Um estudo divulgado em fevereiro deste ano revelou a existência de um vasto oceano líquido que se esconde sob a concha gelada da pequena lua Mimas, de Saturno. Agora, a mesma equipe pode ter descoberto como ele teria surgido.

De acordo com a pesquisa mais recente, publicada na revista Planetary Science Letters, à medida que a órbita de Mimas em torno de Saturno se tornou menos achatada com o tempo, devido à atração gravitacional do planeta, sua casca gelada derreteu e diminuiu. Isso teria criado um vasto oceano em algum momento entre dois milhões e 25 milhões de anos atrás.

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A lua Mimas
Lua Mimas, pequeno satélite natural de Saturno. Crédito: JPL/Nasa

A lua Mimas tem menos de 400 km de diâmetro. Não se esperava que corpos celestes tão pequenos pudessem hospedar oceanos subterrâneos. Essa descoberta prévia e a nova revelação de como esse oceano teria surgido podem acabar impactando significativamente a busca por vida em outros lugares do Sistema Solar.

Mimas, a “Estrela da Morte” de Saturno

Mimas é apelidada de “Estrela da Morte” devido à cratera Herschel, que dá à lua uma aparência semelhante a da estação espacial bélica de mesmo nome criada pelo Império Galáctico na série cinematográfica de ficção científica Star Wars. Essa imensa cicatriz de impacto foi formada quando Mimas sofreu uma colisão espacial há cerca de 4,1 bilhões de anos.

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Lua Mimas, de Saturno, se assemelha à estação espacial bélica Estrela da Morte, da série Star Wars. Crédito: Starwars.com

Estima-se que o oceano de Mimas, que parece responder por metade do volume dessa lua, é localizado a cerca de 20 a 30 quilômetros abaixo da superfície da crosta de gelo. A profundidade da hidrosfera externa deste satélite natural, que é composta de gelo e água, é estimada em 70 quilômetros, e a do oceano em 40 a 45 quilômetros.

A nova pesquisa lançou uma nova luz sobre um processo que pode ter criado esses vastos mares subterrâneos conhecido como aquecimento das marés. Isso ocorre quando um corpo espacial é distorcido ou esticado devido a mudanças nas forças gravitacionais que experimenta em uma órbita elíptica.

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“A excentricidade impulsiona o aquecimento das marés. No momento, é muito alto em comparação com outras luas oceânicas ativas, como a vizinha Encélado“, disse o líder da equipe e cientista sênior do Instituto de Ciência Planetária do Arizona, nos EUA, Matthew E. Walker, em um comunicado. “Achamos que o aquecimento das marés é a fonte de calor responsável pelo afinamento da casca”.

A excentricidade orbital é medida em valores de 0 a 1, com 0 representando um círculo perfeito e 1 representando uma parábola. Qualquer valor nesse meio é uma elipse. A equipe estima que o derretimento do gelo deve ter sido iniciado quando a excentricidade orbital de Mimas era cerca de duas a três vezes o valor que tem hoje.

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À esquerda, uma excentricidade orbital 0 representando uma órbita circular. À direita, uma órbita com uma excentricidade de cerca de 0,5 formando uma elipse. Crédito: Robert Lea/NASA/JPL-Caltech/Space Science Institute

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Isso representa os últimos 10 milhões de anos da história de Mimas e apresenta uma evolução consistente com a geologia que vemos na lua de Saturno hoje. “Geralmente, quando pensamos em mundos oceânicos, não vemos muitas crateras porque o ambiente é ressurgido e acaba apagando-as, como Europa ou o polo sul de Encélado”, disse Walker. “A forma, o pico central e o interior ininterrupto da cratera Herschel exigem que a concha tenha sido mais espessa no passado, quando a cratera se formou”.

Ele acrescentou que, para obter a morfologia do buraco observado em Mimas, a concha da lua de Saturno devia ter pelo menos 55 quilômetros de espessura quando foi atingida pelo corpo que criou a cratera Herschel. “As crateras podem fornecer pistas sobre a presença de um oceano e a espessura da camada de gelo através de sua morfologia – como a relação entre o diâmetro da cratera e sua profundidade e a existência de um pico central”.

Walker disse ainda que, para corresponder à excentricidade atual da órbita de Mimas e às restrições de espessura com base na ligeira oscilação em sua rotação, eles estimam que todo esse processo de nascimento oceânico deve ter começado há cerca de, no máximo, 25 milhões de anos.