Menor espécie humana já identificada, o Homo floresiensis, apelidado de “hobbit” pela sua baixa estatura, pode ter evoluído de indivíduos menores ainda. É o que diz um artigo publicado nesta terça-feira (6) na revista Nature Communications.

Em 2013, foi encontrado um fragmento de úmero adulto com 700 mil anos na ilha indonésia de Flores, que agora foi identificado como pertencente a essa espécie. Esse pedaço de osso, menor do que qualquer outro já registrado de hominídeos, amplia nosso entendimento sobre esses pequenos humanos que coexistiram conosco até cerca de 50 mil anos atrás.

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A descoberta ocorreu no lado leste da ilha de Flores, em um sítio arqueológico conhecido como Mata Menge, onde também foram encontrados dentes pequenos que contribuíram para essa identificação. Segundo o arqueólogo Adam Brumm, da Universidade Griffith, na Austrália, o úmero encontrado não é apenas mais curto que o de outros H. floresiensis, mas é também o menor osso do braço já registrado em hominídeos no mundo todo.

Úmero descoberto em Mata Menge (de “a” a “g”), em diferentes ângulos. O espécime de úmero encontrado em Liang Bua é mostrado em varreduras rotuladas (“h” e “i”), para comparação. Crédito: Kaifu et al., Nature Communications, 2024

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Inicialmente, os cientistas consideraram a possibilidade de o osso pertencer a uma criança, mas uma análise detalhada revelou que se trata de um adulto. Isso foi determinado por meio do estudo de ósteons, que são estruturas microscópicas cilíndricas presentes na superfície dos ossos e que mudam de tamanho, número e disposição à medida que a pessoa envelhece. A estrutura microscópica do úmero era semelhante à de um Homo sapiens adulto, sugerindo que o indivíduo a que pertenceu tinha aproximadamente um metro de altura.

Isolamento na ilha teria tornado tão pequenos esses ancestrais de “hobbit” 

A primeira evidência da existência do H. floresiensis foi encontrada em 2003, na caverna Liang Bua, no oeste de Flores. Com base no comprimento do fêmur, estimou-se que o esqueleto encontrado naquela ocasião pertencia a um indivíduo com cerca de 1,06 m de altura, ligeiramente mais alto do que o recém-descrito de Mata Menge. “Este espécime raro confirma a hipótese de que os ancestrais do Homo floresiensis eram extremamente pequenos em tamanho corporal. Agora, porém, sabemos que esses primeiros progenitores eram ainda menores do que se pensava”, disse Brumm em um comunicado.

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Conforme dito anteriormente, além do úmero, escavações realizadas em 2015 e 2016 revelaram dois dentes muito pequenos, um pertencente a um adulto e outro a uma criança. A forma desses dentes reforça a ideia de que o H. floresiensis descende de uma população de Homo erectus que viveu em Java, contrariando a hipótese de que essa espécie se separou de um antecessor africano.

Os “dentes de hobbit” encontrados em Mata Menge. Crédito: Kaifu et al., Nature Communications, 2024

“A história evolutiva dos hominídeos de Flores ainda é muito desconhecida”, afirma Brumm, que acredita que a espécie pode ter surgido quando um grupo de Homo erectus se isolou na ilha há cerca de um milhão de anos, resultando em uma drástica redução no tamanho corporal ao longo do tempo. 

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Embora os habitantes atuais das terras altas de Flores, conhecidos como Rampasasa, também sejam pequenos, um estudo genético de 2018 não encontrou ligação direta com o H. floresiensis.