Conforme noticiado pelo Olhar Digital, na quarta-feira (8), a Administração Espacial Nacional da China (CNSA) anunciou que a sonda Chang’e-6 entrou com sucesso em órbita circunlunar depois de realizar um procedimento de frenagem perto da Lua.

A espaçonave foi lançada na última sexta-feira (3), às 6h27 da manhã, pelo horário de Brasília (17h27, no horário local de Pequim), no topo de um foguete Long March 5 a partir de Wenchang, na província de Hainan, para pousar no lado oculto da Lua.

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Lado oculto da Lua (Crédito: NASA/Goddard Space Flight Center/Arizona State University)
Lado oculto da Lua. Crédito: NASA/Goddard Space Flight Center/Arizona State University

Sobre a missão Chang’e 6:

  • Pesando 8,2 toneladas, a espaçonave Chang’e 6 carrega quatro componentes: um orbitador, um módulo de pouso, um ascendente e um módulo de reentrada;
  • Tudo isso com o objetivo de coletar amostras lunares do lado oculto da Lua, região praticamente inexplorada do satélite;
  • Este é um feito que nenhum país do mundo já realizou;
  • Se tudo correr como planejado, as amostras serão colocadas no veículo ascendente para serem transportadas da superfície para a órbita lunar;
  • Em seguida, haverá a transferência para o módulo de reentrada, que conduzirá os itens para a Terra.

Os países que já trouxeram amostras lunares para casa foram os EUA, a antiga União Soviética e a própria China, que foi a nação mais recente a fazer isso, com a missão Chang’e 5 em 2020. Todo esse material, no entanto, foi coletado no lado permanentemente visível da Lua.

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De acordo com a Administração Espacial Nacional da China (CNSA), o lançamento foi um sucesso completo. O próximo passo é um pouso suave no lado distante. Dentro de 48 horas depois, um braço robótico será estendido para colher rochas e solo da superfície lunar, e uma broca perfurará a superfície. O trabalho de detecção científica será realizado simultaneamente.

As amostras serão seladas em um recipiente e recolhidas pelo veículo ascendente, que vai decolar da Lua e se acoplar ao orbitador na órbita lunar, que então trará as amostras para a Terra, pousando na Região Autônoma da Mongólia Interior, no norte da China. Toda a missão deve durar cerca de 53 dias, segundo a CNSA.

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Ao recuperar uma amostra de material do lado oculto da Lua, a sonda poderá testar teorias de por que o lado próximo e o lado distante do corpo celeste são tão diferentes.

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A espaçonave deve pousar no início de junho dentro da bacia de impacto Apollo, que fica dentro da bacia do Polo Sul-Aitken (SPA), a maior cratera de impacto de seu tipo no Sistema Solar, abrangendo 2.400 por 2.050 km de área.

Bacia do Polo Sul-Aitken. Crédito: NASA Goddard

A característica foi formada há cerca de 4,3 bilhões de anos, bem no início da história do Sistema Solar. Um pouco mais jovem, Apollo ostenta uma estrutura de anel duplo, com o anel interno de picos de montanha com um diâmetro de 247 km e um anel externo de cerca de 492 km de diâmetro.

De acordo com a CNSA, a sonda Chang’e-6 visa trazer à Terra cerca de dois quilos de material lunar. 

O mistério em torno do outro lado da Lua é reforçado pelo fato de que não podemos vê-lo da Terra. Essa face oculta só foi fotografada pela primeira vez pela sonda soviética Luna 3, em 1959. Com a imagem em mãos, cientistas de todo o mundo ficaram surpresos ao saber como o lado distante é diferente do lado com o qual estamos familiarizados. 

Ambos ostentam uma infinidade de crateras, mas o lado próximo também exibe vastas planícies vulcânicas chamadas mares lunares, que cobrem algo como 31% de toda a área dessa face. Enquanto isso, o lado oposto é apenas cerca de 1% coberto por planícies vulcânicas.

Então, como o lado próximo e o lado distante passaram a ser tão diferentes? É possível que  a espessura da crosta seja um fator. Em 2011, a missão GRAIL (sigla em inglês para Laboratório de Recuperação Gravitacional e Interior), da NASA, descobriu que, em média, a crosta do lado distante é 20 km mais grossa do que a do lado próximo.

Acredita-se que a origem disso esteja no momento em que a Lua foi formada a partir de detritos ejetados quando um protoplaneta do tamanho de Marte chamado Theia atingiu a Terra há cerca de 4,5 bilhões de anos. 

À medida que a Lua se aglutinava dos destroços em torno de uma Terra ferida, ela ficava presa às marés, o que significa que mostraria sempre a mesma face ao nosso planeta. A superfície da Terra ficou completamente derretida pelo impacto gigante e irradiou calor para o lado próximo da Lua. A rocha teria vaporizado no lado próximo e se condensado no lado mais frio, sugerem os cientistas, o que tornou a crosta do lado distante mais espessa.

“A descoberta fundamental indica que a discrepância de espessura da crosta entre o lado próximo e o lado distante pode ser a principal causa do vulcanismo assimétrico lunar”, disse Yuqi Qian, da Universidade de Hong Kong, em um comunicado.

Qian é um dos principais autores de um novo estudo que sugere que o material de amostra a ser trazido de volta à Terra pela Chang’e-6 poderia testar essa e outras teorias, como a do intenso vulcanismo.

Algumas evidências apontam que tenha havido duas grandes erupções vulcânicas na região. O novo estudo sugere que a análise das amostras coletadas pode revelar a composição química do magma do lado distante.

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Ao que tudo indica, um quinto elemento surpresa também está a bordo da missão. Observadores atentos perceberam a presença de um rover amarrado na lateral do módulo de pouso que está programado para descer à superfície da Lua no próximo mês. De acordo com o site Live Science, o propósito do equipamento permanece desconhecido.

Após a Academia de Tecnologia Espacial da China (CAST) divulgar novas fotos do módulo de pouso, foi possível notar um pequeno objeto cinza com rodas amarradas na lateral.

Embora não tenha sido revelado qualquer informação sobre o rover, uma declaração traduzida subsequente do Instituto de Cerâmica de Xangai, que forneceu vários componentes para a missão Chang’e 6, revelou que ele tem um espectrômetro de imagem infravermelha. Saiba mais aqui.