Estabelecer colônias humanas permanentes em Marte é algo que vai exigir soluções inovadoras, já que o ambiente atual do Planeta Vermelho não é favorável à sobrevivência. 

Entre os desafios mais críticos está o clima. Com temperaturas médias em torno de -64ºC, Marte é frio demais para abrigar vida humana confortavelmente. Para terraformar o planeta e torná-lo habitável, é necessário aquecer sua superfície – e cientistas afirmam ter encontrado uma maneira de fazer isso de forma significativamente mais eficiente.

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Em um artigo publicado quarta-feira (7) na revista Science Advances, uma equipe liderada pela engenheira elétrica Samaneh Ansari, da Universidade Northwestern, nos EUA, propôs uma técnica que pode aquecer Marte utilizando hastes metálicas nanoscópicas liberadas na atmosfera para criar e manter um efeito estufa. Como se fossem “bombas de glitter”. 

Representação artística do processo de terraformação de Marte. Crédito: Daein Ballard / Wikimedia Commons, CC BY-SA 3.0

De acordo com o geofísico Edwin Kite, da Universidade de Chicago, coautor do estudo, essa abordagem seria 5.000 vezes mais eficiente do que outras estratégias previamente sugeridas. “O aquecimento de Marte para permitir a presença de água líquida pode ser mais viável do que pensávamos”.

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Em um comunicado, ele explica que a liberação dessas pequenas partículas metálicas na atmosfera marciana poderia ajudar a reter o calor do Sol, aumentando gradualmente a temperatura do planeta.

Marte não é capaz de produzir gases de efeito estufa em quantidade suficiente

Na Terra, o aumento do efeito estufa é algo que ocorre com bastante facilidade. A atmosfera se enche de gases como dióxido de carbono e metano, que aprisionam o calor emitido pela superfície, dificultando sua dissipação para o espaço e provocando o aumento das temperaturas.

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Se conseguíssemos enriquecer a fina atmosfera de Marte com esses gases de efeito estufa, conforme sugerido em propostas anteriores, o aquecimento resultante poderia elevar a temperatura local a um nível que permitisse a sobrevivência de organismos fotossintéticos.

O problema é que Marte possui poucos recursos naturais para gerar esses gases em quantidade suficiente, o que tornaria a operação cara e complicada, uma vez que seria necessário importar esses elementos da Terra ou extraí-los de forma limitada do solo marciano.

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A nova estratégia propõe aproveitar os minerais metálicos já presentes no solo superficial de Marte, como alumínio e ferro. Essas partículas de metal, ao serem liberadas na atmosfera, funcionariam de maneira semelhante às emissões de carbono na Terra, capturando a luz solar e aquecendo o planeta.

Diagrama ilusta o método proposto pela equipe de terraformar Marte. Crédito: Ansari et al., Sci. Adv., 2024

Ansari e sua equipe criaram modelos para calcular a eficiência dessas hastes metálicas, que teriam aproximadamente o tamanho das partículas de poeira já presentes em Marte. A pesquisa mostrou que a liberação contínua dessas nanopartículas metálicas na atmosfera poderia resultar em um aumento gradual da temperatura, derretendo o gelo da superfície e elevando a pressão atmosférica à medida que o dióxido de carbono se sublimasse das calotas polares.

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Segundo a pesquisa, o processo de aquecimento levaria algumas décadas, mas poderia elevar a temperatura de Marte em mais de 28ºC, tornando o clima do planeta mais adequado para formas de vida microbianas fotossintéticas – um passo crucial em direção à terraformação do nosso vizinho.

Apesar dos avanços promissores, ainda existem desafios a serem superados. Não está claro quanto tempo as nanopartículas permaneceriam na atmosfera de Marte, que, sem um campo magnético global, tende a vazar para o espaço. Além disso, as partículas metálicas poderiam se combinar com vapor d’água e cair de volta à superfície como chuva, o que diminuiria a eficácia do efeito estufa.

Mesmo assim, Kite ressalta que “essa pesquisa abre novos caminhos para a exploração espacial e pode nos aproximar do sonho de estabelecer uma presença humana sustentável em Marte”.