Escrevo, neste momento, da Zona Norte da cidade de São Paulo. O relógio marca 9h e, mesmo de manhã, o termômetro já aponta para os 25ºC. O verão já acabou há algumas semanas, mas estamos no meio de uma nova onda de calor. A previsão é que a temperatura chegue aos 32ºC hoje. A 34ºC na terça-feira da semana que vem. Todos os dias ficarão acima dos 30ºC.

Esse relato poderia ter sido feito em várias outras regiões do Brasil. E em outros meses. Sofremos há um bom tempo com ondas de calor, que têm sido cada vez mais frequentes. Eu, que tenho 35 anos, não me lembro de nenhuma outra vez na vida de ter lido tantas notícias sobre o assunto. Por tantos meses seguidos.

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Por vivermos aqui, as informações a que temos acesso dizem respeito, principalmente, ao Brasil ou à região onde moramos. O fenômeno, no entanto, é global.

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O continente mais afetado

E se eu te disser que a situação é ainda pior em outro continente? Sim, o Brasil e a América do Sul sofrem com os efeitos do El Niño, da La Niña e das mudanças climáticas de uma maneira geral. Mas quem lidera as estatísticas é a Europa.

A Europa é o continente de aquecimento mais acelerado, e suas temperaturas aumentam quase o dobro da velocidade média global. É o que aponta um relatório divulgado na última segunda-feira (22) por duas das principais organizações de monitoramento climático do mundo: a OMM (Organização Meteorológica Mundial), pertencente à ONU, e o Observatório Copernicus, a agência climática da UE (União Europeia).

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As médias dos últimos cinco anos revelam que as temperaturas atuais na Europa estão 2,3ºC acima dos níveis pré-industriais. No mesmo período, o aumento médio global ficou em 1,3ºC.

Imagem: Xurzon – Istockphoto

Ao lado de 2020, 2023 foi o ano europeu mais quente, cerca de 1ºC acima do período de referência. O ano de 2023 na Europa também bateu o recorde de dias com calor extremo, ou seja, quando a sensação térmica fica acima dos 46ºC.

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Alerta vermelho

  • A OMM faz um acompanhamento anual sobre o estado do clima global – e os relatórios são publicados há três décadas.
  • A versão 2024 incluiu um “alerta vermelho” de que o mundo não está fazendo o suficiente para combater as consequências do aquecimento global.
  • O Copernicus informou que março foi o décimo mês consecutivo a estabelecer um recorde mensal de altas temperaturas.
  • A temperatura média da superfície do oceano em frente à Europa alcançou seu nível mais alto em 2023, de acordo com o relatório.
  • O documento também destacou o aumento do número de mortes relacionadas ao calor em todo o continente.
  • No ano passado, a estimativa é de mais de 150 óbitos como consequência direta de tempestades, inundações e incêndios florestais.
  • As temperaturas de 2023 afetaram, ainda, todas as geleiras europeias, que perderam muito gelo, principalmente nos Alpes.
  • Nos últimos dois anos, as geleiras alpinas reduziram seu volume em 10%, segundo o serviço Copernicus.
Alpes suíços
Imagem: stefanopolitimarkovina/iStock
  • O calor e a seca também alimentam os incêndios florestais, que em 2023 ocorreram em toda a Europa, consumindo uma área equivalente a Londres, Paris e Berlim juntas.
  • O maior incêndio registrado na União Europeia ocorreu na Grécia, destruindo uma superfície comparável ao dobro da metrópole Atenas.
  • Tudo isso custa dinheiro.
  • A estimativa é que as perdas econômicas relacionadas ao clima em 2023 alcançaram a cifra de 13,4 bilhões de euros (R$ 74,5 bilhões) na Europa, mais de 80% devido às inundações.

Busca por soluções

A secretária-geral da Organização Meteorológica Mundial, Celeste Saulo, dá uma medida do que estamos enfrentando:

“A crise do clima é o maior desafio da nossa geração. Os custos das medidas climáticas podem parecer altos, mas os da inação são muito maiores”, disse.

Muito além dos prejuízos financeiros citados acima, a crise do clima diz respeito também à nossa qualidade de vida e ao bem-estar do planeta. Só para citar alguns exemplos, o aumento do nível do mar pode cobrir cidades litorâneas. O derretimento de geleiras também pode causar um desequilíbrio na vida marinha, levando à morte de espécies inteiras.

Diante disso, autoridades se reúnem todos os anos para discutir medidas de controle e metas para redução dos efeitos do aquecimento global. Especialistas, porém, afirmam que as ações ainda são insuficientes.

As duas organizações que divulgaram o relatório sobre o qual estamos falando defenderam uma substituição energética mais rápida. Acreditam que a chave para enfrentar essa crise passa por acelerar a transição para recursos renováveis, como a energia eólica, a solar e a hidrelétrica.

Imagem: Julia Ardaran/Shutterstock

No ano passado, a Europa gerou 43% de sua eletricidade a partir de recursos renováveis, em comparação com 36% do ano anterior, afirmam as duas agências. Isso, no entanto, ainda não é suficiente.

As informações são do UOL.