Uma tempestade solar que encheu os céus da Terra com cortinas de luz cintilantes há alguns dias foi tão intensa que gerou impactos até no fundo do oceano

Bússolas magnéticas usadas pela Ocean Networks Canada (ONC) para monitorar o oceano na costa canadense registraram uma significativa distorção no campo magnético da Terra, devido a um enorme influxo de partículas ejetadas do Sol.

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Essa medição não só enfatiza a força daquela tempestade solar ocorrida em 10 de maio, como também oferece dados valiosos por diversas razões. Primeiro, porque agora temos uma referência para identificar distúrbios semelhantes durante futuras tempestades solares. E, também, porque esses dados podem ajudar os cientistas a compreender como a Terra é afetada por esses eventos do Sol.

Aurora austral registrada em em Ushuaia, na Argentina, no domingo (12), deixando o céu noturno cor de rosa e vermelho em razão da tempestade geomagnética extrema. Crédito: Reprodução X (Twitter)

“Os próximos dois anos serão o pico do atual ciclo solar de 11 anos. Depois de uma década de relativa inatividade, eventos de aurora como este recente provavelmente se tornarão mais frequentes nos próximos dois anos, embora a variabilidade solar impossibilite a previsão precisa de tais eventos”, disse o físico Justin Albert, da Universidade de Victoria, no Canadá. “A rede da ONC pode fornecer uma janela adicional muito útil para os efeitos da atividade solar no magnetismo terrestre da Terra”.

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O que é uma tempestade solar?

As tempestades solares são eventos que têm forte impacto na Terra. Elas ocorrem quando uma erupção na superfície do Sol ejeta bilhões de toneladas de material entrelaçado com campos magnéticos em alta velocidade no Sistema Solar. Quando essa chamada ejeção de massa coronal (CME) chega à Terra, as partículas interagem com o campo magnético do planeta, acelerando até serem despejadas na atmosfera, sob forma de tempestades geomagnéticas, causando a ocorrência de auroras.

Material ejetado pelo Sol em direção à Terra pode penetrar no campo magnético do planeta causando perturbações. Crédito: koya979 – Shutterstock

Além desses belíssimos espetáculos de luzes, essas interações geram correntes elétricas que podem causar surtos e interrupções na rede elétrica. Elas também podem provocar falhas em sistemas de navegação, comunicação e rádio, além de afetar aeronaves e satélites próximos à Terra.

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Ultimamente, o Sol tem estado particularmente ativo, enquanto se aproxima do máximo solar, o pico de atividade dentro do atual ciclo solar de 11 anos. 

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Distúrbios no campo magnético da Terra medidos no fundo do oceano

A ONC opera observatórios submarinos nas costas leste e oeste do Canadá, a profundidades de até 2,7 quilômetros. As bússolas são usadas principalmente para orientar os perfiladores acústicos de correntes de Doppler (ADCP) dos observatórios, que monitoram as mudanças nas correntes oceânicas. Seus dados são verificados diariamente para garantir a qualidade.

Em março, o especialista da ONC, Alex Slonimer, notou algo estranho nos dados das bússolas durante algumas tempestades geomagnéticas. “Eu analisei se era potencialmente um terremoto, mas isso não fazia sentido porque as mudanças nos dados estavam durando muito tempo e simultaneamente em locais diferentes”, disse Slonimer. “Então, eu considerei a possibilidade de uma erupção solar, já que o sol estava ativo recentemente”.

Isso parecia fazer sentido, então decidiram monitorar mais de perto. E quando a mais poderosa atividade solar emergiu, os dados das bússolas novamente registraram distúrbios. O efeito mais pronunciado foi em uma bússola a 25 metros abaixo do nível do mar, na costa da Ilha de Vancouver, na Passagem Folger. Lá, a agulha inclinou-se até +30 e -30 graus.

Essa observação pode se tornar uma ferramenta valiosa para entender como as explosões solares afetam nosso planeta. “O alcance desses registros de dados quilômetros sob a superfície do oceano destaca a magnitude da erupção solar naquele fim de semana e sugere que os dados podem ser úteis para entender melhor a extensão geográfica e a intensidade dessas tempestades”, disse a presidente da ONC, Kate Moran.

Portanto, as medições das bússolas submarinas da ONC revelam a impressionante força das tempestades solares, além de oferecerem um novo recurso para estudar e combater os efeitos dessas tempestades geomagnéticas na Terra.