Noticiado pelo Olhar Digital, o recente retorno à Terra do satélite de sensoriamento remoto ERS-2, que caiu no Oceano Pacífico após quase 16 anos em órbita, trouxe à tona uma série de questões importantes sobre o gerenciamento do lixo espacial e a segurança no espaço.

Lançado em abril de 1995, o ERS-2 foi aposentado pela Agência Espacial Europeia (ESA) em 2011, marcando o fim de uma missão que proporcionou valiosas informações sobre o nosso planeta.

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Embora a reentrada da espaçonave tenha sido planejada pela ESA, sua natureza descontrolada gerou preocupações significativas sobre os possíveis danos causados pelos destroços espaciais resultantes. 

Com uma massa total de cerca de 2,5 toneladas, cerca de 54 kg do satélite podem ter sobrevivido à passagem flamejante pela atmosfera, representando uma ameaça potencial para áreas povoadas adjacentes e rotas de transporte.

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Imagem infravermelho do satélite ERS-2, da ESA, que caiu recentemente na Terra. Crédito: Fraunhofer FHR

Especialistas discutem impactos da queda do satélite ERS-2

A comunidade espacial, que vem analisando atentamente o impacto dessa reentrada descontrolada, destaca a necessidade urgente de políticas mais rigorosas e práticas mais seguras para o descarte de satélites ao final de suas missões. 

Ewan Wright, doutorando na Universidade da Colúmbia Britânica e membro júnior do Outer Space Institute, é um pesquisador focado na sustentabilidade do ambiente espacial. Ele revelou ao site Space.com que a queda do ERS-2 no Pacífico Norte poderia ter tido consequências desastrosas se ocorresse em uma área mais densamente povoada.

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Além do risco para a aviação e o transporte marítimo, a reentrada de detritos espaciais levanta preocupações ambientais. A contaminação da atmosfera e os efeitos desconhecidos dos materiais liberados são questões que exigem uma investigação mais aprofundada. A falta de informações sobre os impactos na atmosfera após a reentrada de espaçonaves destaca a necessidade de mais pesquisas e monitoramento.

Diagrama mostra local de reentrada do satélite ERS-2, da ESA, no Oceano Pacífico. Créditos: FatIcon/Google Maps/Olhar Digital

Leonard Schulz, pesquisador do Instituto de Geofísica e Física Extraterrestre da Universidade de Tecnologia de Braunschweig, na Alemanha, enfatiza que as reentradas de satélites oferecem oportunidades para coletar dados cruciais sobre os efeitos na atmosfera. No entanto, a falta de controle sobre os processos dificulta a observação precisa e aumenta a incerteza sobre os impactos ambientais a longo prazo.

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Regulamentação sobre reentradas espaciais está em evolução

Em termos gerais, a regulamentação sobre a reentrada de satélites está em evolução. Enquanto alguns países já exigem reentradas controladas, outros seguem padrões mais antigos. 

Darren McKnight, membro técnico sênior da LeoLabs, empresa de rastreamento de satélites por radar, destaca a necessidade de uma abordagem mais rigorosa para garantir a segurança no espaço. A “regra dos 25 anos”, que estabelece o prazo para a retirada de satélites de órbita, está passando por mudanças, com os EUA liderando ao exigir um limite de cinco anos para minimizar o risco de vítimas em solo.

No entanto, o desafio persiste, pois muitos satélites lançados nas décadas de 1980 e 1990 não foram projetados com regulamentações de mitigação, o que contribui para o aumento do lixo espacial em órbita. 

A falta de regulamentação global uniforme torna ainda mais complicado determinar os benefícios das novas regras, considerando a diversidade de hardware presente no espaço.

A conclusão é clara: não podemos depender da sorte para minimizar os riscos de acidentes espaciais. Os operadores de satélites devem adotar reentradas controladas, direcionando os satélites para áreas remotas, longe de pessoas, aeronaves e navios. Isso não apenas protegerá vidas e propriedades, mas também evitará o caos potencial nos setores aéreo e marítimo causado pela incerteza associada à reentrada descontrolada de espaçonaves.

À medida que a quantidade de material em órbita continua a crescer, é fundamental que a comunidade internacional intensifique seus esforços para criar regulamentações mais abrangentes e garantir a sustentabilidade do ambiente espacial para as gerações futuras. O desafio é grande, mas a colaboração global e a adoção de práticas mais seguras são cruciais para superá-lo.