Foguete Ariane 6 está prestes a inaugurar uma nova era na exploração espacial

O lançamento inaugural do foguete europeu Ariane 6 será um marco comemorado dentro e fora da Europa – afinal, há muito em jogo
Flavia Correia13/05/2024 17h46
Ilustração artística do Ariane-6 (Crédito: ESA)
Ilustração artística do Ariane-6 (Crédito: ESA)
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Um grande momento para a exploração espacial está prestes a acontecer: o tão aguardado primeiro lançamento do foguete Ariane 6, da Agência Espacial Europeia (ESA).

Embora a data específica ainda não tenha sido anunciada, a expectativa é que isso ocorra entre meados de junho e o fim de julho, a partir do Espaçoporto de Kouru, na Guiana Francesa – aumentando a ansiedade dentro e fora da Europa, afinal, há muito em jogo.

O Ariane 6 representa a evolução do bem-sucedido Ariane 5, que desempenhou um papel crucial para a Europa ao longo de 27 anos. De 1996 até 2023, o veículo realizou 117 lançamentos, sendo 112 bem-sucedidos. Foi ele, por exemplo, que enviou o Telescópio Espacial James Webb (JWST) para o espaço no Natal de 2021.

Foguete Ariane 5 carregando o Telescópio Espacial James Webb posicionado na plataforma de lançamento em Kourou, Guiana Francesa, em 23 de dezembro de 2021. Crédito: ESA – S. Corvaja

Desenvolvido pela francesa Arianespace, o Ariane 6 será mais alto, porém mais leve, e cada lançamento será mais acessível em comparação ao antecessor.

“O Ariane 5 foi verdadeiramente o ‘burro de carga’ da Europa para colocar satélites pesados e médios em órbita. O Ariane 6 será mais moderno, econômico e versátil. Isso significa que teremos maior flexibilidade para colocar satélites em diferentes órbitas”, explicou Josef Aschbacher, diretor-geral da ESA, em entrevista ao site IFLScience. “Utilizamos diariamente a infraestrutura fornecida por satélites: para navegação, telecomunicações, observação da Terra e também para explorar o Universo com os satélites que lançamos ao espaço com nossos foguetes Ariane”.

Missões que aguardam o novo foguete

A ESA tem uma série de missões emocionantes programadas para o Ariane 6. Uma delas será o observatório de última geração PLATO (sigla em inglês para Trânsitos Planetários e Oscilação das Estrelas), que buscará mundos habitáveis ao redor de estrelas semelhantes ao Sol, que está programado para ser lançado em 2026. 

Uma missão relacionada, porém menor, é a Pesquisa de Deteção Atmosférica Remota Infravermelha em Exoplanetas Grandes (ARIEL, na sigla em inglês), que dedicará seu tempo ao estudo das atmosferas de cerca de mil mundos conhecidos fora do Sistema Solar, aproveitando os avanços realizados pelo Webb.

O ARIEL tem lançamento previsto para 2029, juntamente com a missão complementar Interceptor de Cometas, uma espaçonave que permanecerá estacionada no espaço, afastada da Terra. Assim que um cometa vindo dos confins do Sistema Solar (ou até mesmo um objeto interestelar) se aproximar, ela será ativada para interceptá-lo e estudar esse corpo ainda desconhecido. Uma missão verdadeiramente única.

Ensaio geral de lançamento do foguete Ariane 6, feito em setembro de 2023. Crédito:
ESA/ArianeGroup/CNES

Mais adiante, por volta de 2035, estão as missões LISA e ATHENA. Sigla para Antena Espacial de Interferômetro a Laser, LISA será o primeiro observatório de ondas gravitacionais no espaço, permitindo a medição das vibrações no espaço-tempo de maneira impossível de ser realizada na Terra (ou mesmo na Lua). 

Enquanto isso, o ATHENA, que significa Telescópio Avançado para Astrofísica de Alta Energia, será superior aos atuais observatórios de raios-X, como o Chandra, da NASA, prometendo 10 vezes mais desempenho. 

O Ariane 6 está programado para realizar mais lançamentos do que seu antecessor. Aschbacher ressaltou como isso garantirá o acesso ao espaço de forma mais rotineira.

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Ariane 6 vai levar pessoas ao espaço?

Durante a Cúpula Espacial realizada em novembro passado entre a União Europeia e a ESA, foi estabelecido um cronograma para ter um veículo de carga reutilizável operacional até 2028, destinado a transportar carga de e para a Estação Espacial Internacional (ISS) – um veículo que, após demonstrar sua segurança e confiabilidade, poderia evoluir para uma versão tripulada.

“Atualmente, não possuímos essa capacidade na Europa. Esse veículo é algo que realmente necessitamos e gostaríamos de desenvolver, representando um passo significativo na exploração espacial. Após alguns voos bem-sucedidos, garantindo confiabilidade e desempenho, poderíamos então avançar para um veículo tripulado. Isso impactaria diretamente os astronautas, é claro”, explicou Aschbacher, salientando que a realização desse sonho depende das decisões e financiamento dentro da ESA.

“Isso ainda não está definido, é importante ressaltar. Para que isso se torne realidade, são necessárias as decisões dos Estados-membros”, observou. “Dependendo de como as coisas se desenrolam, o Ariane 6 também poderá ser responsável pelo lançamento dessa carga, ou possivelmente até do veículo tripulado ao espaço. Ainda não chegamos lá, mas esse é o caminho que esperamos para o desenvolvimento futuro do Ariane 6”.

O Ariane 6 será disponibilizado em duas variantes: a 62 (com dois reforços) e a 64 (com quatro reforços). Ambas serão utilizadas para enviar cargas para órbita terrestre baixa, órbita de transferência geossíncrona e além. Graças ao novo motor Vinci, que equipará o estágio superior do foguete e é reiniciável, satélites ou cargas úteis poderão ser colocados em qualquer órbita necessária.

No cenário do acesso comercial ao espaço, muitas análises foram feitas comparando o Ariane 6 (que é descartável) aos foguetes Falcon 9 e Falcon Heavy da SpaceX (reutilizáveis). Embora a ESA tenha conseguido os custos significativamente em relação ao Ariane 5, os lançamentos Falcon geralmente são mais vantajosos financeiramente.

A vantagem do Ariane 6 pode estar na capacidade de carga útil. O Falcon Heavy supera o Ariane 64 em termos de carga útil em sua variação dispensável, que é mais caro. A versão reutilizável precisa levar em conta o combustível para trazer de volta com segurança os foguetes e o propulsor, e isso consome a capacidade de carga útil. Um foguete precisa gerar impulso suficiente para levantar a si mesmo, seu combustível e toda a carga útil.

Embora o lançamento iminente represente uma mudança significativa no acesso ao espaço para a Europa, a ESA já está focada em encontrar um sucessor reutilizável para o Ariane 6, visando redução de custos e maior versatilidade para a indústria e a sociedade em geral. 

Flavia Correia
Redator(a)

Jornalista formada pela Unitau (Taubaté-SP), com Especialização em Gramática. Já foi assessora parlamentar, agente de licitações e freelancer da revista Veja e do antigo site OiLondres, na Inglaterra.