Conheça a “cachoeira de sangue” da Antártica e descubra por que ela é vermelha

Quem descobriu a "cachoeira de sangue" na Antártica atribuiu a vermelhidão à presença de algas desta cor – mas a explicação parece ser outra
Flavia Correia07/06/2024 12h11
Blood_FallS-1920x1080
A "cachoeira de sangue" do leste da Antártica acaba de ganhar nova explicação. Crédito: National Science Foundation/Peter Rejcek
Compartilhe esta matéria
Ícone Whatsapp Ícone Whatsapp Ícone X (Tweeter) Ícone Facebook Ícone Linkedin Ícone Telegram Ícone Email

Na Antártica Oriental existe um fenômeno apelidado de “cachoeira de sangue”, que apresenta águas vermelhas que fluem esporadicamente de fissuras na Geleira Taylor e no Lago Bonney, se destacando em meio a tanto branco na paisagem.

O geógrafo, antropólogo e explorador Thomas Griffith Taylor documentou as quedas pela primeira vez em 1911, durante a expedição Terra Nova – batizando com seu nome tanto a geleira quanto o Vale Taylor, de onde as águas rúbeas fluem. 

“Cachoeira de sangue” na Geleira Taylor, Antártica. Para escala, há duas pessoas próximas ao fenômeno (observe os dois pontos vermelhos em frente à queda d’água). Crédito: Jill Mikucki/Sociedade de Biologia Integrativa e Comparada

Taylor atribuiu a vermelhidão da água à presença de algas desta cor, mas com o decorrer dos anos descobriu-se que não é esta a verdadeira causa. Uma nova pesquisa agora mostra que a cachoeira é assim porque é rica em ferro, que reage com oxigênio no ar quando a água emerge da geleira, deixando-a de uma cor carmesim.

Leia mais:

Cachoeira de sangue na Antártica verte água salgada

Ao contrário da água de degelo da própria geleira Taylor, a água da Blood Falls (cachoeira de sangue) é salgada, apontando para uma fonte de salmoura dentro da geleira. Em 2017, os mesmos pesquisadores descobriram o “coração” escondido da cachoeira a cerca de 400 metros abaixo do gelo e a 90 metros da cachoeira vermelho-sangue. 

Não se sabe o tamanho do reservatório, mas os pesquisadores acreditam que ele se formou quando a antiga água do mar inundou os vales secos de McMurdo (uma fileira de vales em grande parte sem neve que inclui o Vale Taylor) antes que a geleira Taylor congelasse. O momento dessa inundação não é claro, com estimativas variando entre 5,5 milhões e 20 mil anos atrás.

A água que verte da cachoeira é salgada. Crédito: Earth Surface/AGU

O estudo de 2017 também revelou que a água no reservatório é líquida, embora a geleira atinja temperaturas bem abaixo de zero. Isso é possível porque a água libera calor à medida que congela, aquecendo a área circundante, e porque a água salgada requer temperaturas mais baixas para congelar do que a água doce.

“A geleira Taylor é a geleira mais fria conhecida a ter água fluindo persistentemente”, disse a autora principal do estudo, Erin Pettit, professora da Faculdade de Ciências da Terra, Oceano e Atmosféricas da Universidade Estadual do Oregon, em um comunicado na época.

A água é descarregada na cachoeira de sangue eventualmente, e não continuamente – algo até agora inexplicável.

Flavia Correia
Redator(a)

Jornalista formada pela Unitau (Taubaté-SP), com Especialização em Gramática. Já foi assessora parlamentar, agente de licitações e freelancer da revista Veja e do antigo site OiLondres, na Inglaterra.