Como disputa entre China e EUA pode transformar o México em uma potência de IA

Empresas buscam alternativa ao "made in China"; Foxconn disse já ter investido cerca de US$ 690 milhões no México nos últimos quatro anos
Por Bob Furuya, editado por Bruno Capozzi 02/04/2024 15h17, atualizada em 04/04/2024 21h07
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Fevereiro de 2024. A Foxconn, o maior fabricante terceirizado de eletrônicos do mundo, compra terras no valor de US$ 27 milhões no estado de Jalisco, no México.

Mas o que raios teria em Jalisco, além de belas praias e da gigante Guadalajara? Eu respondo: tecnologia e geopolítica.

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Segundo fontes ouvidas pelo americano The Wall Street Journal, a aquisição de terras faz parte de um plano de expansão das atividades da Foxconn para fora da China.

Ela, aliás, não é a única empresa de tecnologia ou taiwanesa que tenta deixar o território chinês em busca de espaço em outro continente. São os casos também de Pegatron, Wistron, Quanta, Compal e Inventec.

Somente a Foxconn disse ter investido cerca de US$ 690 milhões no México nos últimos quatro anos. Essas terras em Jalisco devem virar um complexo de fábricas para ampliar a produção de servidores de Inteligência Artificial da empresa.

Uma questão geopolítica

Mas por que a Foxconn, uma das maiores empresas de tecnologia do mundo, vai diminuir suas operações na China para ampliar as funções no México?

  • É aí que entra a geopolítica.
  • A Foxconn tem entre seus clientes gigantes como a Amazon, o Google, a Microsoft, a NVidia e a Apple.
  • De acordo com o Wall Street Journal, algumas das maiores empresas americanas começaram a pedir aos seus parceiros industriais de Taiwan que aumentassem a produção de hardware relacionado com IA no México.
  • O motivo? Diminuir a dependência da China.
Imagem: Rodrigo Mozelli (gerado com IA)/Olhar Digital
  • As big techs procuram evitar repetir a história do smartphone depois que ele decolou, há cerca de 15 anos.
  • Grande parte da fabricação principal de smartphones e suas peças começou na China – e por lá continuou.
  • Hoje, muitas empresas são dependentes dos chineses nesse aspecto.
  • Como a aposta do mercado é na IA, os executivos querem evitar a repetição do que consideram hoje um erro – apesar da mão-de-obra chinesa ser mais barata.

Mas por que o México?

A busca por uma alternativa ao famoso “made in China” fez do México a bola da vez. Primeiro porque o país faz parte de um acordo de livre comércio ao lado dos Estados Unidos e Canadá.

Esse acordo passou a vigorar em 2020 e já atraiu bilhões de dólares americanos de empresas que tentam depender menos da China.

Esse fenômeno tem até um nome: o “nearshoring”, ou seja, a transferência de atividades comerciais para países geograficamente mais próximos à nação de origem da companhia.

O México também investiu bastante em infraestrutura nos últimos anos. Apesar da presença forte do crime organizado, as estradas e outros meios de transporte melhoraram bastante na última década.

As empresas taiwanesas de tecnologia e focadas em IA representam apenas uma parte desse processo de transformação do país.

Foxconn
Imagem: shutterstock/viewimage

O México tem, hoje, 14 acordos de livre comércio com 50 nações de todo mundo. Esses pactos atraíram fabricantes de automóveis da Ásia, da Europa e dos EUA, e transformaram o México no quinto maior exportador de automóveis do planeta.

Alguns fabricantes de veículos elétricos, incluindo a Tesla, pretendem abrir fábricas no México no médio prazo.

Segundo Francisco Cervantes, presidente da associação de empresários mexicanos, a estrutura industrial do país “será modificada drasticamente nos próximos 10 anos”.

As informações são do Wall Street Journal.

Bob Furuya
Colaboração para o Olhar Digital

Roberto (Bob) Furuya é formado em Jornalismo pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e atua na área desde 2010. Passou pelas redações da Jovem Pan e da BandNews FM.

Bruno Capozzi é jornalista formado pela Faculdade Cásper Líbero e mestre em Ciências Sociais pela PUC-SP, tendo como foco a pesquisa de redes sociais e tecnologia.