Um estudo recém-publicado na revista Nature Communications aponta que os sistemas de defesa imunológica encontrados em todos os seres vivos têm suas raízes em um único microrganismo antigo, da espécie Asgard archaea – as arqueias de Asgard. 

Essa descoberta sugere que há cerca de dois bilhões de anos, as proteínas de defesa antivirais desses micróbios foram herdadas pelos ancestrais de organismos multicelulares.

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Visão microscópica de uma arqueia. Crédito: AofTimusz – Shutterstock

Pedro Lopes Leão, microbiologista brasileiro que é pesquisador da Universidade Radboud, na Holanda, explicou ao site Live Science a importância das Asgard archaea na evolução das defesas celulares. “Este estudo mostra que, se quisermos entender as origens do nosso sistema imunológico, precisamos incluir archaea, especialmente Asgard archaea, na discussão”.

A árvore da vida é dividida em três domínios principais: 

  • Domínio Bacteria (ou Eubacteria), que inclui bactérias; 
  • Domínio Archaea, anteriormente chamado Archaebacteria, que inclui os procariontes que não recaem na classificação anterior; 
  • Domínio Eukarya, que inclui todos os eucariontes, os seres vivos compostos por células com um núcleo celular organizado.

Segundo Lopes Leão, os Asgard archaea, identificados pela primeira vez em 2015 em fontes hidrotermais no Ártico, revelaram a conexão entre bactérias e eucariontes, preenchendo uma lacuna na compreensão da evolução da vida complexa. Estudos subsequentes sugeriram que todos os eucariontes derivam delas.

Os Asgard archaea foram identificados pela primeira vez em 2015 em fontes hidrotermais no Ártico como esta acima. Crédito: Instituto Alfred Wegener

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Cientistas analisaram milhares de genomas para identificar sistemas de defesa viral

A equipe liderada por Brett Baker, professor associado da Universidade do Texas em Austin, nos EUA, examinou milhares de genomas para identificar sistemas de defesa viral, focando em genes que codificam duas classes de proteínas: viperinas e argonautas. 

Essas proteínas são cruciais na defesa contra vírus, com as viperinas atuando no sistema imunológico de primeira linha dos humanos e os argonautas presentes em plantas.

Os pesquisadores descobriram que os genes para viperinas e argonautas são mais semelhantes entre arqueias e eucariontes do que entre bactérias e os outros dois domínios. 

Especificamente, os sítios catalíticos dessas proteínas, responsáveis por suas funções, mudaram pouco ao longo de dois bilhões de anos, indicando que essas proteínas continuam a desempenhar funções essenciais.