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O hidrogênio verde é a salvação da humanidade? Segundo os especialistas ouvidos pelo Olhar Digital, não. Mas é uma opção interessante entre as fontes de energia sustentáveis que estão distantes dos combustíveis fósseis. E o Brasil tem potencial para ser relevante neste nicho.

Os estudos, projetos e negociações relacionados ao hidrogênio verde ocorrem embaixo de um guarda-chuva: a transição energética. Assim como você segura um guarda-chuva para se proteger de pingos gelados, a humanidade busca abrigo na transição energética contra as consequências das mudanças climáticas.

Para entender (e te explicar) este cenário, a reportagem conversou com Fernando Castro Pinto, professor de engenharia mecânica na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ); e Carla Aranha, jornalista do Czapp, plataforma da Czarnikow – uma das maiores empresas de supply chain do mundo – e colunista do Olhar Digital.

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O que é hidrogênio verde?

hidrogênio
(Imagem: Petrmalinak/Shutterstock)

O hidrogênio verde é um tipo de hidrogênio produzido por meio da eletrólise da água, processo no qual se separa hidrogênio e oxigênio através de corrente elétrica. É “verde” porque a corrente vem de energia limpa e renovável (solar, hídrica ou eólica) – ou seja, não emite gás carbônico (CO2).

Existe um espectro de cores para categorizar os “tipos” de hidrogênio. Na verdade, esse esquema organiza o método utilizado para se obter o elemento químico. Segundo material divulgado pela Infosys, uma das líderes globais em consultoria e tecnologia da informação, é assim:

  • Hidrogênio branco: ocorre naturalmente no subsolo e não é extraído comercialmente;
  • Hidrogênio cinza: produzido a partir de gás natural por meio do processo de reforma a vapor de metano (SMR) – é o método mais comum;
  • Hidrogênio azul: também é produzido via SMR; no entanto, técnicas de captura e armazenamento de carbono buscam manter as emissões fora da atmosfera;
  • Hidrogênio preto e marrom: utiliza carvão betuminoso (preto) ou carvão lignito (marrom) no processo de gaseificação;
  • Hidrogênio rosa: gerado por meio de eletrólise alimentada por energia nuclear, na qual a água é dividida em hidrogênio e oxigênio;
  • Hidrogênio turquesa: produzido por meio da pirólise de metano, no qual se aquece gás natural até quebrar o metano em gás de hidrogênio e carbono sólido.

Neste espectro, o diferencial do hidrogênio verde é a exigência por energia limpa no processo para obtê-lo. No caso do Brasil, o país tem potencial para ser um grande produtor e exportador porque tem recursos abundantes nesta área. Para você ter uma ideia, quase 84% da energia produzida aqui veio de fontes renováveis em 2023, segundo o Ministério de Minas e Energia.

Para o professor de engenharia mecânica, o hidrogênio é uma “alternativa interessante” sob a ótica do armazenamento da energia para o uso, principalmente na mobilidade.

É mais uma alternativa para que eu possa ir gradativamente diminuindo a utilização intensiva do combustível fóssil. Essa troca não é algo fácil, por isso precisa de investimento e tempo.

Fernando Castro Pinto, professor de engenharia mecânica na UFRJ, em entrevista ao Olhar Digital

Progresso até o momento

Duto de hidrogênio verde
(Imagem: Audio und werbung/Shutterstock)

Apesar de ser um nicho de mercado “muito novo”, como descreveu Carla Aranha, existem projetos voltados à produção de hidrogênio verde tanto no Brasil quanto em outros países. Entre os exemplos tupiniquins, estão:

Em relação aos projetos voltados ao hidrogênio verde mundo afora, dá para citar ao menos três. O primeiro: Air Products, na Arábia Saudita. Outro: FH2R, uma “fábrica de hidrogênio verde”, no Japão. O último: HyPort, na Alemanha. Eles se propõem a produzir 650 mil toneladas, 220 mil toneladas e 150 toneladas de hidrogênio verde por ano, respectivamente. Todos por meio de energia solar.

Segundo o professor da UFRJ ouvido pela reportagem, os investimentos em hidrogênio verde ocorrem por conta do potencial desta fonte de energia. No entanto, frisou: “Não significa que seja a única forma ou que vá ser a solução de todos os problemas.”

Apesar do potencial do Brasil para ser importante neste contexto, o país precisa “acelerar o passo” para não ficar atrás da concorrência, de acordo com a colunista do Olhar Digital. “Se você não ocupa um espaço, o outro vai ocupar. Principalmente no mercado, né? A gente já tem energia limpa, litoral enorme e infraestrutura de exportação”, ponderou.

Próximos passos

Ilustração de H2, símbolo do hidrogênio, sobre floresta
(Imagem: chayanuphol/Shutterstock)

O hidrogênio verde ainda é uma tecnologia emergente, e seu custo de produção é relativamente alto. Para que ele se torne uma realidade comercial, dois avanços precisam ocorrer, segundo os entrevistados pelo Olhar Digital. O primeiro: reduzir seu custo de produção. O segundo: aumentar sua eficiência.

Segundo a colunista do Olhar Digital, a produção de um quilo de hidrogênio verde custa US$ 6 (aproximadamente R$ 30). O custo fica entre o dobro e o triplo do quilo do hidrogênio comum, fabricado a partir de carvão. E, para a jornalista, é possível reduzí-lo por meio do ganho de escala.

Por outro lado, Carla reforçou o ineditismo deste nicho. “A gente não pode esquecer que esse mercado, no Brasil e no mundo, é muito novo. Ainda está se estruturando. É tudo muito recente. Até onde eu sei, os produtores rurais veem, com bastante otimismo, esse setor que está nascendo agora”, disse.

A aposta do professor da UFRJ é que o hidrogênio verde sirva como “forma de transportar energia” e alternativa ao uso de termelétricas, nas quais se gera energia por meio de queima de combustíveis (carvão, gás, óleo).

Talvez [o funcionamento da matriz energética] mude para: vamos pegar o excesso de energia gerada aqui para gerar hidrogênio para depois, quando tiver uma crise hídrica, em vez de queimar numa termelétrica, a gente usa o hidrogênio, que é limpo.

Fernando Castro Pinto, professor de engenharia mecânica na UFRJ

Ambos concordam sobre dois pontos cruciais. Um deles é o enorme potencial do Brasil para ser importante neste nicho. O outro é que 2024 não será “O Ano” (com maiúsculas mesmo) do hidrogênio verde. “Ainda não dá para dizermos que trocaremos para hidrogênio nos próximos cinco anos. Talvez nem nos próximos 20 anos”, disse o professor da UFRJ.

Por um lado, os estudos, projetos e negociações relacionados a hidrogênio verde vão continuar em 2024. Por outro, ainda a passos de bebê. Pelo menos, aqui no Brasil. Aguardemos, então.

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