin dizendo que qualquer empresa de IA afirma que não treina em dados protegidos por direitos autorais. Todos admitem isso. Eles dizem que fazer isso é justificável (porque é). Então, toda a premissa desta discussão está errada. A OpenAI admitiu em tribunal que, claro, treina em material coberto por direitos autorais. É só que ela acredita que o uso justificado permite isso (porque permite).

Trecho do texto publicado por Mike Masnick, editor do site Techdirt

Além disso, Masnick aponta que Musk induziu ao erro durante a conversa. Isso porque, para o editor, o bilionário parece aceitar a premissa falsa da pergunta de Sorkin. “Se Musk soubesse o que estava fazendo, teria dito a Sorkin que sua premissa estava errada e que nenhuma empresa nega treinar [modelos de IA] em cima de tal material”, escreveu.

Depois, o colunista partiu para uma discussão ainda mais confusa, segundo Masnick. Sorkin alegou que por mais que trechos de artigos no X (antigo Twitter) tenham uso justificável – porque, combinados, as pessoas podem postar um artigo completo – eles podem não ter mais. “Mas isso não é como funciona”, apontou o editor (o Olhar Digitalconversou com advogados sobre isso).

‘Deus Digital’

Pessoa segurando tablet com cabeça não-humana em cima com sigla de inteligência artificial (IA) na testa
(Imagem: Jirsak/Shutterstock)

Em seguida, Musk deu uma guinada “estranha pra caramba” para a conversa, conforme escreveu Masnick. Isso porque enquanto Sorkin tentava pressionar Musk sobre os processos de direitos autorais, o bilionário disse:

Eu não sei, exceto dizer que até que esses processos sejam decididos teremos o Deus Digital. Então, você pode perguntar ao Deus Digital naquele momento. Um. Esses processos não serão decididos em um prazo relevante.

Para o editor, independentemente de você acreditar ou não que uma inteligência artificial geral (IAG) está chegando e que ela possa criar o tal “Deus Digital”, a ideia de que isso está mais próximo do que a conclusão desses processos é “irrealista”.

Argumentamos por anos que a própria internet já tornou obsoletas as leis de direitos autorais, mas elas ainda estão por aí e ficando mais burras o tempo todo. Eu adoraria que fosse verdade que a tecnologia tornasse obsoleta a lei de direitos autorais e movesse as coisas para um sistema geral melhor. Mas isso não vai acontecer por causa do ‘Deus Digital’.

Trecho do texto publicado por Mike Masnick, editor do site Techdirt